Todos os dias, em todo o mundo, óvulos, esperma e bebés são objecto de negócio.
Tornou-se um negócio florescente ter filhos.
Um economista de Harvard avalia o negócio da procriação assistida em 2,5 mil milhões de euros, só nos Estados Unidos, onde o mercado é aberto.
As clínicas de reprodução grassam por toda a Europa de Leste, com uma legislação ainda incipiente, e a clientela ocidental tem aumentado a olhos vistos.
Na Ucrânia, os úteros alugam-se por uns milhares de euros. Num jornal ucraniano podia ler-se este anúncio, colocado por Irina Vodopianova:
“Jovem ucraniana, 25 anos, propõe os seus serviços como mãe de aluguer. Estilo de vida saudável. Casal estrangeiro bem- vindo. 30 mil dólares”
Na Guatemala uma mão cheia de dólares é quanto vale uma criança.
E mesmo em Londres, onde a lei britânica proibe a venda de óvulos, o comércio faz-se através do artifício da doação dos mesmos. As jovens apenas pretendem uma “compensação pelo seu bom-coração"…
E se num país o negócio é proibido, ele prossegue num outro.
Não se pode impedir ninguém de ter filhos.
Como legislar, então, para impedir derivações mafiosas e o eugenismo?
Bebés brancos custam mais do que os pretos, os óvulos de uma aluna média valem menos dos que os de uma excelente...
Compra-se hoje “um bebé melhor” se houver mais dinheiro para o comprar, com a mesma facilidade com que se pode adquirir um par de sapatos.
E o mercado da perfeição, em expansão plena, tende para o eugenismo.
Nas clínicas de esperma, dadores com menos de 1,80m são recusados. Os bebés mais procurados são arianos, loiros de olhos azuis, mas há clínicas especializadas em "tipos exóticos". E é normal que, pais anões ou surdos, requeiram que os filhos apresentem as mesmas características.
A complexidade moral do negócio dos bebés vai até à questão da clonagem, de momento sem mercado, excepto uma seita canadiana- os raelianos, que afirma que o a nossa espécie foi criada por extra-terrestres há 25 mil anos. A própria ideia da clonagem assusta a maioria das pessoas. Mas a unanimidade desta rejeição poderá bem desfazer-se se a técnica for adoptada por casais que queiram ter um filho. Por exemplo, no caso de um casal em que o homem seja incapaz de produzir esperma, os cientistas podem retirar-lhe uma célula do corpo e injectar o núcleo num óvulo da mulher, produzindo uma criança apenas com o ADN do pai, isto é, um clone do marido, filho de ambos, nascido após 9 meses de gestação.
Porém, a clonagem não é a única possibilidade técnica radical. Dois homossexuais poderão, um dia, conceber um filho, criando um embrião a partir de um deles, recolhendo células estaminais de um dos parceiros, transformando-as em espermatozóides ou em óvulos e "fundindo" esses gâmetas com os gâmetas naturais do outro parceiro, para obterem um embrião pronto a ser implantado.
Para onde caminha o mundo sem uma legislação eficaz que ponha termo a um negócio destes?
Entretanto, já em 2005, cientistas britânicos 'fecundaram' um óvulo sem usar espermatozóides. A equipa pertence ao Instituto Roslin, da Escócia, o mesmo onde foi criada a ovelha "Dolly".
Os pesquisadores usaram óvulos doados por várias mulheres e estimularam-nos com impulsos eléctricos e substâncias químicas.
As células, então, começaram a multiplicar- se como um embrião, sem a adição de materiais genéticos de espermatozóides ou de clones.
Os embriões resultantes dessa técnica foram chamados partenotos, da palavra grega partenogenis ou "concepção virgem". Foram criados seis partenotos dos quais os cientistas esperam extrair células-tronco.
E, na BBC-Brasil de 19 de janeiro de 2007 podia ler-se que "um casal israelita ganhou na Justiça o direito de usar espermatozóides de seu filho, morto em 2002, para inseminar uma mulher que ele não conheceu, alegando que o filho sempre desejara ser pai.
O soldado morto, Keivan Cohen, foi morto na Faixa de Gaza em 2002. Os pais do soldado extraíram os espermatozóides dele após a sua morte, mesmo que ele não tenha deixado um testamento pedindo que isso fosse feito."
Assim, já é possível um morto vir a ser pai.
Para onde caminha o homem?
Compilado e adaptado de Courrier Internacional nº 95 e da BBC-Brasil por Jorge G
Publicação nº 278 - jorgg