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sexta-feira, 17 de abril de 2009
LENDA ASTURIANA - "A XANA de XIRÚS"
Uma lenda pode definir-se de forma breve como sendo uma narrativa tradicional fantástica, essencialmente admirativa e geralmente centrada em pessoas, épocas e lugares determinados. Transmitindo-se inicialmente de forma oral, sempre houve o mau hábito de alguns escritores as alterarem, acrescentando ou modificando mesmo o âmago dos seus argumentos. Todavia, ainda existe quem as conte ao ouvido e com a genuinidade com que lhe foram transmitidas.
Há um par de anos, em visita à região, pude fazer a recolha de algumas lendas locais pessoalmente e através de literatura sobre o folclore e as lendas das Astúrias, uma das zonas mais ricas neste tipo de narrativas, e é uma delas que aqui deixo tendo procurado o máximo rigor na sua tradução.
Nas entranhas das fontes escondem-se, como se temam sair do seu secreto refúgio de paz, as mais curiosas histórias que o correr dos anos deixou ligadas às suas remansosas águas. Referem-se estas, asturianas, a nuberos(1), a xanas(2), a cuélebres(3), a bruxas e a encantamentos que contavam as avós, no calor dos lares em melancólicos fins de tarde. A que vou relatar foi recolhida à luz do lume numa noite de Dezembro.
"A XANA(2) DE XIRÚS"
Era uma manhã de San Juan, quando o sol estalava no horizonte e o céu se espreguiçava num azul intenso. Sentado à porta da sua cabana, um pastor (melhor, um "vaqueiro") avistou uma menina que se dirigia na direcção da fonte de Xirús. Preso pela sua grande beleza, observou-a a sentar-se na fonte. Tentado pela curiosidade, aproximou-se e travou conversa. Ao fim de pouco tempo, disse-lhe a moça: - Tu podias desencantar-me e, se o fizeres, oferecer-te-ei um grande número de vacas. - Se puder -respondeu o vaqueiro- assim farei com muito gosto. Dir-me-ás tu como devo proceder... - As vacas que te dou vão sair pela bica da fonte, e a cada uma hás-de dizer: Santo António te guarde! Mas tens de ter muita atenção, já que se alguma passar sem que recites a fórmula eu desapareço e tu terás perdido tudo. E começaram então as vacas a saltar, repetindo o pastor: "Santo António te guarde! Santo António te guarde...!
Vaqueiros de Alzada (séc. XIX)
Passava o tempo e a fila de vacas ia aumentando; ocupava já o largo caminho que media entre a fonte e o Collau de la Mostayera, quando o vaqueiro começou a sentir cansaço, os olhos enublaram-se por momentos e as vacas continuavam a sair. Passou então uma sem receber a saudação e, naquele mesmo instante, moça e vacas esfumaram-se. Referem as gentes da comarca que o vaqueiro perdeu para sempre o sossego e que de vez em quando rompia o mutismo para cantar: "Desde la fuente de Xirús al Collau de la Mostayera, perdí yo tres mil ducados y una hermosa doncella"
E deixava cair o olhar melancólico pelos frondosos prados que resvalavam pelas ladeiras do vale, enquanto fustigava o gado...
NOTAS: (1)- "nuberos" - génios da mitologoa asturiana que causam as tormentas
(2)- "xana" - ninfa ou fada que habita nas fontes
(3)- "cuélebres" - dragões que habitam as cavernas, com asas de morcego, grandes caudas e corpo revestido de escamas duras como aço e que só podem ser vencidos se forem feridos na garganta.