sábado, 28 de fevereiro de 2009
UM DOS MAIORES CRIMES DA HISTÓRIA
Queima de livros em Alexandria A BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA
“Os que queimam livros acabam queimando homens” - Heinrich Heine.
Na sexta-feira da lua nova do mês de Muharram, (1) no vigésimo ano da Hégira(2) (isso equivale a 22 de Dezembro de 640), o general Amr Ibn al-As (3), o emir dos agareus, conquistava Alexandria, no Egipto, colocando a cidade sob o domínio do califa Omar. Era um dos começos do fim da famosa Biblioteca de Alexandria, construída por Ptolomeu Filadelfo(4) no início do terceiro século a.C. para "reunir os livros de todos os povos da Terra" e destruída mais de mil anos depois. Como nos mitos, há na extinção da Biblioteca de Alexandria uma série de componentes políticos. A historieta com a qual iniciei esta coluna é uma das versões. É contra os árabes. Existem outras, contra os cristãos, contra os pagãos. Nenhum povo quer ficar com o ónus de ter levado ao desaparecimento da biblioteca que reunia "os livros de todos os povos". É curioso, a esse respeito, que o site oficial da biblioteca (http://www.bibalex.gov.eg/) só registe as versões anti-cristã e anti-pagã. A contrária aos árabes é descartada sem nem mesmo ser mencionada. Utilizo aqui principalmente informações apresentadas pelo italiano Luciano Canfora(5),in "A Biblioteca Desaparecida". . Voltemos à velha Alexandria. Amr Ibn al-As não era “uma besta inculta”, como se poderia esperar de um militar daqueles tempos. Quatro anos antes da tomada de Alexandria, em 636, ao ocupar a Síria, Amr chamara o patriarca e propusera-lhe questões bastante subtis acerca das Escrituras e da suposta natureza divina de Cristo. Chegou a pedir que se verificasse no original hebraico a exactidão da "Septuaginta", a tradução grega do Antigo Testamento, em relação a uma passagem do "Genesis" que surgira na discussão. . Logo que chegou a Alexandria, Amr passou a relacionar-se com João Filopão, um então já avançado em anos comentador de Aristóteles, cristão, da irmandade dos "filopões". Era também um quase herético, que defendia teses monofisistas(6), mas essa é outra história. No decorrer de uma das longas e eruditas discussões que travavam, Filopão falou a Amr da Biblioteca, contou como ela surgiu, que chegou a reunir quase 1 milhão de manuscritos e pediu a libertação dos livros remanescentes, que, como tudo o mais na cidade, estavam sob poder das tropas do general. O militar afirmou que não poderia dispor dos códices sem antes consultar o califa e prontificou-se a escrever ao soberano.Algum tempo depois (estou relatando a versão curta da história), o emissário de Omar chegou com a resposta, que não poderia ser mais clara: "Quanto aos livros que mencionaste, eis a resposta; se seu conteúdo está de acordo com o livro de Alá, podemos dispensá-los, visto que, nesse caso, o livro de Alá é mais do que suficiente. Se, pelo contrário, contêm algo que não está de acordo com o livro de Alá, não há nenhuma necessidade de conservá-los. Prossegue e destrói-os ". . Foi o que fez Amr. Dizem que ele distribuiu os livros entre todos os banhos públicos de Alexandria, que eram em número de 4.000, para que fossem usados como combustível. Pelos relatos, foram necessários seis meses para queimar todo aquele material. Apenas os trabalhos de Aristóteles teriam sido poupados. A história é curiosa, mas, como toda a história, diz apenas parte da História. Em termos mais objectivos, o mais provável é que a Biblioteca tenha sucumbido a vários incêndios. O iniciado por Amr a pedido do califa Omar teria sido o último dos últimos e também o mais credível, a confiar em Luciano Canfora. Outro incêndio frequentemente citado é o que teria sido provocado por Júlio César em 48 a.C., quando o general romano decidiu ajudar Cleópatra, que travava então uma espécie de guerra civil com seu irmão Ptolomeu 13, e ateou fogo à esquadra egípcia. O incêndio teria consumido entre 40 mil e 400 mil livros. Uma outra versão diz que o que sobrara da Biblioteca foi destruído em 391 da Era Cristã. Depois do Imperador Teodósio ter decretado a proibição das religiões pagãs, o bispo de Alexandria Teófilo (385-412 d.C.) determinou a eliminação das secções que haviam sido poupadas por incêndios anteriores, pois considerava-as um incentivo ao paganismo. . Na verdade, todas essas versões merecem alguma consideração e não são necessariamente incompatíveis, pois a Biblioteca, ao longo de mais de dez séculos de existência, foi-se espalhando por vários edifícios e depósitos da cidade. O fogo num deles teria poupado os demais, e vice-versa. (O incêndio provocado por César, por exemplo, ocorreu no porto. Só poderia, segundo Canfora, ter destruído livros recém-chegados ou prontos para ser embarcados, pois os edifícios principais da Biblioteca, o Museum e o Serapeum, ficavam longe do porto).
