Desde o verão de 1941, após a entrada em guerra com a URSS, que os alemães sabiam da existência dos despojos de algumas centenas de jovens oficiais polacos em uniforme, assassinados na floresta de Katyn com uma bala na nuca e lançados em valas comuns.
Essas descobertas multiplicaram-se nos primeiros dias de Abril de 1943.
O regime hitleriano, que acabara de sofrer pesada derrota em Estalinegrado, decidiu então tornar pública a sua descoberta de há ano e meio atrás com a esperança de separar os soviéticos dos seus aliados anglo-saxónicos.
Inquérito da Cruz Vermelha junto das valas comuns de Katyn, Março/Abril 1943
A URSS de imediato negou o crime que lhe era imputado, mas o governo polaco no exílio em Londres, dirigido pelo General Wladislaw Sikorski, desde logo solicitou um inquérito à Cruz-Vermelha Internacional.
Estaline, zangado, rompeu as relações diplomáticas com ele a 23 de Abril.
Churchill, que necessitava de Estaline para combater Hitler, mostrou-se preocupado com esta farpa no seio da Aliança mas o intransigente general Sikorski pereceu oportunamente num acidente de aviação em Gibraltar a 14 de Julho de 1943.
Para maior segurança e com o fim de enfraquecer o governo polaco exilado, Estaline criou em Dezembro um "Comité de Libertação Nacional" composto por comunistas polacos e que mais tarde seria chamado de "Comité de Lublin". Este comité aceitou sem pestanejar a versão soviética sobre os massacres de Katyn.
UM CRIME PENSADO
Desde Maio de 43 que uma comissão da Cruz-vermelha pôde levar a cabo o seu inquérito no local com o auxílio diligente, sem dúvida, das autoridades alemãs.
Assim, a CV chegou à irrefutável conclusão de que os massacres haviam sido cometidos em Abril e Maio de 1940, no momento em que os soviéticos ocupavam a região.
Porém, e para não alimentar a propaganda nazi, a própria Cruz-Vermelha guardou segredo sobre o relatório efectuado.
Apareceria mais tarde a conclusão de que, desde Março de 1943, os homens da NKVD(a polícia secreta soviética) tinham recebido do Politburo (o governo soviético) e do seu chefe Estaline a ordem para executar como "Contra-Revolucionários" os prisioneiros polacos que pertencessem à elite intelectual do país. Foi uma medida motivada, primeiro, pelo desejo de vingança pela antiga derrota sofrida pelo Exército vermelho em 1920, mas sobretudo pela vontade de preparar a tomada da Polónia eliminando imediatamente as cabeças fortes susceptíveis de se oporem!
Foi assim que, à ordem de Estaline, se executaram em Katyn, zona ocupada pelas forças soviéticas, vários milhares de oficiais removidos do campo de Kozielsk, avaliando-se em 22 mil o número total de jovens assassinados e oriundos das elites intelectuais e políticas da Polónia.
KATYN E A GUERRA FRIA
Depois da Guerra, no processo de Nuremberga, os procuradores soviéticos bem tentaram fazer incluir o massacre entre os crimes de guerra imputáveis aos acusados nazis, mas o tribunal recusou esta mascarada que pretenderam lançar sobre o "dossier de acusação" em mãos.
Durante vários decénios, os soviéticos e o governo comunista de Varsóvia tentaram contra ventos e marés apagar a recordação de Katyn, chegando mesmo a erigir como símbolo da barbárie nazi uma cidadezinha homónima, Khatyn, arrasada, essa sim, pelos alemães.
Foi preciso esperar pelo final da Guerra Fria e pelo ano de 1990 para que Mikhaïl Gorbatchev reconhecesse por fim a responsabilidade soviética.
EM JEITO DE CONCLUSÃO:
Estaline, de certo modo, conseguiu o seu propósito: através do massacre deliberado dos polacos mais instruídos, e de conluio com Hitler, conseguiu transformar o rosto da Polónia.
Esta era, antes da Segunda Guerra, uma sociedade relativamente moderna, encabeçada pelas elites urbanas cultas e ligadas por uma certa laicidade, fossem elas de origem católica ou judia. Com o arrasamento pensado e executado destas pessoas e a sua substituição por outras vindas do mundo rural, a Polónia, em duas gerações,tornou-se uma sociedade anacrónica no coração da Europa, unida pela pequena propriedade rural e por uma prática religiosa tradicional, talvez mesmo passadista.
Foi necessário esperar pela eleição de Karol Wojtyla (o Papa João Paulo II),o desmembramento da URSS e a adesão de Varsóvia à União Europeia para que a situação de marasmo mudasse no país.
Hoje, a Polónia começa a ser de novo um país desenvolvido e um parceiro europeu de respeito e de direito.
Viverão melhor os polacos? Isso, haverá que lhes perguntar.
NOTA : Em 2007 e 2008, o conhecido cineasta polaco Andrzej Wajda, já com 82 anos, rodou um filme-testemunho sobre este drama do seu povo e em que o próprio pai foi uma das vítimas.
Intitula-se, simplesmente, KATYN, e será estreado em França no próximo dia 1 de Abril.
Fontes e Fotos: De um artigo dos historiadores franceses Benjamin Fayet e André Larané, adaptado e traduzido por mim.
Publicação nº 709 de "O SINO DA ALDEIA" - Jorge P.G.Etiquetas: 2ª Guerra Mundial, crimes de guerra, História, informação, Katyn, massacre, Polónia