segunda-feira, 29 de setembro de 2008
MACHADO DE ASSIS - 100 ANOS DEPOIS
Hoje, dia 29, e amanhã, a Fundação Gulbenkian acolhe um colóquio aberto "a todos quantos queiram conhecer o escritor" Machado De Assis, esse contemporâneo de Eça que viveu antes do tempo. Nascido no Rio de Janeiro e criado no morro do Livramento, veio a ser cronista, contista, jornalista, poeta, novelista, dramaturgo, romancista, crítico e ensaísta. Filho de um operário mestiço, perdeu a mãe muito cedo e foi criado pela madrasta, também mulata, que o matriculou na única escola que o escritor frequentou - a escola pública. Depois da morte do pai, quando ele tinha apenas 12 anos, Maria Inês, a madrasta fez-se doceira num colégio e Machadinho passa a ser vendedor de doces. Sempre apresentando uma enorme vontade de aprender, publicou o seu primeiro poema aos 16 anos e aos 17 conseguiu emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional continuando a escrever nos tempos livres. A partir de então, Machado de Assis não mais deixaria de publicar e de subir na escala social, tornando-se um bem sucedido homem das letras e tendo-se casado com D.Carolina, uma mulher culta e que lhe deu a conhecer os melhores clássicos da literatura portuguesa. À sua morte, em 1904, 35 anos após o casamento, publicou o soneto "Carolina" que a haveria de eternizar.
Epiléptico, gago, com uma saúde frágil, viria a falecer em 1908 aos 69 anos, faz hoje precisamente 1 século.
Dele, que é sem dúvida um dos maiores da literatura brasileira, viriam os críticos a afirmar que era: "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."
TALVEZ ESTE COLÓQUIO EM BOA HORA TRAZIDO A LISBOA DESPERTE OS EDITORES NACIONAIS PARA UMA DIVULGAÇÃO DA OBRA DE ASSIS À MEDIDA DA IMPORTÂNCIA DEIXADA NA LITERATURA DE LÍNGUA PORTUGUESA.
Que pelo menos algumas das suas incontáveis obras como: "Crisálidas" (poesia, 1864);, ou os romances "Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881, Quincas Borba, 1891 e Dom Casmurro, 1899, surjam justamente divulgados e presentes nas montras das nossas melhores livrarias. É que a literatura brasileira está longe de se resumir a Jorge Amado e a Erico Veríssimo, senhores editores! ASSIM SEJA! Texto: Jorge P.G.
Publicação nº 618 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G.
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setembro 29, 2008 -
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quinta-feira, 25 de setembro de 2008
OS PONTAS-DE-LANÇA MAGALHÃES
Pequenos, mas raçudos e prometendo muitos golos, chegaram anteontem a Portugal os novos pontas-de-lança do PS. 1/4 do plantel da equipa rosa desmultiplicou-se pelo país para os apresentar, contando com a presença do capitão Sócrates, de 3 sub-capitães e de oito roupeiros. Afirmando que os craques são portugueses, os elementos da equipa do Rato, actualmente com o centro de estágio ali para as faldas da Calçada da Estrela, deslocaram-se sempre acompanhados pelas câmaras do jornal do clube, o RÊ-TP, que se encarregou de que nem uma só portuguesa nem um só português ficassem na ignorância da chegada de tão importantes reforços.
Porém, a verdade é como o pó-de-arroz, nota-se sempre, ainda que o jornal do clube pressurosamente a tivesse ignorado.
Assim, saiba-se que este tipo de craques já joga desde 2006 em mais de 30 países embora com diferentes "nomes de guerra". Apenas algum software técnico e a camisola são portugueses.
O agente-Fifa Sá Couto, responsável pelo equipamento dos “Magalhães”, em Matosinhos, já produz há vários anos, entre outros, jogadores da equipa “Tsunami”, também com acesso à Internet nas soleiras das botas.
Saiba-se ainda, o RÊ-TP não o disse, que o Magalhães trabalha com um processador de actividade física (vulgarmente chamado "processador") Celeron e que o novo, da Intel, só aparecerá dentro de uns meses.
