Qual a origem do presépio?
Faz parte do património cultural de cada país a preservação da sua identidade, dos seus valores, das suas tradições. Num contexto de crescente globalização, essa responsabilidade, que cabe a todos nós, surge dificultada pela crescente padronização de comportamentos à escala mundial. Por isso não é de estranhar que a quadra que agora atravessamos tenha sofrido uma tendência, em termos simbólicos e estéticos, a ser dominada por 3 imagens ou ideias chave, de importação estrangeira: o Pai Natal (de origem nórdica), uma árvore enfeitada (de origem germânica) e presentes, muitos presentes (reminiscência das ofertas entregues pelos Reis Magos aquando do nascimento de Jesus). Outros dos símbolos que associamos a esta data é o presépio, uma tradição bem mais antiga em Portugal.
O Presépio representa o nascimento de Cristo, e constitui um dos motivos mais notórios da estatuária portuguesa. Algumas notas históricas:
A palavra “Presépio” tem origem no hebreu, significando “manjedoura” ou “estábulo”. As primeiras imagens que representam a Natividade, e em que figuram Jesus, Maria e José, encontram-se desde o século VI, em mosaicos, no interior de igrejas e templos.
São Francisco começou a divulgar a ideia de criar figuras de barro que representassem o acontecimento, construindo em 1223 o primeiro presépio. A partir dessa altura, a ideia passou para os conventos e casas nobres, com representações cada vez mais luxuosas, algumas consideradas autênticas obras de arte. Num processo de mimetismo, e com as adaptações necessárias às posses de cada casa, os presépios foram-se tornando mais vulgares, mais simples, mais populares. Ao mesmo tempo, foram-se-lhe acrescentando mais figuras: o burro, a vaca, os reis magos, pastores, ovelhas, anjos…
A verdade é que, para Portugal, surgem documentados presépios, ligados a instituições religiosas, no século XVI. A sua generalização acontece no século XVII, sofrendo um forte desenvolvimento no período Barroco, em que grandes barristas como Machado de Castro e António Ferreira executam alguns dos mais ricos e belos exemplares hoje preservados. No século XIX, o presépio começou a ser objecto da arte popular, caindo em desuso a criação destes presépios monumentais.
Portanto já sabe… pode tirar do armário aquele presépio que não vê há anos; pode escolher um dos muitos disponíveis no mercado, desde os mais industriais às criações únicas do autêntico artesanato português; ou, se se sentir um artista e gostar de sujar as mãos, leve um pouco de barro para casa. E vai ver que o Natal vai ganhar um pouco do encanto de outros tempos…
in BLX -CML
Publicação nº 645 de "O SINO DA ALDEIA" - (1ª publ. in "o Arauto" de 02-12-2006)