terça-feira, 4 de março de 2008
A PEÇA E O MOTOR NA EDUCAÇÃO
SÁBADO - DIA 8Grande boneco do Antero - Link: Anterozóide Aos professores, e aos pais também, cabe transmitir conhecimentos vários e ensinar aos miúdos atitudes de respeito, dignidade, responsabilidade social, cidadania e ética. Aos governos cabe respeitar uns e outros.
António Vitorino afirmou que a demissão da ministra da educação seria "uma derrota para o governo" (Notas Soltas de 3 Março de 2008 , RTP 1). Perante estas palavras de uma das poucas cabeças pensantes do partido do Governo, logo uma pergunta assaltará muitas mentes: desde quando é que uma mudança, um recuo nas políticas de determinado ministério é, por si só, uma derrota para o governo?
Ora, é aqui mesmo que, quanto a mim, reside o problema principal deste ministério e desta política educacional. O afastamento da ministra, por mais desejado e lógico que seja, não vem resolver o problema de fundo. Se, por um lado, poderia ser visto pela opinião pública, leia-se futuros eleitores, como uma derrota de Sócrates e do seu governo de "bons companheiros" perante as manifestações e o descontentamento crescentes, por outro, seria natural que o mesmo afastamento viesse baixar o lume em que vão ardendo as esperanças da possibilidade de uma nova maioria absoluta, se até algumas das suas unidades partidárias o Primeiro-Ministro já não consegue calar, tendo mesmo que recorrer a uma Manif, marcada para dia 18 do corrente, para gritar uma união cada vez menos real em nítida resposta de rua às manifestações dos professores. No campo estritamente político-partidário, acho natural que José Sócrates possa neste momento hesitar entre dar um passo atrás para mais tarde dar dois à frente, ou que prefira arriscar a todo o custo ter contra si umas centenas de milhar de votos.
O cerne da questão não está, contudo, na demissão desta titular da pasta.
Não gosto da senhora ministra da Educação. Para lá de pouco sociável no seu trato público, tem-se revelado obstinada, avessa a diálogos construtivos, tratando muito mal os professores que deveria, antes, considerar como companheiros de viagem, inflexível perante a mais elementar das razões dos que com ela não concordam, ausente no que se refere ao conhecimento profundo dos problemas reais da educação, governando por "políticas de fundo" sem cuidar da razoabilidade e operacionalidade das suas reformas. Tem fama de "mau feitio", mascou pastilha elástica em público e chegou ao cúmulo de responder com apupos ("buuuhhh!..., vêem, eu também sei...") a um grupo de miúdos que a assobiavam numa escola que visitou. Não ouve ninguém, para melhor se informar, daqueles que, há muitos anos no terreno, mais poderiam ensinar-lhe qualquer coisa. É, portanto, uma figura arrogante e despótica aos olhos de muitos milhares de professores, dos principais interessados em que a Educação seja um factor de progresso do país. Em suma, não tem perfil para o cargo.
No entanto, desenganem-se todos os que possam pensar que a substituição de uma peça viria alterar de per si a estratégia e a corrente do jogo. O problema reside, sim, nas políticas verificadamente erradas que o país segue há 30 anos neste sector vital de uma sociedade. Verifique-se o actual grau de conhecimentos dos alunos com o 9º ano, meça-se o QI médio do português com essas habilitações, e comparem-se ambos os resultados com dados referentes a alunos de há uns bons anos atrás.
É necessário, pois, mudar o rumo da orientação política da reforma educacional. Para tal, é forçoso que existam coragem, humildade e inteligência. Tal é o que se exige ao Primeiro-Ministro. Neste, como em outros aspectos, Sócrates não pode continuar a mirar-se no espelho perguntando-lhe: "Espelho meu, acaso existe alguém melhor do que eu?"
Esta ministra não serve, mas a mesma política ainda menos, porque a sua teimosa e cega prossecução empobrecerá o país não com uma, mas com várias gerações de semi-analfabetos.
Publicação nº 545 - J. G.
Sino tocado em
março 04, 2008 -
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