Confesso que não vi, na totalidade, o novo programa da RTP-1 para o qual vos alertei aqui mesmo, na passada semana.
Com a mudança da hora, aconteceu-me que à meia-noite estava a ser transmitido um filme. Esperei mais uns minutos e continuava o filme. Pensei que, mais uma vez, o prometido não iria ser cumprido.
Afinal, o que aconteceu foi que não tinha dado pela mudança da hora – imagine-se!
Decorrera todo o Domingo e eu a andar adiantado, sem dar por isso!
Mas lá vi uma parte do programa!
Na confortável sala da residência da escritora, as duas mulheres discutiam sobre o aforismo “Os homens preferem as loiras”. Explicava Agustina que o aforismo resulta de um pensamento inicialmente individual, sem comprovação científica, que se vai tonando num pensamento colectivo, ao adquirir uma expressão à escala de um povo ou de uma região. Foi, pelo menos, o que entendi das suas palavras cruzadas e pouco claras para o definir. Talvez a culpa seja minha, não sei.
O provérbio é, antes, algo mais elaborado e que requer comprovação histórica e científica, ainda de acordo com o que julguei perceber.
Partiram depois, num salto, para a frase aforística “Os homens preferem as loiras”.
Maria João Seixas perguntou, então, qual terá sido a razão da frase ter nascido.
Para Agustina Bessa-Luís, os soldados romanos terão ficado impressionados com as mulheres selvagens que terão visto ao entrarem na Britânia e que eram todas loiras.
“Isto é fruto do que gosto de imaginar”, acrescentou.
E mais disse: “ Os romanos, colonizadores do ocidente europeu, foram os mentores do pensamento ocidental.” (E os pensadores gregos, a cultura grega, D. Agustina?!)
Maria João Seixas disparou o contra-ataque. (Lembremo-nos de que o programa teve por ideia-base um combate de boxe entre duas mulheres, como dissera M. J. Seixas numa antevisão ao “Ela por Ela”.)
Assim, Maria João resolveu lançar para o ar que, para ela, a explicação estaria em Helena de Tróia, símbolo da beleza. Mas teve o cuidado de referir que era a sua imaginação a funcionar.
Amofinou-se a escritora, perguntando-lhe se tinha alguma base histórica que sustentasse tal teoria. É que a dela, sim, "sabe-se e está comprovado que as mulheres da Britânia eram todas loiras e belas!"
E pouco depois soou o “gong” para o final deste 1º assalto.
Recolheram as contendoras aos seus cantos, enquanto a câmara de Fernando Lopes se aproximava muito devagar de uma janela na qual passavam os nomes dos técnicos intervenientes ao som de música clássica.
Sinceramente vos digo que fiquei desiludido com o que vi. Alguém terá ficado a saber distinguir "aforismos" de "provérbios"? Não haveria exemplo mais interessante para explorar do que o escolhido? O programa destina-se essencialmente a quem? Aos que sabem distinguir aforismos de provérbios, ou ao povo que se quer informar e pretende saber o que não sabe?!
Em resumo: Falta de dinâmica, tema mal preparado, pouca abertura ao diálogo por parte de Agustina apesar dos esforços de Maria João Seixas, e sobretudo um discurso hermético tão próprio da escritora e que não se adequa a um programa que se pretende vivo e esclarecedor sobre o tema anunciado “Aforismos e Provérbios”.
Um mau serviço à arte de comunicar é a classificação que encontro para a prestação de Agustina Bessa-Luís.
Maria João Seixas fez o que pôde e louvo-lhe a postura não-reverencial perante a velha dama do Porto. Assim justificou, no mínimo, um "soft" combate de boxe.
Pequena nota: Sempre preferi as morenas.Têm mais sal do mar! - Jorgg
Publicação nº 126 - Jorgg