Existem em Portugal, um dos mais antigos países da Europa - não se esqueça, nunca! - inúmeras lendas que eram contadas e recontadas de geração em geração, estando hoje na mais completa ignorância sobretudo dos nossos jovens.
Desde que em Junho, dia 13, dei início a este espaço de convívio, tenho procurado aqui trazer não apenas factos ou figuras da actualidade, mas igualmente outros motivos de interesse geral.
Sem pretender ensinar nada, desejo sim pugnar pela correcção da Língua, pelo avisar de factos lesivos dos direitos do Homem e por sugestões de pesquisa ou informações avulsas sobre as mais variadas matérias.
O Sino da Aldeia tem publicado em várias línguas estrangeiras algumas dessas contribuições. Tenho-o feito a pensar nos que passam por cá diariamente e não sabem o nosso idioma.
Mas O Sino é um blogue em língua portuguesa e especialmente trabalhado a pensar nos portugueses.
Dou hoje início a uma série de publicações, que será mais ou menos prolongada no tempo, de acordo com o interesse que me seja dado a entender. E nada melhor do que um conjunto que fale das lendas do nosso país. Em português de Portugal, claro!
1- OS TRIPEIROS
Monumento aos Tripeiros, no Porto
No ano de 1415, construíam-se nas margens do Douro as naus e os barcos que haveriam de levar os portugueses, nesse ano, à conquista de Ceuta e, mais tarde, à epopeia dos Descobrimentos. A razão deste empreendimento era secreta e nos estaleiros os boatos eram muitos e variados: uns diziam que as embarcações eram destinadas a transportar a Infanta D. Helena a Inglaterra, onde se casaria; outros diziam que era para levar El-Rei D. João I a Jerusalém para visitar o Santo Sepulcro. Mas havia ainda quem afirmasse a pés juntos que a armada se destinava a conduzir os Infantes D. Pedro e D. Henrique a Nápoles para ali se casarem...
Foi então que o Infante D. Henrique apareceu inesperadamente no Porto, onde aliás nasceu, para ver o andamento dos trabalhos e, embora satisfeito com o esforço dispendido, achou que se poderia fazer ainda mais.
Então, o Infante confidenciou ao mestre Vaz, o fiel encarregado da construção, as verdadeiras e secretas razões que estavam na sua origem: a conquista de Ceuta. Pediu ao mestre e aos seus homens mais empenho e sacrifícios, ao que mestre Vaz lhe assegurou que fariam para o Infante o mesmo que tinham feito cerca de trinta anos atrás aquando da guerra com Castela: dariam toda a carne da cidade e comeriam apenas as tripas. Este sacrifício tinha-lhes valido mesmo a alcunha de "tripeiros". Comovido, o infante D. Henrique disse-lhe então que esse nome de "tripeiros" era uma verdadeira honra para o povo do Porto.
A História de Portugal registou mais este sacrifício invulgar dos heróicos "tripeiros" que contribuiu para que a grande frota do Infante D. Henrique, com sete galés e vinte naus, partisse a caminho da conquista de Ceuta.
O Infante observando mapas com os seus cartógrafos
Publicação nº 174 -jorgg