Assim, os 12 elementos da equipa contratante espalharam-se por todo o rectângulo de jogo nacional para receber, com toda a pompa e circunstância e as câmaras do RÊ-TP, cada um dos 11 camiões carregados com os “Magalhães” para os distribuir por 16 centros de estágio do 1º Ciclo, onde as crianças puderam contactar de perto com os seus novos ídolos.
Com estas aquisições, o clube rosa promete aos sócios uma vitória retumbante no próximo campeonato.
Infelizmente não possuímos nenhuma imagem dos Magalhães, porque o RÊ-TP ficou com todas e é muito invejoso.
Texto: Jorge P.G. Fontes: Luminosa, Lisboa
Publicação nº 617 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G. 01:20 a.m.
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setembro 25, 2008 -
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segunda-feira, 22 de setembro de 2008
QUE FUTURO QUEREMOS?
Qualquer um que lide diariamente com crianças em idade escolar poderá verificar que os casos de falta de atenção e de dificuldades de concentração e de memorização, assim como outros de hiperactividade impeditivos de bons resultados a nível das aprendizagens e da sociabilização, se têm vindo a multiplicar nas últimas décadas. Até agora têm sido sobretudo os psicólogos e os professores a intervir na tentativa de auxílio aos alunos que apresentam estas características.
No passado sábado, um artigo da correspondente de educação do "Daily Mail", Laura Clark, veio acrescentar algo sobre o problema que me deixou meditabundo e preocupado.
Diz a correspondente que em breve, dentro de uma geração, as escolas terão de assegurar a todos os alunos o acesso a "smart drugs", medicamentos que visam a potencialização das "performances" do cérebro, e isto de acordo com peritos oficiais. Estes avisam, mesmo, que os professores poderão vir a ser acusados de discriminação contra as crianças mais pobres se não lhes oferecerem as mesmas oportunidades de tomar uma nova geração de comprimidos que maximizam a atenção, a concentração e a memória. Dentro de uma geração, prevêem os cientistas, as "drogas do conhecimento" - as cogs - estarão tão avançadas que pais e professores serão capazes de "manipular a biologia" para aumentar o poder do cérebro dos miúdos. Se as "cogs" não estiverem disponíveis para todos mas somente para os que as possam adquirir, onde estará a igualdade de oportunidades, perguntam. Assim, caberá aos educadores saber o que tomam os alunos e dar uma ajuda na decisão sobre quem precisa das "cogs" e para que finalidade. As escolas realizarão então testes para regular e acompanhar o uso desses estimulantes, ainda de acordo com os pesquisadores. Dentro de 25 anos, as chamadas "smart-drugs" serão suficientemente específicas para que se possam escolher as indicadas para as dificuldades apresentadas pelos alunos.
O Ritalin, medicamento bem conhecido, está já a ser correntemente administrado por médicos para tratamento de défices de atenção e em casos de hiperactividade. Outras drogas, como Modafinil, Donepizil, Inderal, Dexedrine vêm sendo prescritas, apresentando todas os mais variados efeitos secundários, desde a falta de apetite, dores de cabeça, náuseas, insónias, fadiga, olhos secos, palpitações, até mesmo a redução do ritmo cardíaco e ataques de coração. O mercado negro já começou na Internet e há relatos de que estudantes da famosa Oxford University comercializam estes produtos nas bibliotecas. Perante um tal quadro, que regulamentação irá ser feita para que o uso destes potencializadores cerebrais se torne comum entre os adolescentes? Ser "menos brilhante" ou morrer mais cedo, eis a questão do futuro!
- Jorge P.G. - Fonte: "Daily Mail" de 20-Set-08 (page 9)
Publicação nº 616 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G.
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setembro 22, 2008 -
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sexta-feira, 19 de setembro de 2008
ESTOU FARTO, SENHORES, ESTOU FARTO...
