Eunuco é um homem cujos testículos foram removidos. O mais antigo registo de castração intencional para criar eunucos vem da cidade suméria de Lagash no século 21 a.C. mas foi muito praticado na Ásia, sobretudo na China antiga.
Zhang He
Eunucos famosos
Zhang He foi um explorador chinês do século XV. Realizou viagens por mar pelo sudoeste asiático e pelo Oceano Índico. Chegou à India, ao Mar Vermelho e a Moçambique. No entanto, segundo o Gavin Menzies, autor do bestseller do New York Times "1421 - The Year China Discovered America" (2002 UK/2003 USA), Zheng He teria chegado até ao continente americano e mais além. É de notar que existem várias formas de transliteração do seu nome, o que pode causar confusões. Foi capturado quando jovem e castrado, como era comum na época, para servir na corte chinesa de então. Mais do que isso, veio a tornar- se um grande navegador.
Bagoas (ou Bagoi no idioma persa antigo) foi um eunuco natural da Pérsia que faleceu no ano de 336 a.C.
Crê-se que era de uma beleza incomparável e que tenha sido um dos cortesãos/amantes preferidos de Alexandre, o Grande. No entanto, segundo Plutarco, Alexandre teria escrito uma carta denunciadora a Dario acusando Bagoas como um dos organizadores do assassinato de seu pai Filipe II.
Bagoas e Alexandre
O apóstolo Filipe e o eunuco da rainha Candace
O eunuco de Candace terá sido o primeiro emissário cristão a África.
Candace era um lugar ou o nome da rainha?
“E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração...” (Novo Test. - Actos dos Apóstolos, cap.8.27). A expressão bíblica “eunuco de Candace” jamais pode ser interpretada como se estivesse a referir-se a uma localidade, pois o texto é explícito em mostrar que o termo Candace se refere à rainha, e não a uma região com tal nome. Por outro lado, Candace também não se refere directamente ao nome da rainha. Na realidade, o termo era um título conferido a uma espécie de dinastia de rainhas guerreiras que detinham o poder do império Méroe, no Egito, pouco tempo antes da era cristã.
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“…A estrela que apareceu no Oriente aos Magos guiou-os até ao presépio, e não apareceu mais. Por quê? Porque muitos gentios do Oriente, e doutras partes do mundo, são capazes de que os pregadores, depois de lhes mostrarem Cristo, se apartem dele e os deixem. Assim o fez S. Filipe ao eunuco da rainha Candace, de Etiópia: explicou-lhe a Escritura de Isaías, deu-lhe notícia da fé e divindade de Cristo, baptizou-o no rio de Gaza, por onde passavam, e assim que ficou baptizado, diz o texto que um anjo arrebatou S. Filipe, e que o não viu mais o eunuco: "Cum autem ascendissent de aqua, Spiritus Domini rapuit Philippum, et amplius non vidit eum eunuchus", ou seja, Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, não o vendo mais o eunuco; e este foi seguindo o seu caminho, cheio de júbilo. (Actos dos Apóst. 8.39).
"Desapareceu a estrela, e permaneceu a fé nos Magos; desapareceu S. Filipe, e permaneceu a fé no eunuco…" in “Sermão do Espírito Santo” de Padre António Vieira ”
Muito mais conhecida é a generalização da castração no mundo árabe, graças aos eunucos do harém.
O Império Bizantino foi o primeiro a utilizar os eunucos como cantores nas igrejas, como conta o canonista Teodoro Balsamoni no séc.XII. Ainda que não se possa estabelecer uma relação directa entre a castração e o canto, toda a Europa medieval se viu afectada por este fenómeno. Existiam inúmeros conceitos para que as numerosas famílias italianas castrassem um dos seus filhos em plena idade de ouro dos "castrati", já que todas queriam ter um artista na família. E igualmente em França a castração não era menos comum. uma estatística da Sociedade Real de Medicina realizada em 1676, menciona mais de quinhentos casos de meninos castrados por hérnia.
Uma bula do Papa Sixto prova que os castrados eram claramente admitidos desde há tempos na península Ibérica mas, então, seriam todos verdadeiros "castrati"? Esta dúvida prevalece também sobre o grupo de cantores espanhóis da "Capilla Pontífice" em Roma. Se bem que os arquivos do Vaticano do séc. XVI não o mencione, é muito provável que dois nomes de músicos tão célebres como Francesco Soto e Giocomo Spañoleto fossem verdadeiros "castrati".
Durante os primeiros anos do Séc. XVII assistiu-se a uma política sempre ambígua da Igreja que condenava a castração e ao mesmo tempo acolhia os melhores "castrati". E da Itália, a castração começou a difundir-se por toda a Península em meados do Séc.XVI, para atingir o seu ponto culminante durante o séc. XVIII.
Relativamente aos nossos dias, acho muito curiosa esta afirmação do historiador David Starkey: “É interessante a semelhança da ambição dos pais dos castrati e a forma como astros jovens também são produtos da ambição dos seus pais. É horrível como os astros infantis de hoje são forçados a adoptar essa artificialidade como forma de vida; forçados através desta roda viva a atingir o estranho e desejado status de estrela”.
Fontes várias - Tradução, adaptação e publicação nº464 - J.G.