14 de Fevereiro de 1945 - Dresden reduzida a cinzas
Na noite de 13 para 14 de Fevereiro, a cidade de Dresden é vítima de um dos mais brutais bombardeamentos aéreos da 2ª Guerra.
Dente por dente…
Desde o início do conflito, o Primeiro Ministro britânico Winston Churchill confia ao “Bomber Command” da Royal Air Force a missão de destruir os pontos estratégicos do inimigo.
Desta forma, pretende quebrar as defesas militares da Alemanha e elevar o moral dos seus concidadãos, duramente afectado pelos ataques da aviação alemã às cidades inglesas.
Porém, os ataques do “Bomber Command” unicamente dirigidos sobre zonas industriais e nós de comunicação, revelam-se cada vez mais ineficazes.
Então, Churchill coloca o General Arthur Harris à frente do Comando e, a 14 de Fevereiro de 1942, decide autorizar bombardeamentos maciços às zonas urbanas.
Esperava, deste modo, voltar a população contra Hitler…
O General Sir Arthur Harris, desde Maio do mesmo ano, demonstra a eficácia dos tapetes de bombas incendiárias atacando a cidade de Köln. Em Agosto de 43, é a vez de Hamburg e no ano seguinte, Berlin.
1,35 milhões de toneladas de bombas são despejadas sobre a Alemanha e um relatório americano calcula em 305.000 mortos e 780.000 feridos o balanço total de vítimas dessas acções britânicas.
Nem a França ocupada é poupada e recebe 0,58 milhões de toneladas de bombas que terão ocasionado 20.000 mortos.
Após o desembarque aliado nas praias normandas, os ataques anglo-saxões atingem a sua maior intensidade.
Têm, porém, custos elevados. De cada vez que há um raid, 5% do equipamento britânico não regressa à base, o que significa que a aviação inglesa não pode prosseguir por muito tempo por esta via.
Para além de que, ao contrário do que esperava Churchill, os bombardeamentos tendem a fazer os alemães cerrar fileiras em torno do seu Führer.
Dresden, a “Florença do Elba”, pelas suas riquezas artísticas e arquitectónicas, sofre um bombardeamento tremendo, em 15 horas, de 13 para 14 de Fevereiro de 1945, quando 7.000 toneladas de bombas incendiárias caem sobre a cidade destruindo mais de metade das habitações e um quarto das zonas industriais.
Uma grande parte da cidade é reduzida a cinzas e com ela perto de 35.000 mortos dos quais são identificados cerca de 25.000.
Destruindo esta cidade de prestigioso passado cultural, o Primeiro Ministro quis aplicar o golpe de misericórdia à Alemanha nazi e destruir um centro industrial da maior importância para Hitler. E pretendeu igualmente destruir um nó de comunicação relevante entre Berlin e Leipzig, de forma a quebrar toda a resistência face ao avanço das tropas soviéticas já a escassos 130 Km da cidade.
Numa interpretação um pouco mais expeculativa, igualmente terá querido mostrar a sua força aos seus “aliados” soviéticos, na perspectiva de uma futura guerra fria!
Após a queda do regime nazi, sob a tutela comunista, o centro histórico de Dresden foi reconstruído à sua imagem, com excepção do antigo Schloss (o castelo) ainda em obras. O resto da cidade foi dotado de construções modernas.
O General Harris, apelidado de “Harris Bomber” ou “Harris Butcher”, foi tornado Sir em 1942.
Mas, após a Vitória, tornou-se o bode expiatório de todos os excessos cometidos durante a guerra.
Foi assim que se deu o seu apagamento da lista de honrarias estabelecida pelo Primeiro Ministro Clement Attlee e rejeitado o pedido de uma medalha de guerra para o “Bomber Command”.
Dresden renasce das cinzas
A cidade não desapareceu depois do terrível bombardeamento de 1945.
E ei-la, de novo, resplandescente.
2006, oitavo centenário da fundação da cidade, foi o ano da inauguração da reconstruída FrauenKirche, o seu monumento emblemático.
“A FLORENÇA DO ELBA”
Um castelo é referido pela primeira vez em 1206, no local onde se situa hoje a “cidade velha” de Dresden, nas margens do Elba, mas só no séc. XVI é que a cidade se tornou a capital do Ducado de Saxe, um dos principais da Alemanha.
O nome de Saxe vem de um antigo povo germânico que ocupava a maior parte do Norte da Alemanha e invade mesmo a Grã-Bretanha.
Ao grande Eleitor Augusto, o Forte.
A Bula de Ouro de 1356, que fixa as condições da eleição do titular do Santo Império romano germânico, atribui a dignidade de Eleitor a alguns barões alemães entre os quais o Duque de Saxe.
Em 1423, o ducado e a dignidade eleitoral, à falta de herdeiros, são atribuídos à casa de Wettin, que reina sobre o margraviado de Meissen.
O eleitor Friedrich III o Sábio irá ter um papel determinante na Reforma Protestante, apoiando muito activamente Lutero.
Em 1547, Dresden torna-se a residência oficial e a capital do Eleitor e, no século seguinte, conhecerá imensas vicissitudes e danos durante as guerras religiosas e nomeadamente na Guerra dos Trinta Anos.
Em 1806, o Eleitor do Saxe muda o título pelo de Rei, tornando-se mais prestigiado graças à indulgência de… Napoleão I.
O novo reino sofre com as rivalidades entre a Prússia e a Áustria antes de ser absorvido pelo Império alemão em 1871. A partir de então, Dresden passa a ser uma metrópole alemã como outra qualquer.
Der Zwinger, antigo castelo condal de Dresden e obra-prima do barroco alemão
A seguir à 2ª Guerra mundial, a cidade, ou o que dela restou, passa pela tutela soviética e torna-se parte integrante da RDA ( a República Democrática Alemã) até 1991, ano em que se deu a queda do Muro de Berlin com a reunificação das duas Alemanhas.
É então reconstruída à pressa com grandes espaços monótonos, mas com um esforço particular quanto aos monumentos mais representativos da antiga cidade, em particular o Zwinger, palácio do Grande Eleitor Augusto, O Forte. Obra principal do barroco alemão, foi reconstruído à semelhança do original em 1963.
Uma reconstrução escrupulosa
A seguir ao bombardeamento de 1945, a Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora), um templo protestante inaugurado em 1743, estava sob a forma de um enorme monte de pedras e de dois panos calcinados de cobertura das paredes ( parte escura à esquerda da imagem).
A sua reconstrução foi decidida em 1992, pouco após a reunificação.
No desfazer do monte de pedras foram encontrados a cruz do cume e o altar. Este, restaurado, foi recolocado no seu lugar inicial, enquanto que a cruz se encontra exposta no interior.
Em seguida, veio a reconstrução propriamente dita, que apelou a métodos tradicionais.
Abaixo, podemos ver a célebre perspectiva das margens do Elba, inspiradoras de tantos pintores.
Dresden e as suas margens, e o orgulho de uma frota de 12 barcos com um século de existência
Tradução e adaptação de Jorge G - Publicação nº 474 - J.G.