Há dias, o Estado foi condenado a pagar 100 mil euros a Paulo Pedroso por danos morais na sequência da prisão preventiva que cumpriu por determinação do juiz Rui Teixeira, no chamado caso “Casa Pia". Pouco depois, uma outra decisão judicial, esta do Tribunal da Relação do Porto obriga o mesmo Estado a indemnizar Jorge Nuno Pinto da Costa em 20 mil euros por detenção irregular no âmbito do processo Apito Dourado.
De ambas as decisões o Ministério Público vai interpor, ou já interpôs, recurso. Mal lhe ficaria que o não fizesse, se é que não é mesmo obrigado a tal tomada de posição.
Não estando em causa para o grande público a justeza das decisões, o que ressalta aos olhos dos contribuintes é o espanto de se verem, eles próprios, a pagar indemnizações por uma errada aplicação da lei nos casos referidos, de acordo com quem teve a incumbência de os julgar. Algo terá estado menos bem na aplicação da lei, ou da justiça. Estes dois casos, pela sonoridade dos nomes envolvidos, foram capa de jornais e abertura de noticiários, mas não são isolados. Antes se inserem num número crescente de má aplicação das leis ou de deficiente instrução dos processos. Pagará agora o povo, e não quem errou, o que me parece não ser de todo admissível!
Claramente no seguimento destes casos, já veio o governo pretender passar a responsabilizar os juízes pelas decisões tomadas, desresponsabilizando-se uma vez mais pelas más leis que o Parlamento de maioria absoluta aprova. Uma política em tudo semelhante à que é seguida no Ensino, que responsabiliza e, pior ainda !, pune profissionalmente os professores pelo inêxito escolar dos alunos e pelo alheamento e/ou impreparação da maioria dos encarregados de educação dos que apresentam maiores dificuldades de aprendizagem e de sociabilização. Assim sendo, a pressão sobre juízes e professores intensifica-se para que não tomem decisões tidas por "politicamente incorrectas" (leia-se contrárias à vontade do actual Executivo em matéria penal e educacional.)
Entretanto, hoje mesmo, pode ler-se no CM que na margem sul "um auto-denominado PCP ( Primeiro Comando de Portugal, um clone do Primeiro Comando da Capital, fundado nos anos noventa por um grupo de prisioneiros de São Paulo), instalou-se na margem sul de Lisboa e é composto por jovens provenientes das favelas brasileiras. Têm hino no YouTube e agregam-se na internet, onde mostram alguns dos produtos do crime. Desafiam as autoridades e congregam o gosto pelas armas." Disparate! Assim classificou a notícia o secretário-geral do Gabinete Coordenador de Segurança à TSF, reputando-a de «imaginação fértil».
De novo, para o poder é "a imaginação fértil" de jornalistas e de populares que tem inventado todos os assltos a bancos, gasolineiras, tribunais, repartições de finanças, populares, casas comerciais, ... a que vamos assistindo e que as principais vítimas vêm sofrendo. Para os membros do governo e seus bem comportados mainatos os índices de criminalidade violenta mantêm-se iguais aos de 2004, atirando para o ar com dados estatísticos que todos sabemos que são o que se quiser que sejam. E não é que sectores pseudo-intelectuais de esquerda afinam pelo mesmo diapasão?!
Perguntar-me-ão, agora, por que razão liguei os casos de P.P. e de P.C. aos fenómenos de violência! Porque ambos me violentam por igual enquanto cidadão que nada deve ao Estado e do qual sou credor, por letra da Constituição, do direito à segurança e ao bem administrar da justiça. Basta de leis iníquas, de incompetência e de me tomarem por parvo com a propaganda fátua e demagógica das "mega-operações" policiais!
ADENDA: "Um relatório elaborado pelo Observatório Permanente sobre a Produção, Comércio e Proliferação de Armas Ligeiras conclui que o último Verão ficou caracterizado por mais violência, aumento da frequência de acontecimentos ilícitos e maior sofisticação e poder de fogo das armas utilizadas nos crimes." Quanto ao futuro, avança a Rádio Renascença, "as previsões são para um aumentar da insegurança."
