Mateus 15.14 "Se o cego guiar o cego, ambos cairão numa cova"
Pieter Bruegel - The Parable of the bind leading the blind -1568 (um dos últimos trabalhos)- Galleria Nazionale, Napoli
Neste mundo da blogosfera tenho encontrado de tudo um pouco, facto que nem é de espantar pois é mesmo de um mundo que se trata.
Não aquele real, visível e "pisável " ("treadable" à falta de melhor adjectivo em português), mas ainda assim suficientemente esclarecedor da massa humana que o percorre.
Há quase dois anos que entrei nesta realidade supostamente virtual. De então para cá, alguma coisa tenho aprendido e muito lido.
Sinto-me, portanto, habilitado pela experiência, e poder concluir que pouco difere do outro, daquele de que todos, mais, ou menos, nos queixamos e condenamos.
Desiludido não estou, antes cansado.
Sem rosto (ai os olhos, que falta faz ver-se os olhos...) nem identidade confirmadamente certa, vagueiam pela blogosfera os mais diversos tipos de criaturas humanas.
E vêm os curiosos, os voyeurs, imitadores e professores, moralistas e confessores, solitários e fazedores de opinião, solidários e individualistas, egoístas à procura da sua glória, hipócritas e sinceros, mentirosos e verdadeiros, gente de bem e de trapos, formados pelas escolas e pela vida, informados e incultos, mal e bem-amados, despeitados e compreensivos, invejosos e generosos, equilibrados e radicais,...
De todos tenho encontrado e quem de nós se pode arrumar, com rigorosa verdade, em uma, apenas, destas gavetas?
Mas de toda esta massa humana há alguns tipos que não suporto: os hipócritas, os bajuladores, os mentirosos, os invejosos, os líderes espirituais, as comadres beatas .
Todos os dias esta aldeia é sobrevoada por essas sinistras figuras, algumas de noite, pela calada e com pés de veludo. E espiam, conspiram, escondidos com o rabo de fora.
Sei quem são, não se melindre à toa quem estiver a ler.
Falsos profetas, moralistas do alheio, fazedores de opiniões dos fracos de espírito, vendilhões de solidariedade em embalagem plástica, pacóvios doutores, intrujões despudorados, juntai-vos, juntai-vos todos num concílio de deuses e de novos profetas, de catequistas reformados, de comadres de aldeia sem eira nem beira onde sentem os vossos gordos traseiros. Levai, levai convosco as ervas daninhas e deixai os campos florir.
Mas aqui não virão insultar a inteligência dos que a têm e a usam. Porque não vos quero, porque vos desprezo, porque não me escondo nem me disfarço. Estou aqui.
Desiludido? Não. Ainda gosto das pessoas, e neste mundo sem olhos visíveis tenho privado com gente muito boa e que é bem-vinda porque vem por bem!
Cansado, sim.
Publicação nº 485 - J.G.