Hoje, 28 de Novembro, o Papa inicia em Ankara uma visita de 4 dias à Turquia.
Mas será no dia 30, em Istambul, ao visitar a antiga Basílica de Santa Sofia transformada em mesquita após a queda de Constantinopla e hoje ainda símbolo da vitória otomana sobre os cristãos, que a estadia do Papa assume maior risco. É de prever que os mais radicais poderão interpretar o facto como "uma tentativa de reconquista cristã".
Por isso, à última hora, os estrategas do Vaticano organizaram uma presença de Benedito XVI na Mesquita Azul, um dos edifícios religiosos mais célebres no mundo, logo a seguir à sua passagem por Santa Sofia.
As histerias resultantes das palavras de Benedito XVI na Alemanha, que os islamitas mais radicais, ou mais ignorantes, interpretaram como uma ofensa ao Islão, irão agora reavivar-se com a sua presença em território turco.
Por todo este país 99% muçulmano, os últimos dias têm sido de azáfama no pintar de cartazes e em manifestações reclamando contra o Papa de Roma e tendentes a fazer-lhe ver que os muçulmanos não lhe perdoaram nem perdoarão.
Os meios de comunicação nacionais e internacionais têm-nos ajudado, levando a todo o mundo as suas mensagens de hostilidade.
Benedito XVI, por seu lado, irá tentar com os seus discursos conquistar a compreensão dos seus opositores e lançar bases para um futuro entendimento entre as duas religiões. Assim está previsto.
Mas para que haja entendimento terá sempre de existir a firme vontade das partes envolvidas. Resta saber se este será o caso.
O governo turco, que tem visto a almejada entrada da Turquia na União Europeia sucessivamente adiada, dando-se agora como motivo a questão dos turcos com Chipre, tudo fará para que a visita do Papa decorra sem incidentes de maior.
Do ponto de vista político, a visita só poderá trazer vantagens para os turcos que batem à porta da Europa. Mas o governo teme que uma demasiada aproximação ao Papa lhe traga maus resultados nas próximas eleições, pelo que, apenas procurará garantir por todos os meios a segurança do visitante.
Qualquer incidente violento, nas vésperas do Conselho Europeu de 14 e 15 de Dezembro que deverá analisar o dossier da Turquia, poderia ter consequências sobre o pedido de adesão.
Mas, e se por fatalidade algo acontecer, como seja uma tentativa de homicídio de Benedito XVI ? Quem viria depois reclamar a necessidade de entendimento? E quem dentro da UE apoiaria o alargamento da União à Turquia?
Estas serão as principais razões da extrema importância da visita do Papa.
Quando a viagem foi agendada, ela tinha por fim um motivo estritamente ecuménico. Benedito XVI encontrar-se-ia com o patriarca Bartolomeu I, arcebispo de Constantinopla e chefe espiritual de uns 300 milhões de cristãos ortodoxos em todo o mundo, e pretenderia renovar um diálogo que tem estado em declínio.
Mas o discurso de Regensburg alterou o sentido inicial da visita.
É de recomendar ao chefe máximo do Vaticano a maior prudência no uso das palavras. A começar por não cair na tentação de se referir a Istambul, chamando-lhe Constantinopla.
Esse seria um rastilho de consequências imprevisíveis.
- Texto de Jorge G - 28.11.2006 , 02.35 a.m.
Cartoon de Chappatte, in Le Temps (Ch) - Publicação nº 172 - jorgg