-1 DE SETEMBRO DE 1969
-KADHAFI DERRUBA O REI IDRISS Ier
A 1 de Setembro de 1969, enquanto o rei Idriss Ier se havia deslocado à Turquia, o «Mouvement des officiers unionistes libres» do muito jovem capitão Mouammar Kadhafi, filho de um pastor e com 27 anos, organiza em Trípoli um golpe de Estado e depõe-no sem efusão de sangue. Forma-se, então, um Conselho Revolucionário.
A Líbia dota-se, assim, de um dos dirigentes mais megalómanos e mais incontroláveis do mundo, que não deixará o poder durante mais de quatro decénios.
-UM JOVEM
Descendente da tribo dos Gaddafa, nascido numa tenda beduína segundo uma lenda que ele se diverte a manter, Mouammar Kadhafi recebeu uma educação religiosa severa antes de se juntar às fileiras do exército em 1965.
Influenciado pelo prestígio do raïs (Chefe de Estado) egípcio Nasser,
o novo homem forte da Líbia atribui-se o posto de Coronel e empreende em fazer do seu país o ponta-de-lança do panarabismo, fazendo evacuar as bases anglo-saxónicas e expulsando os 12.000 italianos que trabalhavam no país.
Graças à grande quantidade do petróleo, desenvolve trabalhos titânicos no deserto líbio, onde cria enormes quintas colectivas e desenvolve a agricultura com a água das fossas do subsolo.
O seu aspecto físico de jovem actor romântico e acções caprichosas valem-lhe nos primeiros anos de poder a curiosidade divertida dos ocidentais e a simpatia dos nacionalistas árabes, os quais devem fazer luto por Nasser.
-O SONHO IMPERIAL
Em 1976 publica o
Livre vert ( O Livro Verde), inspirado no
Livrinho Vermelho de Mao Zedong, no qual rejeita tanto o capitalismo como o marxismo e declara que as eleições são uma mascarada. No ano seguinte, o seu próprio modelo de governo forma-se através da proclamação da «Jamahiriya» ou «Estado das Massas , em que o povo governaria de forma enviesada por comités populares . Outorga-se o título de « Guia da Revolução », exercendo na realidade todos os poderes.
A estrutura tribal da sociedade líbia justifica a seus olhos a recura das estruturas representativas, o coração da Jamahiriy, sendo ele a relação entre o estado e as tribos. O período colonial italiano, breve e complicado pela revolta dos beduínos, não havia na realidade deixado mais do que estruturas de estado frágeis.
A renda petrolífera facilita as coisas, permitindo a Kadhafi comprar a fidelidade das tribos ao regime, favorecendo contudo a sua própria, a de Gaddafa, ainda que muito minoritária.
Desde os primeiros tempos no poder, sonhando em reinar sobre uma grande nação árabe, Kadhafi elabora diversos projectos de união com os vizinhos sudaneses e egípcios, os quais vão definhando, e faz ocupar uma parte do território situado ao norte do Chade. Em 20 anos, Kadhafi fomenta oito projectos de fusão com outros países africanos ou árabes, todos votados a ficar em estado embrionário.
Nos anos 90, decepcionado pela atitude de outros países árabes, põe-se a defender uns «Estados Unidos de África» e em 2009, logo que acede à presidência da União Africana por um ano, autoproclama-se « o rei dos reis tradicionais de África".
Alimentando a imagem de personagem teatral, diverte-se em receber na sua tenda do deserto de Syrte, vestido com a roupagem tradicional dos beduínos e rodeado pelas suas « amazonas », mulheres-soldados ( para mais com tantas « afinidades »... ).
-DA EXCENTRICIDADE À PASSADEIRA VERMELHA
Além desta imagem extravagante, o «Guia» torna-se progressivamente a besta negra dos países ocidentais mantendo em nome do anti-imperialismo numerosos movimentos nacionalistas revolucionários, tanto palestinianos como irlandeses.
O Ocidente atribui à Líbia a responsabilidade pela grande vaga terrorista que o assola nos anos 80, especialmente desde os atentados de Roma e Viena contra os interesses israelitas e em Berlim contra uma discoteca frequentada por soldados americanos. Washington solicita, então, ao mundo para tratar Kadhafi como um pária.
Em 14 de Abril de 1986, dez dias após o atentado de Berlim, o presidente Ronald Reagan lança um ataque aério mortífero sobre as suas residências em Tripoli e Benghazi. A ONU decreta um embargo militar e aéreo e impõe sanções económicas ao país.
Os atentados perpetrados pelos líbios contra um Boeing sobre o Lockerbie, na Escócia, a 21 de Dezembro de 1988, e contra um DC-10 francês no Niger em 19 de Setembro de 89, reforçam ainda mais o isolamento do país, que recusa a cooperar com a justiça ocidental.