quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
O futuro Prof. "Clínico Geral"
Há umas duas/três semanas atrás, ao entrar na sala dos Professores, fiquei alvoroçado. Uma grande vozearia, cabeças várias penduradas sobre o computador, “penas” pelo ar no galinheiro, como carinhosamente lhe chamo. - Olha, já sabes da última? – gritou-me a Ana N., lá do fundo, braços agitados e rosto visivelmente transtornado. Acabadinho de chegar, e ainda envolto naquela mistura de torpor e mundo real que me é característica quando passo pela primeira vez ao dia a portinhola de 1m de largura por onde professores, alunos, funcionários e visitantes penetram a custo no recinto da Escola, perguntei: -O que se passa, meninas? Isto, porque eram elas as mais agitadas e revoltadas. Respondeu-me em golfadas, como quem expele a água salgada que uma onda gigante a fez engolir. Não percebi nada! Alheio ao alvoroço, entrei no “cubículo do vício” para fumar um último cigarro antes de subir para as aulas do dia. Aí, uma colega mais calma mas igualmente denotando grande preocupação, explicou-me que saíra em todos os jornais mais uma “das boas novas" do Ministério da 5 de Outubro. Segundo me contou, preparava-se legislação para que o 2º ciclo(5º e 6º ano) passasse a ter aulas dadas por UM SÓ professor, à excepção de certas práticas como a Educação Física, a Educação Musical e a Educação Visual e Tecnológica, as quais teriam um professor exclusivo. Quer dizer, Português, Inglês, Matemática, Ciências da Natureza e História e Geografia de Portugal, passariam a ter um único mestre! E mais: era para já, tendo os professores que fazer cursos ad-hoc em forma de Mestrado para se habilitarem a dar essas aulas. Tudo aquilo logo me pareceu uma fantasia, que nem este Ministério seria capaz de inventar. Sosseguei-a, dizendo-lhe que tal coisa era tecnicamente inviável, pois para tal os actuais professores teriam que, no próximo ano, fazer essa formação e que tal implicaria perguntar quem, entretanto, daria as aulas. Consegui, assim, acalmá-la, embora me respondesse: - Pois, mas deste Ministério, já espero tudo! - Também eu, respondi, mas isso não, é impraticáve! Tal só poderá acontecer dentro de alguns anos, depois de os novos candidatos à docência serem formados já com base nesses novos moldes. Então sim, será possível, embora ache que é mais uma cretinice apenas para reduzir custos.
Lendo bem o que vinha nos jornais, e alguns não explicavam devidamente as coisas, verifiquei que o meu raciocínio estava certo. Portanto, é real que dentro de algum tempo a antiga Primária se prolongue por mais dois anos e que os alunos passem a ter como professores de disciplinas específicas e fundamentais no seu futuro escolar, não especialistas na matéria, mas “clínicos gerais” que terão de saber tanto de Português ou Inglês como de Matemática ou História ou Ciências. E já antevejo que de então a mais uns quantos anos, a continuar esta política, o Professor “clínico geral” (desinação que prefiro a "generalista" devido ao estado de saúde da educação) se irá estender aos 7º, 8º e 9os anos, findos os quais o aluno terá finalmente concluída a sua “Instrução Primária”.
Embora, à partida, não preveja vir a ser atingido por tal delírio, já comprei um livrinho de Matemática e ando a fazer os exercícios que lá mandam. E, a seguir, vou inscrever-me em aulas de flauta…e no coro de Santa Cecília.
TEXTO de jorgg - Ilustração enviada por R. Postito - Publicação nº 284 - jorgg
Sino tocado em
fevereiro 07, 2007 -
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