Trago hoje ao "SINO da ALDEIA" um autor de gravuras e pintor não muito conhecido, talvez, de quem por aqui passa.
Trata-se de Kitagawa Utamaro , que terá nascido por volta de 1753, em local desconhecido do Japão(Edo, Quioto, Osaka, uma pequena cidade provincial?). O seu nome original era Kitagawa Ichitaro, que modificou para Ichitaro Yusuke quando chegou à idade adulta, hábito comum no Japão de então. Só em 1781 adoptou o apelido Utamaro, começando então a produzir gravuras com retratos femininos, e pouco depois, provavelmente em 1783, juntou-se ao editor Tsutaya Juzaburo, tornando-se o principal artista do atelier dirigido por este. A sua produção de gravuras parece ter sido esporádica, dedicando-se sobretudo a ilustrar livros de kyoka (ou "poesia louca", uma paródia de formas poéticas clássicas ).
Considerado um dos grandes nomes da arte Ukiyo-e, é basicamente conhecido pelos seus retratos de belas mulheres, ou bijin-ga.
A estampa, plena de ternura, que podemos ver a seguir representa uma cortesã com o seu filho.
Cortesã com o filho contemplando-se num lavatório, 1798
Utamaro habitava então, como os seus companheiros, perto do "bairro dos prazeres" de Yoshiwara, em Edo(actual Tóquio), e os burgueses da capital imperial compravam-lhe recordações dos bons momentos de prazer junto das cortesãs.
Nos sécs. XVII e XVIII, a sociedade japonesa viveu um longo período de paz e de relativa prosperidade, afastada do resto do mundo, sob a égide da família Tokugawa.
Os chefes desta família dirigiam o império com o título de shogun (governador de palácio), não restando muito mais ao imperador do que uma função simbólica.
Os grandes senhores feudais viviam na capital, junto do shogun, e as suas despesas faziam a fortuna da burguesia, a qual cultivava uma arte de viver airada e frívola, onde o tempo escorria sem quase se dar por isso.
Ora, este "shogunato" veio a permanecer na família dos Tokugawa até à sua abolição em 1867 pelo Imperador Meiji.
Esta longa época de dois séculos e meio, caracterizada por uma estabilidade e prosperidade relativas, como já atrás referi, ficou conhecida como "o período de Edo", ilustrado por grandes artistas como Utamaro ou Hokuzai, e marcou a transição da Idade Média japonesa para a Era Moderna.
Muito desconfiados do Ocidente, os Tokugawa interditaram todas as deslocações ao estrangeiro e expulsaram os europeus, apenas tolerando alguns comerciantes holandeses da Companhia das Índias Orientais na ilhota de Dejima, em Nagasaki.
Prostituta, de 1794
Foi, pois, nesta sociedade que viveu e trabalhou Utamaro que em 1791 parece ter abandonado a ilustração de livros, voltando-se para a produção de gravuras com retratos isolados de mulheres, o que o distingue da produção então maioritariamente em voga de grupos de mulheres. E foi a partir dessa altura, em particular a partir de 1793 e ao mesmo tempo que se separava do editor Tsutaya Juzaburo, que parece ter atingido o maior sucesso na carreira com a produção das suas séries mais famosas, dedicadas ao retrato feminino, embora também produzisse estudos da natureza e shunga(gravuras eróticas).
Em 1797, terá ficado muito afectado pela morte de Tsutaya Juzaburo, o que se reflectiu na sua capacidade criadora e, em 1804, enfrentou graves problemas com as autoridades devido a algumas das suas gravuras, consideradas ofensivas da dignidade do Shogunato. Estes problemas levaram-no à prisão e condenação a 50 dias agrilhoado.
Destroçado por estes últimos acontecimentos, faleceu em 1806 com 53 anos apenas, deixando uma obra com cerca de duas mil pinturas e gravuras nas quais a ternura dos traços, das formas e das cores está sempre presente.
Fontes: várias
Texto: Jorge P.G.
Publicação nº 702 de "O SINO DA ALDEIA" - Jorge P.G.
Etiquetas: gravura, Kitagawa Utamaro, pintura