Dois diários desta manhã, pelo menos, o CM e o Meia Hora, fizeram manchete da notícia da Lusa que referia que os resultados deste ano do estudo PISA (Project for International Student Assessment), da responsabilidade da OCDE, revelou que o desempenho dos estudantes nacionais na casa dos 15 anos é francamente negativa comparativamente com o de alunos de outros 56 países.
Matemática, Ciências e Leitura são os campos em que os nossos alunos apresentam um desempenho mais baixo do que a média dos seus colegas. No campo das Ciências, os portugueses ficaram em 37º lugar entre os 57 e só 0.1% conseguiu atingir o nível mais elevado, ou seja, teve o pior resultado entre os países da OCDE.
Também se concluiu que "o desempenho alcançado pelos portugueses de meios mais favoráveis chegam a superar em mais de 100 pontos os conseguidos pelos colegas
oriundos de famílias com menos recursos, sendo que, no caso da ensino da língua materna o mau resultado assenta no facto de que os alunos com pais com formação académica consegue resultados manifestamente superiores aos daqueles cujos pais não foram além do 3º ciclo. Naturalmente, Jorge Pedreira, secretário de estado da educação referiu que "os resultados ficaram aquém do que seria desejável", o que a não ser uma verdade lapalissiana, anda lá muito perto.
Mas não afirmou apenas essa evidência. O senhor acrescentou, pressuroso, que a ‘culpa’ dos resultados do PISA 2006 é da taxa de retençãoe considerou ainda “não haver ainda a percepção dos professores que a retenção é apenas a última solução, não é eficaz na recuperação dos jovens”.
Já o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, Nuno Crato, defendeu “alterações profundas” nos currículos.
No estudo participaram alunos portugueses, dos 7.º ao 11.º anos de escolaridade, de 172 escolas.
Ora muito bem!
Em vez de reconhecer com lucidez e honestidade intelectual que há falhas, e grandes, no sistema educacional português desde há muitos anos, e de que as diversas "políticas correctivas" que têm sido introduzidas por cerca de 30 ministros da Educação nos últimos 33 anos, conduziram aos resultados agora mostrados, o senhor secretário de estado atira para cima dos professores, uma vez mais, com as culpas.
Os professores, quer ele dizer, ainda não perceberam que têm de fazer os alunos transitar de ano quer eles saibam ou não o mínimo julgado necessário para que essa transição se faça naturalmente e se possam ir adquirindo gradualmente novos saberes.
- Não são, para o senhor secretário de estado Pedreira, os currículos que estão errados;
- não é o método de análise dos resultados;
- não é o desrespeito e desconsideração constantes pelos professores que nomeadamente o ministério de que o senhor faz parte sempre deu mostras;
- não é o manifesto desinteresse da maioria dos pais com menor formação, sobretudo;
- não são as assimetrias socio-culturais entre as famílias portuguesas que vêm aumentando exponencialmente;
- não é a massificação do ensino com as mesmas bases programáticas de há 40 anos que está mal e que leva tantos a perguntarem aos professores: mas eu vou ter que aprender Inglês ou Matemática, ou o aparelho sexual das flores, para quê? ;
- não é sequer a possibilidade do aluno não ir ás aulas e passar de ano com uma prova ad-hoc já no verão...
O medo político de dar lugar, de novo, à evidente necessidade de um ensino técnico capaz e motivador, gerador de esperança de uma futura integração no mercado de trabalho, tem tolhido todas as reformas que têm sido ensaiadas.
Porém, não é nada disto que levou ao caos actual. Não para o senhor secretário de estado e, por certo, para os seus superiores hierárquicos.
O que está mal, para este alto responsável ministerial, é que "os professores ainda não se aperceberam que a retenção é apenas a última solução, não é eficaz na recuperação dos jovens".
Ora aí está mais um convite para que o professor não retenha ninguém! Se este for aceite por larga maioria, não duvido de que de ano para ano os resultados sejam diferentes, graças evidentemente à "boa política educacional do governo", e apesar dos professores... chatas e incapazes criaturas!
Publicação nº 507 - J.G.