sexta-feira, 10 de abril de 2009
A ERUPÇÃO DO TAMBORA E A LITERATURA
A desgraça provocada pelos actuais terramotos em Itália levou-me a recordar uma outra, acontecida precisamente num dia 10 de Abril, em 1815, em Sumatra,Indonésia.
O vulcão Tambora, o segundo maior do mundo, entrando em erupção, provocou a destruição das aldeias vizinhas e lançou para a atmosfera uma quantidade extraordinária de cinzas. Durante mais de um ano, espalhando-se em redor do planeta, essas cinzas fizeram arrefecer o clima e na Europa o verão de 1816 foi particularmente frio e chuvoso, com quedas de neve nos pontos mais altos e... consequências absolutamente inesperadas na literatura!
Mary Godwin, aqui já Mary Shelley
Na noite de 16 de Junho de 1816, os poetas Lord Byron e Percy Shelley conversavam com as suas respectivas companheiras, Claire e Mary, e com um amigo, o Dr.John Polidori, numa magnífica villa nas margens do lago Léman, na Suiça. Por causa de um verão excepcionalmente pluvioso, que se seguiu à erupção do Tambora, várias eram as ocasiões em que não podiam sair de casa.
Para passar o tempo, os jovens decidiram iniciar um concurso de histórias macabras, por sugestão de Lord Byron : «We will each write a ghost story». Foi assim que a amante de Shelley, Mary Godwin, de 19 anos, escreveu a história do Dr. Victor Frankenstein que tentou criar vida, à semelhança de Deus.
A peça foi-lhe inspirada pela vida de um alquimista alemão do século anterior, um tal Konrad Dippel. Nos dias seguintes a narrativa tomou forma, após algumas noites passadas com pesadelos. Dois anos após, surgiu a publicação do romance Frankenstein ou o Prometeu moderno, um dos grandes mitos do ocidente contemporâneo e uma mina inesgotável para a Sétima Arte.
Aconteceria, porém, um epílogo trágico e real.
O que se seguiu foi obscurecido por uma série de dramas. Harriet, a legítima esposa de Percy Shelley, suicidou-se, não suportando mais as escapadelas do seu marido-génio, tendo este vindo a casar com Mary Godwin no fim de Novembro desse mesmo ano.
Shelley viria a morrer no mar, em 1822, com apenas 30 anos. Foi ao largo de La Spezia, tendo sido incinerado na praia, numa cerimónia romântica e com a presença do amigo Byron.
Este, faleceu de doença, em 1824 e com 36 anos, participando da defesa de Missolonghi, ao lado dos gregos.
Mary Shelley viria a morrer em Londres muito mais tarde, em 1851, com 54 anos, vítima de um tumor cerebral. Da sua tumultuosa ligação com Shelley deixou dois filhos... para além do monstro do Dr. Frankestein.
Texto adaptado a partir de um artigo de Fabienne Manière.
Publicação nº 714 de "O SINO DA ALDEIA"
Sino tocado em
abril 10, 2009 -
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