Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Sophia de Mello Breyner
Enquanto os jornais franceses não enfeudados a Sarkozy e respectiva entourage fazem a denúncia da sua proclamada guerra à insegurança, que consideram ser apenas um anúncio eleitoralista visando as próximas europeias, por cá assistiu-se a mais do mesmo.
Um Canal do Estado, dois zelosos funcionários perguntando o que todos sabiam que ia ser perguntado e um Primeiro-Ministro igual a si próprio: arrogante em relação aos opositores, demagógico quando fala para o povo inculto e politicamente analfabeto, fazendo as pausas ou as acelerações no ritmo do monólogo, conduzindo a venda do seu produto como bem lhe apeteceu.
Sobre uma das grandes, das maiores, preocupações da população fez tábua rasa: as questões de segurança de pessoas e bens.
Do resto, anunciou pomposamente o prolongamento do ensino obrigatório para 12 anos, que já havia sido anunciado em propósito eleitoral de 2005, afirmou que mais uns quantos irão ser abrangidos por um alargamento do subsídio de desemprego e meteu os pés pelas mãos quando se referiu ao Presidente da República insistindo, ele sim, na tentativa de instrumentalização deste.
Depois, aproveitou estar na Sua TV para desancar quem tem tido o topete de o afrontar com trabalhos jornalísticos documentados e que classificou como "caça ao homem" (ou seja, à sua impoluta pessoa). Anunciou ao país que "O Jornal da TVI, à sexta-feira não é um telejornal, é uma caça ao homem, é um jornal travestido", insultando os profissionais que lá trabalham e sujeitando-se, agora, e muito bem, a um processo por difamação que a jornalista Manuela Moura Guedes já anunciou que iria pôr-lhe.
Mais uma vez, este homem sedento de poder e de glória veio a público propalar uma política cega de confrontação e de descridibilização de quem com ele não concordar.
Basta ver a arrogância e o ar jocoso com que tem lidado com a oposição em plena Assembleia da República para que ninguém se possa admirar destas tiradas televisivas, com a ajuda preciosa do realizador que procurou afanosamente fazer-lhe grandes planos e escolher os ângulos mais convincentes para a propaganda que vinha decorada.
Ouvi-lo, e vê-lo, foi de novo uma pura perda de tempo e motivo de um ainda maior descrédito quanto ao destino de Portugal.
Porque nós vêmo-lo, ouvimo-lo e lêmo-lo é que não o podemos ignorar senhor Primeiro-Ministro. Não fosse esta sua transitória condição de chefe do governo e, de acordo com o que penso, muito poucos lhe dariam mais atenção do que a um qualquer vendedor de tachos e panelas numa feira de aldeia.
- Jorge P.G., cidadão em plena posse dos seus direitos constitucionais, insuspeito de práticas ilícitas, licenciado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
POST SCRIPTUM
Já depois deste escrito de opinião ser publicado, ouvi e vi o Director da TVI José Eduardo Moniz responder com classe e educação aos insultos de que a sua equipa de jornalistas foi alvo.
Uma vez mais, este homem não se escondeu e deu a cara pelos seus companheiros de trabalho, que eu sei que é assim que os vê.
Zé, não falaste apenas em seu nome mas no de todos os que diariamente lutam pela verdade, pela coragem e pela informação isenta e livre.
BEM-HAJAS !
O meu abraço grato e solidário !
Publicação nº 719 de "O SINO DA ALDEIA"