***** [1] - Primeiro mês do calendário islâmico e um dos quatro meses santos do ano. Visto que o calendário é lunar, o Muharram é móvel de ano para ano quando comparado com o calendário gregoriano. O 1º dia do Muharram é o início do ano novo islâmico.
[2]- Fuga de Maomé, de Meca para Medina, no ano 622 da nossa era,e que marca o início da era muçulmana.
[3] - Companheiro do profeta Maomé
[4] - Filho de Κλεοπάτρα θεά φιλοπάτωρ (Cleópatra VII do Egipto), tornou-se Governador da Fenícia, Síria e Cilícia.
[5]- "Mi chiamo Luciano Canfora, insegno Filologia greca e latina e mi occupo di storia. Come mai questo mestiere? Credo che le cause siano sempre molto soggettive, comunque ne immagino una. Quando facevo il liceo, eravamo alla metà degli anni Cinquanta, cioè in un'epoca di grandi contrapposizioni ideologiche, politiche, e questo spingeva a studiare la storia per capire il presente in un modo abbastanza cogente e anche, direi, drammatico. Ma, nel prosieguo di tempo, mi sono reso conto che questo studio, senza una buona attrezzatura, non si può condurre e allora il lavoro che faccio è un lavoro che si potrebbe definire un lavoro preparatorio allo studio della storia appunto, allo studio dei testi. Si discute molto se questo sia un mestiere produttivo, quello di studiare la storia. Molti dubitano che sia utile. Io credo che per cominciare una discussione sulla storia, possiamo vedere la scheda che racconta in breve di che la storia per lo più tratta. Sosteneva Cicerone che chiunque non fosse a conoscenza del proprio passato non avesse alcun futuro davanti a sé. L'affermazione, almeno in teoria, - nella pratica le cose stanno un po' diversamente e la storia la si insegna e la si studia poco - raccoglie il consenso dei più, ma non di tutti. Un filosofo, sicuramente un po' estremo, ma non per questo meno importante, come Friedrich Nietzsche, sosteneva infatti che la storia fosse una disciplina deprecabile e fuorviante, l'espressione massima di quel pensiero razionale, che impedisce di seguire gli istinti più profondi e vitali della natura umana. Maestra di vita per alcuni, come Tucidide, Erodoto e Marx, o esercizio inutile e addirittura dannoso per altri, vedi Seneca o Voltaire, comunque sia la storia occupa un ruolo decisivo nell'agire umano, dalla cultura alla politica. Quest'ultima, in particolare, è costantemente soggetta alle interferenze dell'interpretazione storica, fino a ingenerare l'annosa polemica sull'uso politico della storia. Qui il rischio della mistificazione è sempre in agguato. Sicuramente però lo studio della storia può aiutare a interpretare correttamente il presente. Non a caso alla storia, e al rigore analitico che essa richiede, i regimi totalitari di questo secolo, hanno contrapposto il mito, cercando, in presunte età dell'oro - la mitologia germanica per il nazismo, l'Impero Romano per il fascismo nostrano -, le proprie radici. Chissà se nei primi vent'anni del secolo ci si fosse applicati un po' di più allo studio della fine di imperi centrali e un po' meno a mitizzare i Nibelunghi, forse la barbarie nazista avrebbe trovato terreno meno fertile."
[6]- Defendem que há em Cristo apenas uma natureza, a divina
- Adaptado do “Site of Empires” por JPG - Notas de rodapé elaboradas por JPG
A nova Biblioteca
Publicação nº 695 de "O SINO DA ALDEIA" - Jorge P.G.
Sino tocado em
fevereiro 28, 2009 -
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