quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
GOETHE REVISITADO
Ao rever esta imagem não resisti. Fez-me regressar à minha universidade de há 30 anos e aos suores frios que Goethe nos fazia passar com o seu "Fausto". Porém, logo outra lembrança mais terna se associou: a de um poema do grande escritor, aprendido, decorado e recitado em cima de uma cadeira no então novíssimo Liceu de D.Pedro V, ali pertinho de Sete-Rios ainda cheirando a animais do Zoo quando o vento estava de feição. O 13, da praça do Chile para Carnide, tinha paragem e mudança de guarda-freio e condutor bem pertinho da porta principal do Jardim Zoológico de Lisboa, à época um local de romaria para quem vinha à capital e alegria certa da criançada. Às vezes, a troca de turno demorava uns minutos. Das janelas do carro-eléctrico as cabeças voltavam-se, embora os habituais utentes soubessem que nem um animal seria avistado. Escondidos pelas sebes e árvores, só do lado da Estrada de Benfica por onde carrilava o 1 para Benfica era possível vislumbrar algum. Foi então nessa época de estudante finalista do Liceu que o dedicado Dr. Cidreiro Lopes nos iniciou nas andanças da Literatura alemã. Foi por ele que acedi a expor-me em público e a dizer o tal poema de Goethe - "Erlkönig", o Rei dos Álamos. É o relato intenso, trágico, da viagem de um pai, numa noite de vento, transportando bem aconchegado e agasalhado junto ao peito um filho menino pequeno doente, numa cavalgada em busca de auxílio. Ao longo do poema, pai e filho vão dialogando. Um, com palavras de visões provocadas pelo delírio da febre e da morte que se lhe vai revelando na forma do Rei dos Álamos, de coroa e cauda, e que o vai tentando ao falar-lhe das maravilhas que o esperam se aceder a ir com ele. O pai, a cada revelação do menino, ternamente lhe diz que tudo o que vê faz parte da Natureza, é o vento que rumoreja por entre as folhas...é o nevoeiro baixo que deturpa a realidade... E a morte continua, ao longo do poema a puxar o rapazinho, a anunciar-lhe que sua filha o esperava para cantar e dançar para ele... São oito quadras de intensidade narrativa crescente até ao desenlace final, trágico. À beira da chegada a criança morre nos braços do pai.
Goethe, Johann Wolfgang von
Erlkönig
Wer reitet so spät durch Nacht und Wind? Es ist der Vater mit seinem Kind; Er hat den Knaben wohl in dem Arm, Er faßt ihn sicher, er hält ihn warm. -
Mein Sohn, was birgst du so bang dein Gesicht? - Siehst, Vater, du den Erlkönig nicht? Den Erlenkönig mit Kron und Schweif? - Mein Sohn, es ist ein Nebelstreif. -
"Du liebes Kind, komm geh mit mir! Gar schöne Spiele spiel ich mit dir; Manch bunte Blumen sind an dem Strand; Meine Mutter hat manch gülden Gewand."
Mein Vater, mein Vater, und hörest du nicht, Was Erlenkönig mir leise verspricht? - Sei ruhig, bleibe ruhig, mein Kind! In dürren Blättern säuselt der Wind. -
"Willst, feiner Knabe, du mit mir gehn? Meine Töchter sollen dich warten schön; Meine Töchter führen den nächtlichen Reihn und wiegen und tanzen und singen dich ein."
Mein Vater, mein Vater, und siehst du nicht dort Erlkönigs Töchter am düstern Ort? - Mein Sohn, mein Sohn, ich seh es genau; Es scheinen die alten Weiden so grau. -
"Ich liebe dich, mich reizt deine schöne Gestalt; Und bist du nicht willig, so brauch ich Gewalt." - Mein Vater, mein Vater, jetzt faßt er mich an! Erlkönig hat mir ein Leids getan! -
Dem Vater grauset's, er reitet geschwind, Er hält in Armen das ächzende Kind, Erreicht den Hof mit Mühe und Not; In seinen Armen das Kind war tot.
Em 2003, nos jardins do Castelo de Heidelberg, dera-se o meu último reencontro com Goethe.
Hoje, a imagem do cavaleiro, reconciliou-me com o escritor e revelou-me jovem.
Publicação nº 649 de "O SINO DA ALDEIA" (1ª publ. - 13.08.2006 in antigo blogue Recantos da Terra) - Jorge P.G.
Sino tocado em
dezembro 11, 2008 -
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