- Texto: Jorge P.G. - Fontes: CM; TSF; D.Digital; R.Renasc.; outras notícias avulsas.
Publicação nº 615 - O Sino da Aldeia, porque avisar é preciso. - Jorge P.G.
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setembro 19, 2008 -
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segunda-feira, 15 de setembro de 2008
ESTÁDIO DO ALGARVE - UMA NOVA ESCOLA PORTUGUESA
«A modernização das escolas é obrigação do Estado», palavras de Sócrates. Ora aí está!
Cerca de 120 alunos de dois estabelecimentos de ensino de Loulé, a Escola de São João da Venda e a de São Lourenço de Almancil, vão ter aulas no Estádio do Algarve durante o ano lectivo que hoje começou em força. Com as suas casas em obras cujo final não se prevê para este ano lectivo, a edilidade e o ministério logo trataram de arranjar solução. O Estádio do Algarve, um daqueles que foram construídos para o Euro-2004 e cuja utilidade ainda está por ser provada, tem agora a honra de ser pioneiro como local de formação para os alunos e de trabalho para professores e funcionários.
Curioso é que todos parecem contentes.
O presidente da Câmara de Loulé não ficou nada insatisfeito e afirmou que "se todos concordassem na ida dos alunos para o estádio, a autarquia disponibilizaria os transportes e as condições para que as aulas funcionassem neste espaço". E acrescentou ainda: "Ao mesmo tempo, era motivador para as crianças virem aqui para o Estádio do Algarve, tendo aqui estes espaços verdes para brincarem", explicou Seruca Emídio, destacando o facto de as salas de aulas terem "muita luz".
Por sua vez, um dos garotos, de 7 anos, que nem dormiu com o entusiasmo, disse que se habituaria, apesar de "esta escola não ter "aquelas coisas para lavarmos as mãos quando pintamos."
A coordenadora da Escola de São João da Venda igualmente se mostrou agradada, apesar de ter referido um pequeno problema com as casas-de-banho. "Tirando o acesso às casas de banho que só as há cá em baixo, temos as salas de aula, refeitório, salas de professores e depois as casas de banho cá em baixo", afirmou Aldina Cândido.
Pelos vistos o único senão é o de toda a gente fazer chichi e cocó nas mesmas latrinas.
Ora, daqui lanço duas sugestões à edilidade, já que o ministério lhe "passou a bola", numa boa jogada de antecipação bem de acordo com o local escolhido para as aulas.
- Que nos dias pares da semana sejam os meninos a fazer cocó na relva do Estádio, ajudando assim à sua adubação, ficando os dias ímpares para as meninas, e evitando-se com esta táctica de jogo, e sem custos adicionais, que crianças e adultos usem as mesmas instalações sanitárias.
- Que a Câmara contrate treinadores e antigos praticantes do jogo da bola, para que na novel escola se possa leccionar uma nova área curricular - Técnicas de Futebol, visando que as crianças ganhem desde pequeninas diversas e importantes competências, tais como:
- "como fazer uma trivela" - "simulação de lesões" - "remates em folha-seca" - "a famosa finta agarra-que-é-ladrão" - "o remate-em-arco" - "a paradinha no penalty" - "a barreira dos cochões" - "o penteado como factor de sucesso" - "como fazer a mancha, sem rasteirar o avançado" - "a arte de enganar o árbitro" - "a língua gestual do futebolista" - "o tackle" - "como escarrar com técnica para as câmaras" e outras, todas tendo por objectivo levar o aluno a adquirir um maior grau de consciência cívica e de o preparar para enfrentar o futuro mercado de trabalho. Aguardo entusiasmado que outras autarquias do país com Estádios novos e imprestáveis possam com eles contribuir para a modernização do parque escolar, uma obrigação do Estado, como bem disse o Sr. PM de Portugal. Aqui, da torre, o Sineiro avisou e sugeriu.
Fonte: TSF Texto: Jorge P.G.
UM BOM ANO LECTIVO A TODOS !
