Os jogos da Europa medieval eram essencialmente os mesmos do Egipto, da Grécia e de Roma: dados, “knucklebones”- uma espécie de jogo da petanca ou do nosso “jogo da malha” mas em que eram lançados ossos -, o jogo do berlinde e o das damas.
O Xadrez, inventado no Império Islâmico, começou a ser praticado na Europa no final da Idade Média, assim como jogos de cartas que só surgiram depois do papel chegar à Europa vindo da China, introduzido por muçulmanos e judeus, o que fez com que fosse inicialmente rejeitado pelos padres que o consideravam "uma coisa chegada pelas mãos de gente de Maomé".
Carta "O navio"- Origem: Itália, séc.XV - Iluminura sobre pergaminho
- Musée Cluny,Paris
Pela forma, dimensões, material e técnica, parece tratar-se de uma carta dos primeiros Tarots conhecidos e criados na Itália do séc. XV. Esta carta possui uma iconografia rara. Um navio e uma divisa latina obrigam a vê-la como um elemento raríssimo do Tarot. Graças ao sujeito representado, pensa-se que se trata de um elemento do jogo do "Minchiate", o tarot de Florença, surgido por volta de 1490 e em que o nº 21 (a Água) é tradicionalmente representado por um navio no mar. Trata-se de uma carta particularmente importante pois fez parte de um jogo de antes da era moderna, da qual muito poucos exemplares foram autenticados.
Quanto aos jogos de multidões, acabados os de gladiadores com a queda do Império Romano, os homens deixaram de combater outros homens numa arena. Porém, entretenimentos semelhantes sobreviveram e desenvolveram-se na era cristã. Nos antigos anfiteatros, muitos dos quais continuaram a ser usados, os combates de homens com animais prosseguiram, sendo mais populares as lutas com ursos e touros por envolverem maiores perigos e proporcionarem consequentemente emoções mais fortes. As touradas hodiernas ainda se disputam em arenas, como sabemos.
Também os condenados por crimes continuavam a ser executados em praça pública, constituindo tal prática uma forma de diversão, de espectáculo para o povo.
Nos velhos circuitos igualmente continuaram a ser populares as corridas de cavalos e de quadrigas, especialmente em Constantinopla onde os condutores eram distribuídos por equipas (os Azuis, os Verdes, os Brancos e os Vermelhos, se bem que os mais importantes fossem os Azuis e os Verdes), estando cada uma das equipas ligada à opção política e à religião dos participantes, o que frequentemente levava ao eclodir de violentos tumultos e mesmo a assassinatos, não só dentro dos recintos das corridas como também nas ruas. Em mais pequena escala, as corridas de cavalos prosseguiram em Espanha e Itália ao longo dos primeiros tempos da Idade Média. Os famosos “Palio de Siena” ( há dois por ano) constituem hoje a melhor demonstração do que eram essas corridas medievais, se lhes retirarmos a violência e os desmandos verificados há séculos atrás, evidentemente.
Em vez dos combates de gladiadores, o mundo medieval introduziu os “torneios”, iniciados em França no séc.XI.nos quais cavaleiros armados e “armadurados” lutavam entre si por prémios e para diversão do Rei, da Raínha e do público espectador. Eram as justas, nas quais dois cavaleiros colocados em extremos opostos do recinto se lançavam um contra o outro com o objectivo de derrubar o oponente.
Tais torneios diferenciavam-se essencialmente dos antigos jogos de gladiadores de duas maneiras.
Primeiro, não visavam terminar com a morte de um dos contendores embora, de qualquer modo, muitas vezes os cavaleiros acabassem por se matar no calor das refregas.
Em segundo lugar, os torneios eram disputados por aristocratas, não por escravos, condenados ou miseráveis pedintes. Contudo, e tal como nos tempos dos gladiadores de Roma, igualmente se usavam homens a combater entre si como forma de diversão para os espectadores.
É preciso não esquecer que, quer os torneios, quer a caça, eram essenciais como treino para a guerra. Daí, também, que fossem desportos exclusivamente aristocráticos.
Para além dos objectivos militares, os torneios funcionavam como demonstração pública do amor cortês já que, se na guerra o cavaleiro combate pelo seu rei, no jogo defende as cores da mulher amada.
E destas pequenas grandes coisas se fez também o homem medieval.
Essas provas assemelhavam-se de certo modo, nos meios utilizados, ao popular jogo islâmico do Polo, inventado no Uzbequistão na época dos Partos* e que se tornou popular na Ásia Ocidental por volta de 800 a.C., na era do Império dos Abássidas**. Foi provavelmente a boa aceitação do Polo que encorajou os organizadores dos torneios à criação de lutas de homens montados num cavalo em vez de o fazerem a pé como os gladiadores.
Informação adicional:
* - Os Partos eram um povo nómada de origem Indo-Europeia que falava uma língua iraniana, ou persa, provavelmente adoptada por se terem instalado no norte da Pérsia. Alguns investigadores dizem que já seriam súbditos da dinastia Persa aqueménida. Só se começa a ouvir falar deles efectivamente no séc. II a.C., depois de infligirem uma série de derrotas aos seleucidas. O seu império estendia-se desde parte da Mesopotâmia até à Pérsia.
**Os Abássidas (ou abácidas) formaram uma dinastia árabe reinante composta por 37 califas, que se sucederam no período entre 749 e 1258. Os abássidas destronaram os Omíadas em 750 e passaram a governar o Califado desde Bagdá. O fundador da dinastia foi Abu al-Abaz, descendente de Abaz, tio de Maomé. A acção dos Abássidas desenvolveu-se exclusivamente na parte oriental do Califado, uma vez que a África do Norte e o Al-Andalus (Península Ibérica, dominadas pelos muçulmanos) se tornaram independentes: o seu apogeu verificou-se durante o reinado de Harun al-Rashid (786-809), o califa d'As Mil e uma noites. Esta terceira dinastia muçulmana do Oriente foi a mais famosa e a mais duradoura do Islão. Fontes: várias
Traduções e adaptação: Jorge G.
Publicação nº 456 - J.G.