O assessor do PM dirigiu-se discretamente até junto dos refastelados homens de negócios que viajavam a bordo do Airbus-Tap com a comitiva de S.Exª o Primeiro Ministro :
- Os senhores importam-se que Sua Excelência fume?
Logo se ouviu um coro uníssono: NÃO! Era o que mais faltava! Então as leis não são iguais para todos, ora essa!
Então, retirando-se, o assessor diligente aproximou-se do seu Senhor Primeiro Ministro, segredando-lhe algo como :
- Levou uma nega, Senhor Primeiro Ministro. Mas deixe que eu falo com o comandante, sem o seu cigarrinho é que V.Exª não ficará, e logo depois de jantar tão agradável e saboroso! Eu cuido do assunto, se me permitir.
E assim foi. Da assistente de bordo, o assessor passou à chefe de cabina, que o levou junto do co-piloto, que por sua vez alertou o comandante. Este, desagradado, mas porque se tratava de um desejo do senhor Primeiro Ministro afirmou:
- Olha, eles que fumem, mas ao menos que o façam aqui junto do cockpit, mas sem cá entrarem!
A notícia foi levada rapidamente ao assessor que ainda mais velozmente a divulgou a Sua Excelência, que já ardia com o desejo por satisfazer.
De seguida, Sua Excelência voltou-se para o seu ministro que já fora apanhado a 240 km/hora numa auto-estrada sem que nada de aborrecido lhe tivesse acontecido e disse-lhe:
- Porreiro, pá, já podemos fumar, bora aí pa trás daquelas cortinas ali à frente!
A fumarada subiu nos ares e alguns empresários, boquiabertos, chegaram mesmo a dizer baixinho:
- Isto é uma pouca vergonha, mas eu venho é para fazer negócios, não para arranjar problemas!
Mais tarde, já nem eram necessárias as cortinas, pois todo o avião sabia que havia uns meninos a fumar às escondidas com a fumaça de fora e o cheirinho inconfundível a cigarro ardente.
Chegado o avião ao destino, porém, e instado pelos jornalistas, Sua Excelência reconheceu o erro, pediu desculpas e prometeu que não voltaria a fumar. JAMÉ!
Esta historinha é obra de ficção e da delirante mente do seu autor, pretendendo contar a versão para adultos daquela outra bem conhecida do Quinzinho que era muito gorducho e foi apanhado a comer a marmelada às escondidas.
Qualquer semelhança com uma história relatada nos jornais e que estes afirmam ter ocorrido com o PM de Portugal na sua viagem à Venezuela é mera coincidência. Podia lá ser verdade o PM que proibiu o fumo em recintos fechados ser apanhado a fumar num avião, fosse ele fretado ou sem frete?
É que a Lei n.º 37/2007 de 14 de Agosto É BEM CLARA, e não seria nunca S. Excª o PM a desrespeitá-la em público, apenas por a desconhecer, como relataram os órgãos de informação presentes.
A Lei n.º 37/2007 de 14 de Agosto, que todos temos de cumprir num estado de direito como o nosso, começa com a seguinte introdução:
"Aprova normas para a protecção dos cidadãos da exposição involuntária ao fumo do tabaco e medidas de redução da procura relacionadas com a dependência e a cessação do seu consumo.
A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:
..................
O seu artº 4º - Proibição de fumar em determinados locais - diz assim:
Ponto 1 — É proibido fumar:
a) "Nos locais onde estejam instalados órgãos de soberania, serviços e organismos da Administração Pública e pessoas colectivas públicas"
e o Ponto 2 do mesmo artigo reza:
2 — "É ainda proibido fumar nos veículos afectos aos transportes públicos urbanos, suburbanos e interurbanos de passageiros, bem como nos transportes rodoviários, ferroviários, aéreos, marítimos e fluviais, nos serviços expressos, turísticos e de aluguer, nos táxis, ambulâncias, veículos de transporte de doentes e teleféricos."
Nas excepções, tratadas no artº 5º, não surge qualquer referência a situações de "a pedido do cliente, se poder fumar em voos fretados", conforme argumentou a TAP dos fretes, ainda e sempre pela leitura dos jornais.
Texto de Jorge P.G.
Publicação nº 579 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G.