Publicação nº 614 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G.Etiquetas: educação, Escola, estádio, Portugal
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setembro 15, 2008 -
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sábado, 13 de setembro de 2008
DA ISLÂNDIA, COM AMOR PELA NATUREZA
Embora só tendo obtido autorização para a publicação de duas fotos,
não resisti e sujeito-me às penalizações. Fotos e legendas de autoria do meu enviado especial à Islândia, Pedro McGeddes.
Em Thingvellir, uma flor (blóm) confirma a chuva.
Strokkur - Natureza Viva I
Gullfoss - Natureza Viva II
Parque Nacional de Thingvellir, fissura (gjá) entre as placas tectónicas da América do Norte e da Eurásia.
Drekkingarhylur, onde, nos velhos tempos, as mulheres consideradas culpadas de adultério e infanticídio eram afogadas.
Num país onde o ratio é de 1,5 ovelhas lanzudas por habitante, é natural que nos cruzemos com elas
Publicação Extra de O Sino da Aldeia - Fotos e legendas de P. F. Guedes
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quarta-feira, 10 de setembro de 2008
ZARATUSTRA e A SUA DOUTRINA
Quando se fala de ZARATUSTRA de imediato vêm à memória o célebre "Also sprach Zarathustra", 4 volumes compilados em um da autoria de Friedrich Nietzsche, ou então os melómanos associarão o nome à composição de Richard Strauss baseada no livro do filósofo alemão e cuja introdução viria a servir, 72 anos depois, em 1968, de fundo musical ao belíssimo "2001 - Odesseia no Espaço", de Stanley Kubrick, e aproveitado por Elvis para abrir os seus concertos de Las Vegas, em 1971 Mas quem foi, afinal, Zaratustra?
Resumidamente, Zaratustra foi um profeta que terá nascido na Pérsia, em Bactriana, actual Afeganistão, por volta do ano 660 a.C., segundo uns, ou até antes, de acordo com outros. Dele se diz que teve uma revelação divina da qual saiu o livro santo de Avesta que descreve a luta entre o "Reino das Luzes" e o das "Trevas" (Ahriman) e promete a todos os homens a imortalidade da alma sob reserva de um julgamento final. O livro esteve na origem da religião dos Persas, o mazdeísmo (de Mazda, Deus, na língua persa). O mazdeísmo sobreviveu até aos nossos dias entre alguns grupos indianos outrora chegados da Pérsia, como os guebros e os parsis de que nos fala Júlio Verne, embora não os distinga, no seu "Volta ao Mundo em 80 dias" ("...Era precisamente uma festa celebrada por estes Parsis ou Guebros, descendentes directos dos seguidores de Zoroastro, que são os mais industriosos, os mais civilizados, os mais inteligentes, os mais austeros dos hindus raça a que pertencem atualmente os ricos negociantes indígenas de Bombaim...")
Ainda hoje, estes grupos constituem, sobretudo na Índia mas em menor número também no Canadá e Estados Unidos, minorias activas e influentes no pensamento filosófico e religioso, e podemos encontrar certos princípios do mazdeísmo nas grandes religiões monoteístas da era actual. ZARATUSTRA - pintura de RafaelOra, Zaratustra teria então recebido uma revelação do deus Ahura-Mazda, ou Ormuzd, o qual criou Mithra, deus do sol, da lua e das estrelas. O fogo seria o filho de Ahura-Mazda. Por esta razão, os antigos persas, maioritariamente ligados à religião de Zaratustra - o mazdeísmo, ou zoroastrismo, nunca apagavam "os fogos sagrados". Esta religião dava um lugar preponderante aos magos, ou sacerdotes, encarregados de interpretar as revelações de Zaratustra, tendo introduzido na sociedade persa prescrições morais muito rigorosas como o culto da veracidade e da honestidade, ainda que tolerando uma grande liberdade sexual, a poligamia e os casamentos consanguíneos. Se bem que actualmente os seguidores desta religião se resumam a pouco