"ENCRUZILHADA" - acrílico sobre tela - Márcio Melo, 2004
Este artigo que agora escrevo e que ficará, como sempre, à disposição dos vossos livres comentários, liga-se com o anterior que dava conta do lugar alcançado por Portugal na lista de países onde existe menos corrupção, num ranking elaborado pela Transparency International.
Desconhecendo as fontes e os critérios utilizados pela T.I., - medir-se o nível de corrupção nem país tem muito que se lhe diga! - penso, contudo, que alguma boa dose de verdade o estudo deve conter.
Nos primeiros postos, à cabeça dos menos afectados pela corrupção estão países onde a monarquia prevalece. Cinco países nórdicos ou escandinavos, em 10: Finlândia, Islândia, Dinamarca, Suécia e Noruega, e o curioso facto de nos lugares cimeiros dos menos corruptos, a predominância de monarquias ser gritante: Dinamarca, Suécia, Noruega, Holanda, Luxemburgo, Reino Unido, Canadá e Japão…ainda que no Luxemburbo se trate de um Grão-Ducado e o Canadá pertencer à Commonwealth.
Ora, valendo o ranking o que valer, será despiciendo e meramente circunstancial tal facto?
A corrupção sempre esteve ligada às condições de vida e cultura dos povos. Sendo um dos defeitos do ser humano, ela sempre encontrou melhor terreno entre os países menos desenvolvidos e com sistemas de governo mais débeis e menos justos na distribuição das riquezas ou, eles próprios, corruptos ou assalariados de outros fortes e endinheirados.
Sem nunca ter defendido ideais monárquicos, entendo que a monarquia traz para o poder um factor fundamental na boa gestão de um país: a cultura específica do monarca.
Essa "cultura específica" a que me refiro tem a ver com o elevado grau de preparação a que o monarca foi sujeito para o exercício do cargo. Quero eu dizer que o rei não é um funcionário de carreira.
Descontados os excessos do absolutismo déspota, a monarquia pode levar a uma melhor educação de um povo que vê no rei uma figura de referência a seguir.
Assim, a generalidade dos cidadãos assume naturalmente os deveres de pagar impostos e cumprir as leis vigentes, pois também sabe que os seus direitos de ver bem empregues os seus dinheiros estão defendidos por uma figura máxima que não é, por princípio e educação, corruptivel. O rei não necessita de subir na escala da política!
A isto que acabei de escrever logo se poderá contrapor o caso britânico. Muitos contestam, à rainha e à família real, o facto de tudo terem e pouco ou nada produzirem. Mas, na realidade, igualmente não governam.
A monarquia útil, para mim, será aquela em que o rei tenha um papel activo no poder legislativo, uma monarquia parlamentar em que os membros do Parlamento não sejam funcionários partidários ávidos de poder e "glória" mas sim, eleitos por círculos eleitorais locais que elejam os seus representantes entre grupos de cidadãos livres e não enfeudados a partidos políticos geradores de clientelismos oportunistas e facilmente corruptíveis.
Já se experimentou um pouco de tudo. Regimes autocráticos, extremistas de direita ou de esquerda - os extremos tocam-se! -, modelos de liberalismos mais ou menos capitalistas, ...
A situação mundial está, agora, numa encruzilhada cujas vias conducentes ao harmonioso progresso já foram experimentadas e não resultaram no bem estar e felicidade a que o Homem tem direito à nascença.
Porque não olharmos, agora, melhor, para os países do norte europeu?
Bush, o todo-poderoso "Master of the World" está a perder terreno a olhos vistos nos Estados Unidos e em toda a parte. A sua anunciada e já reconhecida (segundo a CNN) derrota nas presentes eleições para a Câmara dos Representantes assim o indica. E mesmo que vença, e será sempre por muito curta margem, as eleições para o Senado, George W. Bush ficará com um país dividido ao meio e uma tarefa complicada pela frente. Metade dos americanos estará com Bush no "extermínio dos índios"; a outra metade advoga que com eles se faça um "Tratado de paz".
O país da democracia está em crise. E quando a América espirra...
O desemprego e a pobreza têm aumentado nos States. A loucura de Bush, na política internacional, e a sua incapacidade no plano interno, vêm abrir mais uma ferida na democracia e no capitalismo liberal, avivando as dúvidas do mundo sobre a sua eficácia nos tempos actuais.
E disso, se poderão aproveitar os extremistas xenófobos e neo-nazis que começam a crescer perigosamente na Europa, sobretudo, e um pouco por toda a parte.
É sobre este perigo real e assustador que devemos estar avisados.
É ele o grande inimigo do progresso da humanidade.
- Jorge P. G.
Publicação nº140 - jorgg