quarta-feira, 13 de maio de 2009
13 de Maio, o Brasil e a Escravatura
Princesa D.Isabel, pintada em 1868 por Édouard Vienot Aproveitando uma ausência do pai, D. Pedro II, em tratamento na Europa, a princesa Isabel, com a regência em mãos, assinou em 13 de Maio de 1888 a LEI ÁUREA, pondo fim oficial à escravatura no Brasil que durava há três séculos.
Desde a década anterior que se desenvolvia no país uma forte campanha abolicionista, mas na verdade o empenho pessoal da princesa é que levou à aprovação da lei. A filha de D.Pedro foi a primeira senadora brasileira e a primeira mulher Chefe de Estado no continente americano, definindo-se como uma política liberal das três vezes que assumiu a regência.
Mas antes, já D.Isabel tinha lutado pela aprovação da Lei do Ventre Livre, que visava "considerar de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data desta lei", e há muito que finaciava com o seu próprio dinheiro a alforria de muitos escravos e o Quilombo do Leblon, que teve como seu idealizador o português José de Seixas Magalhães, um rico e moderno comerciante que comprou uma quinta na zona sul do rio e na qual cultivava camélias brancas, a flor-símbolo da abolição.
Mas o fim da escravatura teve um preço alto pago pela família real. Caída uma das derradeiras bases de sustentação da monarquia, a república viria a ser proclamada cerca de um ano e meio depois, cumprindo-se assim as palavras proféticas do Barão de Cotegipe que havia dito a D. Isabel: "Vossa alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono". Muito por causa da abolição dos escravos, as ideias republicanas depressa conquistaram as elites económicas brasileiras.
Mas será que, hoje, o dia 13 de Maio é celebrado no país como data-símbolo da abolição? Não será tanto assim, ao que julgo.
Aspecto de um quilombo Com efeito, o 13 de Maio tem vindo a perder importância desde os anos 70 do séc. XX, quando os movimentos negros brasileiros decidiram instituir um "Dia da Consciência Negra", o 20 de Novembro, para salientar o papel dos próprios negros no processo da sua emancipação, através da celebração do dia da execução de Zumbi dos Palmares - assassinado em 20 de Novembro de 1695 quando era um dos maiores símbolos de resistência negra contra a exploração do povo preto pelos colonizadores.
Para muitos negros, o 13 de Maio seria uma data representativa da abolição, sim, mas como um acto de "generosidade" da elite branca que fez da princesa a personagem principal da libertação dos escravos. Ao contrário, o 20 de Novembro, homenageando Zumbi e o quilombo de Palmares, é um símbolo da resistência e da combatividade dos negros, que, de facto, não aceitaram passivamente a escravidão.
Assim, e pouco a pouco, o Dia Nacional da Consciência Negra tem vindo a ganhar maior suporte, tendo-se tornado mesmo Feriado em mais de 200 municípos brasileiros, incluindo o maior de todos, São Paulo.
Historicamente, o Dia da Abolição merece ser comemorado, a Lei Áurea serviu para libertar 700 mil escravos que ainda existiam no Brasil em 1888 e proibir a escravidão no país mas, à parte esse importantíssimo facto, a verdade é que a abolição não resolveu questões essenciais sobre a inclusão dos negros libertos na sociedade brasileira. Depois da lei da libertação, o Estado brasileiro republicano não tomou medidas que favorecessem a sua integração social, abandonando-os à sua sorte.
A importância de um facto histórico varia muito com a época em que o mesmo é analisado. É assim a História.Fontes:
- Silva, Eduardo - "As camélias do Leblon e a abolição da escravatura", Companhia das Letras, ed. 2003
- Barman, R. J. - "Princesa Isabel do Brasil", Unesp, ed. 2005.
Texto: Jorge P.G., 13 Maio 2009 NOTA ADICIONAL : Quilombos eram uma espécie de bairros onde os escravos africanos fugidos se refugiavam, aos quais mais tarde se juntaram vários tipos de marginalizados pela sociedade da época. Várias cidades no Brasil são originárias de quilombos formados no período colonial e imperial. Palmares é uma região localizada no interior do estado de Alagoas. O quilombo de Palmares foi arrasado pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1696. Mais tarde, surgiu a vila, depois actual cidade de Palmares no mesmo local.
Curiosamente, a mais antiga canção conhecida no Brasil é de finais do século XVII e é atribuída a membros do Quilombo dos Palmares. A letra que aqui reproduzo foi extraída de um antigo disco de 78 rpm da violeira nordestina Stefana de Macedo, gravado em Outubro de 1929. DANÇA do QUILOMBO dos PALMARES
Refrão
Folga nego, branco não vem cá Se vié, pau há de levá
I Sinhô já tá drumindo Nego qué é batucá Nego tá se divertindo De minhã vai trabaiá (2x)
II Nego geme todo dia, Nego panha de sangrá Dando quase seis da noite Panha nego a batucá (2x)
III As corrente tão batendo, As brieta chocaiando Sangue vivo tá corando, E nego tá batucando (2x)
IV Nego rachou o pé, De tanto sapatiá Tão cantando, tão gemendo, Nego qué é batucá (2x)
V Quando rompe a madrugada Geme tudo nos açoite Nego pega nas enxada E o batuque é só de noite (2x)
Publicação nº 729 de "O SINO DA ALDEIA"Etiquetas: abolição, Brasil, escravatura, Lei Áurea, Princesa D. Isabel, quilombos
Sino tocado em
maio 13, 2009 -
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