segunda-feira, 2 de junho de 2008
UMA GRANDE E ESQUECIDA TRAGÉDIA MARÍTIMA
Foi no mar Báltico que, no dia 30 de Janeiro de 1945, se chorou uma das maiores catástrofes marítimas da História, senão mesmo a maior delas, e que provocou cerca de 10 mil vítimas. Na Suiça, um alemão chamado Wilhelm Gustloff tinha sido levado à chefia do Partido nazi local, após as suas demonstrações de enorme zelo anti-semita, tendo sido morto em 1936, na localidade de Davos, por um jovem activista judeu, David Frankfurter. Hitler decidiu, então, baptizar com o seu nome, Wilhelm Gustloff, um navio que estava a ser construído e em fase de acabamentos.
O Wilhelm Gustloff no cais de Gotenhafen
O «Wilhelm Gustloff» foi lançado à água a 7 de Maio de 1937 na presença da viúva do herói e de Adolf Hitler.
Tratava-se de um paquete de cruzeiro de grandes dimensões(208x24metros), concebido para o transporte de 1865 pessoas, e sem classe de luxo, contrariamente aos hábitos da época. Até finais dos anos 30 fez vários cruzeiros, constituindo um orgulho para a Alemanha nazi.
Após a declaração de guerra de 1939, foi transformado em navio-hospital e serviu para o repatriamento dos feridos da campanha da Noruega de 1940. De seguida, foi atracado ao cais do porto de Gothenhafen(Prússia oriental), onde o utilizaram desde então como caserna flutuante.
No começo do ano de 1945, raros eram aqueles que alimentavam ainda ilusões sobre o andamento da guerra. Na Alemanha oriental, uma multidão de refugiados civis e militares fugia do avanço dos exércitos soviéticos. Muitos deles haviam sido colocados a bordo do paquete que levantou âncora do porto de Gotenhafen na manhã de 30 de Janeiro. Esperavam poder atingir Hamburg, ainda liberto de qualquer ocupação. Da lista oficial constavam 6 050 pessoas a bordo: membros da tripulação, soldados e refugiados. No entanto, este número era bastante superior, passando mesmo das 8 000 pessoas e, segundo recentes pesquisas de Heinz Schon, este avançou mesmo com a soma de 10 050 passageiros! Passageiros do paquete num cruzeiro em 1938
Os submarinos russos estavam assinalados desde a primeira noite. Três deles foram localizados e considerados como sendo «sem risco». Um quarto, o S-13, sob o comando de Alexander Marinesko, ficara no raio de Turku, na Finlândia, sem se juntar à sua esquadra. O comandante era tido como homem difícil de controlar, levado pelo vodka e pelas mulheres.
Após alguns dias de patrulha, lançou cabo em Leninegrado, avançando a informação de que tinham "cruzado as águas próximas do covil fascista, mas nenhum dos seus cães ousou mostrar-se".
No navio, na noite de 30 de Janeiro, um marinheiro surgiu com uma mensagem via-rádio na qual se informava que uma formação de draga-minas fazia rota na direcção do Wilhelm Gustloff. Imediatamente o comandante ordenou que se acendessem fogos de posição para evitar uma colisão - sendo que, na realidade, os obstáculos assinalados não existiam.
Por infelicidade para o paquete, o submarino S-13 encontrava-se na altura em patrulhamento a poucas milhas do local e o seu oficial-de-dia logo assinalou a presença dessa inesperada proa. Marinesko fez armar quatro torpedos chamados «Pela mãe-pátria», «Por Staline», «Pelo povo soviético» e «Por Estalinegrado».
Dois dos torpedos, pelo menos, atingiram a casa das máquinas e em menos de uma hora o orgulhoso paquete dos nazis foi inundado, ocasionando o pânico geral.
Segundo o testemunho de Ursula Resas, as mulheres abandonavam os filhos para escaparem mais rapidamente e os marinheiros, de pistola em punho, reservavam o acesso às escadas para os escaleres de salvação às mulheres e crianças.
O mecânico Johann Smrczek tinha atingido a ponte superior fazendo escalada sobre os feridos da frente oriental. "Foi lá que me dei conta do drama que se desenrolava na parte de baixo. Através dos vidros blindados, não conseguia ouvi-los gritar, mas as pessoas estavam apertadas como sardinhas em lata e a coberta inferior inundada já de água até meio. E vi clarões de tiros, matando os oficiais as suas próprias famílias." - afirmaria depois o mecânico. 996 sobreviventes foram recolhidos por navios que acorreram à tentativa de salvamento.
Esta catástrofe de amplitude sem precedentes foi mantida numa quase ignorância, no meio de tantas outras tragédias vividas pelos refugiados alemães da Europa central e oriental nessa época.
Para além disso, o extermínio dos Judeus, tornado público na mesma altura, fez tornar quase ridícula, por comparação, qualquer referência aos sofrimentos dos alemães dentro do seu próprio país. Mas eles aconteceram, também.
Fontes e Fotos: - Grass, Günther - "Im Krebsgang" (Steidl Verlag, Gengen 2002). - Vital-Durand, G. - "Le torpillage du Wilhelm Gustloff"
- Adaptação de Jorge P.G.
Publicação nº 587 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G.
Sino tocado em
junho 02, 2008 -
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