terça-feira, 31 de outubro de 2006
As cores e os tempos
Curiosamente, este vermelho, hoje muito usado em certos fabricantes de automóveis, tem o nome de "rouge babylone"
Papa Julius II -1510Há uma frase atribuída a Lutero que procurarei desenvolver. “La rouge prostituée de Babylone”, o que quer ele dizer ? A quem ou a quê se refere?
De acordo com o autor fundamentalista Dave Hunt, na sua obra de 1994 «A woman rides the beast » a Prostituée é “uma cidade erigida sobre 7 colinas”, que ele identifica como sendo as 7 colinas da antiga Roma. O seu argumento baseia-se no Apocalipse 17:9, que diz que a mulher está sentada sobre 7 montanhas. Também baseado no Apocalipse 17:5. «Sur son front était écrit un nom au sens secret: «La grande Babylone, la mère des prostituées et des abominations du monde »
O vermelho, que não era a cor dominante na Igreja, mas sim o branco, é associado por Hunt aos bispos e cardeais católicos de Roma. Babilónia, a Grande, seria assim a mãe dos impudicos e das abominações da terra.
Sendo muito discutíveis estas teses, a verdade é que entendo que Lutero se queria referir claramente ao Papado de Roma quando fala da Prostituta vermelha da Babilónia.
E aqui, entronca outro assunto muito curioso e que tem a ver com a simbologia das cores. Reparemos: Para os protestantes o vermelho é imoral pois é a cor do vestido da prostituta da Babilónia.
Desde os blue jeans aos capacetes azuis da ONU, o azul é a cor preferida dos ocidentais desde o início do séc.XX. Mal vista à partida, esta cor não figurava entre as habituais da cultura europeia. Em contraste com o vermelho, o branco ou o preto, as três cores de base de todas as sociedades antigas, a sua dimensão simbólica era demasiado fraca para significar ou transmitir ideias, para auxiliar a classificar, associar, opor-se, hierarquizar. Os sábios interrogaram-se seriamente se os gregos seriam capazes de ver o azul, de tal modo eram raras e confusas as referências a esta cor na sua cultura. Os romanos recusavam vestir-se de azul, que era para eles a cor dos bárbaros. Ter os olhos azuis passava por ser uma desgraça física e o sinal firme de um temperamento volátil entre as mulheres. As cores da liturgia católica passaram sem o azul. Nos finais do séc.XII, o azul começa então a sua "revolução" , surgindo nos vitrais, na pintura, e na tintura dos tecidos. Está, assim, disponível quando se instala o culto de Maria, vestida de azul. A devoção a Maria vai conhecer um extraordinário desenvolvimento. Louis IX - Saint Louis - é o primeiro Rei de França a usar regularmente o azul. Na segunda metade do séc. XIII, os primeiros chevaliers bleus surgem na Literatura. O azul, a cor de Maria, e cor real, torna-se também, ao cabo de séculos, uma cor moral. Deve ser dito que a sociedade e a Igreja têm um problema com o vermelho, cor desde sempre associada ao poder e à glória, e à vaidade. Nos meios da nobreza e entre os patrícios, as despesas ligadas ao vestuário e aos seus acessórios atingem um exagero que raia, por vezes, a loucura. Os bons tintos são raros e caros, assim como os próprios tecidos. Logo a seguir à Grande Peste, a economia necessitava de investimentos úteis e recordemo-nos que havia uma tradição cristã de modéstia e de virtude. Contudo o sumptuário e as modas no vestuário sobreviveriam até meados do séc.XVIII. Pouco importando porquê, usar-se-á o preto. O dos pobres torna-se o preto dos ricos e dos príncipes. Nas pisadas deste exercício de virtude, o cinzento faz a sua aparição como cor elegante e o azul generaliza-se.
218º Papa - Leão X - Pontificado: 9 de Março de 1513 a 1 de Dezembro de 1521
A Reforma tinha aversão às cores. Lutero vê no vermelho uma abominação, o emblema da Roma papista, colorida como a grande prostituta da Babilónia. O azul, por outro lado, é considerado com benevolência. Mas o preto é a própria expressão da virtude.
Continuando a sua ascensão, por volta de 1740, o azul é uma das três cores mais usadas no vestuário europeu, juntamente com o cinzento e o preto. O azul passa para o outro lado do Atlântico com Levi Strauss, um pequeno vendedor ambulante judeu, originário da Baviera, que não sabia muito bem como vender as suas telas de pano aos pesquisadores de ouro da Califórnia. Então, decide fabricar calças, os jeans, tradução fonética do termo italo-inglês genoese, que significa simplesmente "de Génova", local de onde vinham os seus tecidos. O azul tingido de indigo viria mais tarde, com o algodão denim. Mais ou menos na mesma altura, a América inventava os blues – contracção de blue devils – uma música melancólica das horas "blue" , associação ou jogo de palavras que se pode encontrar em diversas culturas, nomeadamente no romantismo alemão, mas também na poesia medieval francesa que jogava com as palavras melancolia e ancólia, uma pequena flor azul.
Publicação nº 128 - Texto traduzido e adaptado por Jorgg
Sino tocado em
outubro 31, 2006 -
3 comentários
-> Deixe aqui o seu comentário <-
UM BLOGUE de Jorge P. Guedes - ©
Powered By: Blogger
FINAL DA PÁGINA
|