mais de cem mil em todo o mundo, a importância do zoroatrismo é muito superior ao número dos seus seguidores. Fundado na Pérsia há mais de 3 mil anos por Zaratustra (literalmente significando "o da luz brilhante") ou, em grego, Zoroastro ("o astro de ouro"), foi ele que instaurou o monoteísmo e, de acordo com muitos especialistas, influenciou as 3 grandes grandes religiões monoteístas da nossa época - o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Tal com estas três religiões, a doutrina de Zaratustra afirma a existência de um Deus Supremo, de um Céu e um Inferno, promete a vinda de um Salvador, a ressurreição dos mortos e um julgamento final. O Deus Supremo é Ahura Mazda, o "Grande Criador", assistido pelos sete "Benfeitores Imortais", entidades abstractas que representam os diferentes aspectos da divindade (como os arcanjos). O primeiro deles é o Espírito Santo, cujo irmão, o Espírito do Mal, é a antítese . Os outros seis são: a Ordem, Justiça, a Energia creativa, a Integridade, a Imortalidade e a Devoção ao Sagrado.Nota final: Uma das maiores curiosidades desta doutrina é a concreta "condição de pai" de Ahura-Mazda, o Deus Supremo, muito interessante quando hoje tanto de discute a possibilidade dos padres católicos (os representantes de Deus na Terra) constituírem família. Analisem-se as semelhanças entre princípios do catolicismo e desta antiga doutrina e interroguemo-nos sobre os motivos da Igreja de Roma insistir na diferença quanto ao casamento dos seus sacerdotes. - Texto: Jorge P.G. - Fontes: Les Chroniques de l'Au-Delà - Zarathoustra; Zoroastre et le mazdéisme, première religion des Perses ; Les grands noms de l'Histoire, Larané, A. - Librio, 2008 Imagens: das fontes e da Net
Publicação nº 613 - 20:30 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G.
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sábado, 6 de setembro de 2008
INGLATERRA - FORMAÇÃO DE ESPIÕES DESDE OS 8 ANOS DE IDADE
"Children aged eight enlisted as council snoopers"
Este título lido ontem no "The Telegraph" captou, naturalmente, a minha atenção. Snoopers, que brandamente se poderá traduzir por "bisbilhoteiros", com 8 anos apenas e recrutados pelas Juntas de Freguesia (de certo modo são as equivalentes aos Councils) da velha e loira Albion? Para a realização de que tipo de tarefas?
Na realidade, o artigo refere que esses espiões, é este o termo correcto, têm por missão filmar ou fotografar os vizinhos que incorram em infracções menores, tais como espalhar lixo na rua, atirar para o chão pontas de cigarros, não reciclar devidamente o seu lixo, lançar objectos pelas janelas ou deixar os cães conspurcar os passeios. Os mais novinhos estão entre quase 5 mil moradores a quem em alguns casos são oferecidos prémios de 500£ se fornecerem provas de tais tipos de "infracções menores". Acrescenta ainda o jornal que um em cada seis Councils contactados afirmou aos jornalistas que havia recrutado equipas de "voluntários ambientais" cujos elementos são encorajados a fotografar ou filmar vizinhos culpados das referidas infracções e ainda a fornecer os seus nomes e os números das placas de matrícula dos veículos. Em Ealing, West London, as autoridades relataram mesmo que "There are hundreds of Junior Streetwatchers, aged 8-10 years old, who are trained to identify and report enviro-crime issues such as graffiti and fly-tipping."
Outras autoridades locais recrutam adultos através de anúncios em jornais da terra, estando já em acção nas ruas pelo menos 4 841 pessoas que as patrulham nos tempos livres. A algumas são fornecidos números de código à James Bond, usados em vez dos seus verdadeiros nomes quando telefonam para uma hotline especial para os informadores.
