quinta-feira, 19 de março de 2009
A COMPREENSÃO DA HISTÓRIA FAZ-SE POR ASSOCIAÇÕES DE MEMÓRIAS
Podia hoje, 19 de Março, falar-vos do "Dia do Pai", ou seja, do dia que a igreja consagra a S. José, patrono dos trabalhadores, o bom e honesto carpinteiro de Nazareth que foi pai de Cristo sem o haver concebido.
Podia também associar a data ao lançamento, em 1882, da primeira pedra para a construção da "Sagrada Família", em Barcelona, cujo projecto tomou uma dimensão inesperada com a entrada de Antoni Gaudí, um jovem arquitecto visionário, arrojado, que o traçou e que nunca se completou. Maravilhosa obra inacabada, aberta!
E com Gaudí, chegaria facilmente ao nascimento de um dos últimos movimentos artísticos verdadeiramente pan-europeus, L'ART-NOUVEAU, no derradeiro decénio dos Séc.XIX
Então, poderia falar-vos desta arte próxima da Natureza, repleta de felicidade e de alegria, suave, aprazível, um pouco burguesa, que foi o último vento de optimismo a soprar sobre a Europa da Belle Époque de finais do séc XIX e princípios do século em que nós, os adultos de hoje, nascemos. E à memória saltar-me-ia, entre muitos outros, a figura de um homem, Alfons Mucha, um checo natural da Morávia que se voltou para as vizinhas Áustria e Alemanha, França depois, onde trabalhou e criou os mais belos cartazes para as reprentações teatrais, ou outras, das grandes figuras da época.
Sarah Bernhardt era na altura um dos mais conceituados nomes de cartaz no teatro.
Um dia, o telefone tocou em casa de um impressor parisiense chamado Lemercier. Esse toque viria a originar precisamente o lançamento da ART NOUVEAU.
A actriz necessitava com urgência de cartazes para o seu novo espectáculo no "Théâtre de la Renaissance": GISMONDA.
Lemercier ficou em pânico, os seus habituais desenhadores preparavam em família as festas de Natal mas, felizmente, um jovem de 30 e poucos anos corrigia provas no atelier e ofereceu-se para a tarefa. Era Mucha, que depois de completar estudos em Munique se havia instalado em Paris.
Assim, desde o romper do dia 1º de Janeiro de 1895, Paris cobriu-se de cartazes anunciando «Gismonda» e Sarah Bernhardt, satisfeita com o trabalho de Mucha, estabeleceu com ele um contrato de exclusividade por 6 anos. Foi o princípio da fama e da riqueza do jovem checo.
Metro na Place des Abbesses, onde chega quem vai depois subir para Montmartre. Uma obra de Hector Guimard.
A pintura, a arquitectura, a decoração, passaram a espalhar os ideais deste movimento por toda a Europa.
Em Paris, além de Alfons Mucha, outros artistas se destacaram na ilustração, como o arquitecto Hector Guimard, que ficou célebre pelas suas entradas do METRO, ainda hoje únicas e perfeitamente reconhecíveis por quem passeia por Paris.
Na Catalunha, claro, Gaudí era o maior expoente. E na Áustria, só a título de exemplo, surgiu o pintor Gustav Klimt.
Não duraria muitos anos esta nova expressão artística. Por volta de 1908, deu-se o declínio, o apagamento. Começou-se a criticar as linhas suaves da Art Nouveau e da sua excrescência, a depreciativamente conhecida por "ARTE MACARRÃO".
Os artistas regressaram brutalmente às linhas direitas, angulosas. Era o "CUBISMO" a dominar as tendências artísticas, desenhavam-se os primórdios do abstraccionismo.
Dir-se-á que a Arte, desumanizando-se, afastando-se da Natureza, prefigurou os horrores da Grande Guerra, pondo fim à BELLE ÉPOQUE.
E haveria ainda tanto mais a recordar, ligado a um dia 19 de Março...
Publicação nº 705 de "O SINO DA ALDEIA" - Jorge P.G.Etiquetas: Belle Époque, finais séc.XIX, L'art Nouveau, virar do século
Sino tocado em
março 19, 2009 -
44 comentários
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