quinta-feira, 22 de maio de 2008
INTERLÚDIO MEDIEVAL - JONGLEURS E TROVADORES
Por muitos designada como "a época das trevas", em minha opinião a Idade Média foi uma época riquíssima em que o Homem começou a desenvolver as mais diversas manifestações culturais, fazendo-o criar ou recriar inúmeros textos, representações, instrumentos musicais, e levando-os ao conhecimento das populações das terras aonde se deslocavam. Diria, antes, que foi uma era de cultura itinerante. Alguns deles eram os chamados jongleurs e também os trovadores, dos quais aqui falo de forma resumida, já que as fontes para detalhadamente conhecer são hoje em grande número e se encontram ao alcance de qualquer um. O termo jongleur apareceu pela primeira vez em textos do séc.IX, mas foi sobretudo nos sécs. XII e XIII que se sitou a sua Idade de Ouro. O jongleur era um músico ou um poeta, mas podia igualmente ser actor, dançarino, acrobata ou exibidor de animais. Tratava-se, acima de tudo, do homem que divertia o público.
Já a palavra trovador provém do antigo provençal «trobador» : trouveur, aquele que encontra, que descobre, que cria. O trovador tinha, assim, por função criar as obras (textos ou música e texto) que o jongleur representava, cantava e tocava junto dos espectadores.
A vida de um jongleur era, naturalmente, uma vida nómada e dependente acima de tudo do seu sucesso. no melhor dos casos, podia ser contratado por um Senhor, que lhe assegurava a vida e a alimentação.
Ora, até ao séc.XII, os espectáculos eram essencialmente de dramas litúrgicos que se representavam nas igrejas. As mulheres estavam excluídas e eram os homens que interpretavam os seus papéis.
Pouco a pouco, os espectáculos começaram a ser levados para a rua. O jongleur começou a percorrer a Europa e a transportar a obra do trovador de cidade em cidade, de castelo em castelo, de corte em corte.
No séc.XII, estes artistas eram considerados como inquietantes marginais pelo homem do povo, chocado este com as suas vidas amorosas; e também pela Igreja, que lhes reprovava ligações consideradas turvas com o mundo animal e um mau uso da língua e do corpo. No séc. XIII, contudo, o aparecimento das ordens mendicantes cujos membros eram pregadores itinerantes que viviam de esmolas e que a certos olhares levavam uma vida comparável à dos jongleurs, preparou a integração destes na sociedade. A partir deste mesmo século, os jongleurs tiveram que usar obrigatoriamente roupas de cores garridas, assemelhando-os à categoria dos reprovados e dos excluídos. As vestes distinguiam-nos do resto das pessoas "honestas" e caracterizavam-se pelas riscas ou padrãos meio-raiados (associados à ideia de desordem e de transgressão) e pelas cores, com a predominância do vermelho e do amarelo. A simbologia das cores Vermelho - força, coragem, generosidade, caridade; mas também: orgulho, crueldade e cólera. Amarelo - riqueza, nobreza, fé (para o doirado); mas também: falsidade, traição, avareza, inveja, traição, preguiça. Verde - beleza, juventude, vigor: mas igualmente: desordem, loucura, infidelidade, avareza. Azul - lealdade, justiça, sabedoria, ciência, segurança, fidelidade; mas de igual modo: tontice, bastardia. Branco - pureza, castidade, esperança, eternidade, justiça; mas igualmente: morte, desespero, ambiguidade. Preto - humildade, paciência, penitência; mas também: desespero, luto, morte. TEXTO DE: Jorge P.Guedes Fontes: - Les jongleurs en France au Moyen-Age E.Faral Editions Honoré Champion, Paris, 1910, 1964 - La Vielle et l'épée, Troubadours et politique en provence au XIIIe siècle M. Aurell Aubier-Montaigne, 1989 - Michel Pastoureau, La symbolique des couleurs - Aucassin et Nicolette Edition bilingue de Philippe Walter Editions Gallimard, 1999 Fotos: colhidas nas mesmas fontes.
Publicação nº 582 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G.
Sino tocado em
maio 22, 2008 -
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