Um porta-voz de uma associação governamental local recusa classificar como "snoopers" os membros das brigadas. Segundo ele, essas pessoas são puros amantes do ambiente e da limpeza das suas localidades que querem proteger dos vândalos, dos grafitters e dos fly tippers. Outro representante local disse: “Precisamos de encorajar mais pessoas a interessarem-se pela sua comunidade. Se conseguirmos esse encorajamento desde tenra idade, esses miúdos crescerão respeitando o ambiente. O nosso Street Champions, que constitui um esquema totalmente voluntário, tem o apoio e o auxílio dos pais na integração das crianças nas tarefas, sendo altamente considerado e respeitado." E acrescentou ainda: "O esquema não trata apenas de os levar a relatar problemas ambientais; tomam igualmente parte em projectos que os ajudam a aprender novas competências e, num contexto mais amplo, boas noções de cidadania." Números apresentados pelo The Telegraph :
- 4 841 voluntários recrutados até à data
- 36 councils utilizam os volunteers
- 8 anos é a idade dos "snoopers"mais novos
- 500£ é a recompensa oferecida pelo Bromley Council por informações que levem a condenação por crimes ambientais
- 600 voluntários recrutados emLuton, o maior número de qualquer council
- 1 400 seguranças, recepcionistas e zeladores de parques automóveis podem agora passar multas de 60 £ "no acto", sendo-lhe portanto conferidos poderes de autoridade.
Perante esta realidade, e não duvidando da premente necessidade de pôr travão à falta de valores de cidadania em que a Inglaterra nos leva a palma de longe e há muitos anos, pergunto:
- recrutar miúdos saídos da 1ª infância e em pleno processo de aprendizagem, incutindo-lhes o gosto pela espionagem e pela denúncia, será muito diferente do que fez Hitler com a Mocidade alemã?
- fomentar a espionagem e a desconfiança entre vizinhos será muito diferente do que fazia a Pide em Portugal e a Gestapo nazi?
- em nome da defesa do ambiente, será lícito o recurso aos "bufos"?
- e se algo muito semelhante se vier a passar em Portugal?
Texto: Jorge P. Guedes
Fotos e Fonte: The Telegraph
Link para o artigo/fonte: --> The Telegraph
Publicação nº 612 - 23:53 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G.
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quinta-feira, 4 de setembro de 2008
SALVADOR ALLENDE e o MÊS DE SETEMBRO
Allende foi eleito em 4 de Setembro de 1970 para a Presidência da República, com 36,3% dos votos expressos, contra dois candidatos da direita, Jorge Alessandri(35%) e Radomiro Tomic (27,8%). Uma maioria curta validada pelo Parlamento graças ao apoio da democracia-cristã. E assim, pela primeira vez num país da América Latina, um marxista chegou ao poder através das urnas.
A presidência era frágil, naturalmente. Médico franco-mação saído da burguesia endinheirada, Allende fez-se apoiar numa coligação heterogénea, que ia do centro reformista atè à esquerda revolucionária, com trotskistas e maoístas, e com comunistas à mistura como era óbvio. O Partido Socialista de Allende era mesmo mais à esquerda que o próprio PC e aspirava à rotura com o capitalismo.
A nacionalização das minas de cobre e das principais empresas do país; a reforma agrária; o congelamento dos preços; os aumentos de salários;... para uns moderados e para outros demasiado radicais, nunca geraram a unanimidade nas suas fileiras de apoio. Em breve o Chile foi sacudido por uma violenta agitação da extrema-esquerda revolucionária (o MIR) que, e contra o aviso dos prórios comunistas(!), expropriou os proprietários de terras mesmo fora da legalidade
Com a subida dos preços e o afundamento da produção de bens alimentares, o país começou então a conhecer greves repetidas, como a dos camionistas, emanifestações de rua como a das donas-de-casa.
Simultaneamente, o Presidente tinha de fazer frente a uma oposição maioritária de direita no Parlamento. Esta era apoiada, "por baixo da mesa", por agentes secretos da CIA e financiada pelas multinacionais implantadas no país, entre as quais a gigante TELECOM ITT. Nos Estados Unidos, Nixon e o seu secretário de estado Kissinger, envolvidos ainda por cima no atoleiro vietnamita, receavam a reedição de um golpe de estado pro-soviético à maneira de Fidel Castro em Cuba, dez anos antes.
