A TLEBS só é suspensa de forma generalizada no próximo ano !
Assim, até ao fim deste, em Junho, "paciência", por exemplo, será um nome não contável e não massivo, para, no ano lectivo de 2007/2008, voltar a ser um nome comum abstracto. A seguir, não se sabe ainda o que será! Gostaram da emenda ou o soneto era, apesar de tudo, menos mau?
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Ao ler que esta encomenda do governo apenas será adiada porque os senhores pensadores do reino não tiveram tempo de terminar a tarefa de a rever, e sabendo que ainda há algumas cabecinhas que apoiam o conserto deste aborto intelectual, lembrei-me deste artigo de reflexão, de Maio do ano passado, escrito de propósito para uma outra qualquer situação de exibição da mais pura inteligência e que me revoltou na altura.
Ora leiam !
Há muitos e bons anos, no tempo em que os rapazes usavam longas cabeleiras com as quais procuravam conquistar as moçoilas que esvoaçavam em bando, perfumadas e alegres, à saída dos colégios e Liceus, li um livrinho cujo título era : “ O reino da estupidez” ( col. ‘O tempo e o modo’ da Livraria Morais Editora da Rua da Assunção,Lisboa)
Esse pequeno exemplar do pensamento do mais americanizado escritor / ensaísta /pensador português que conheci, Jorge de Sena, é uma colectânea de textos que, à altura, o autor publicava no defunto “Diário de Lisboa”, no qual comecei a fazer muito cedo as “Palavras Cruzadas” sem quadradinhos pretos, que faziam as minhas delícias e uma cara desconsolada ao meu pai.
Desse livro de Sena, provavelmente o mais pequeno em volume e importância literária de toda a sua extensa obra, fixei uma frase :
“Cultura é coragem de pensar e sentido das responsabilidades quanto ao que se pensou.”
Assim dita, a frase será bonita, está bem construída, vem de um intelectual consagrado, tem peso e medida adequados para se usar como citação.
Pode, contudo, ser uma bomba de relógio.
Na época, a edição que possuo data de 1961, Portugal era necessariamente um país diferente.
As taxas de analfabetismo e de iliteracia rondavam números que me abstenho, por pudor, de revelar. Era um país de tamancos!
Cultura havia a popular que nem sabia que o era e havia mais duas formas assim ao de leve definidas :
- a cultura dos pensadores corajosos e responsáveis, como Jorge de Sena, muitos deles frequentadores assíduos das cadeias nacionais,
- e havia a outra cultura, assim designada pelos seus praticantes, os que nada sabiam mas tudo julgavam saber.
Era esta, naturalmente, a forma de “cultura”que mais gente possuía. Fazia de Pinóquios gente importante e interessava sobremaneira ao regime político reinante. “Ladravam mas não mordiam”.
Ora, em tal contexto socio-político, a frase citada de Sena fazia todo o sentido e não era inspiradora de profetas ignaros, pela simples razão de que os ignaros de então não ousavam ser profetas. A censura não o permitia !
Hoje, o país mudou.
Com a liberdade, pela qual alguns sempre haviam lutado, chegou a Portugal uma nova realidade : o direito a dizer, a escrever, a publicar o que a vontade e o juízo de cada um quiserem.
A frase de Jorge de Sena, poderia bem ser reformulada.
Seria mais adequada à nova realidade se rezasse assim:
“A cultura, no meu país, é a lata de escrever e de falar do que se desconhece e a falta de responsabilidade quanto ao que se escreveu ou disse.”
Aplicadores desta frase não faltam.
Há que ter é coragem de os açoitar!
Digam lá se este artigozinho não vem, agora, mesmo a calhar!
P.S. - Os burros de 4 patas são animais teimosos, contudo muito inteligentes!
Texto de jorgg - Publicado por jorgg em Os Bigodes do Gato em 21de Maio de 2006 -
Republicado em 29 de Janeiro de 2007