Então, a extrema-direita cometeu um atentado contra o comandante-em-chefe do exército, o general René Schneider, um fiel apoiante de Allende. O presidente apelou ao auxílio dos militares para se defender das ameaças que o perseguiam por todos os lados e, desconfiando da força aérea e da marinha, de tradições aristocráticas, apoiou-se nas forças de terra e no recrutamento mais popular. Nomeou, assim, um novo comandante, Carlos Prat, que por sua conta chamou para Chefe do Estado-Maior um general anódino de 58 anos, nada suspeito de activismos, proveniente de um meio popular e franco-mação como Allende, um tal Augusto Pinochet.
Em Novembro de 1972, Calos Prats tornou-se Chefe do Governo e Ministro do Interior, enquanto Pinochet o substituía no Comando do Exército, fazendo ambos face a uma rebelião de oficiais em Junho do ano seguinte.
A situação económica piorava e o Parlamento decidiu privar Allende de todoss os meios de acção, tentando ainda recusá-lo no lugar. O presidente tentou então o recurso a um referendo, mas o exército insurge-se e em 23 de Agosto de 1973, Prats deixou o comando do exército de terra para Pinochet. Duas semanas depois, em 9 de Setembro, os outros ramos das Forças Armadas decidiram pôr fim pela força à experiência socialista e persuadem o general Pinochet a juntar-se-lhes numa Junta Militar criada. E assim, na manhã de 11 de Setembro de 1973, unidades da Marinha atacaram o porto de Valparaiso e logo depois, em Santiago, soldados invadiram o palácio presidencial de La Moneda. Uma das últimas fotos de Allende, observando o ataque aéreo.
Cerca do meio-dia, a aviação bombardeou La Moneda, permitindo a invasão do palácio pelos soldados de terra. Allende proferiu então uma última alocução pela rádio. Segundo uns, para evitar cair nas mãos dos soldados, suicidou-se com uma rajada de metralhadora ou com a pistola que Fidel lhe dera. Para outros, como a própria sobrinha Isabel Allende, foi simplesmente assassinado. Tinha 65 anos.
O governo da Unidade Popular deixara de existir e com ele um sonho de muita gente. Para o Chile, foi o fim de uma prática democrática de dezenas de anos que lhe valera o elogioso epíteto de "Prússia da América do Sul" ou ainda de "Suiça da América do Sul".
Nos dias que se seguiram, dezenas de milhar de pessoas suspeitas de simpatias marxistas foram presas e concentradas no sinistro Estádio nacional de Santiago, onde os fuzilamentos sumários se multiplicaram. Víctor Jara foi um deles. Outros, desapareceram tragicamente nas prisões militares, e muitos foram torturados antes da sua execução efectuada das mais diversas formas violentas e sádicas, como serem lançados de aviões sobre o oceano...
Só 25 anos mais tarde Pinochet viria a ser indiciado por crimes contra a Humanidade.
Manteve-se no poder até 1990, tendo criado uma polícia política - a DINA (Dirección de Inteligencia Nacional), que viria a fazer desaparecer os seus opositores, tanto no Chile como fora do território.
O general Prats foi morto em Buenos Aires juntamente com a esposa, num atentado à sua viatura armadilhada.
Pinochet, entretanto, para recolocar a economia a seus pés, chamou a si jovens economistas diplomados pela Universidade de Chigago, os «Chicago Boys», que aplicaram à letra as receitas liberais do economista americano Milton Friedman.
Em 1988, finalmente, o "supremo chefe da Nação" realizaou um referendo. Com a URSS em agonia, desta vez o Chile não era de nenhuma utilidade para Washington. 54% dos votantes foram contra a prorrogação do mandato do velho Pinochet.
Em 11 de Março de 1990, Pinochet deixou a presidência, embora tendo conservado por mais oito anos(!) o comando do exército!
Detido em Outubro de 1998 em Londres, após uma perseguição movida por um juíz espanhol, Baltazar Garzon, que o pronunciara por crime contra a Humanidade, Pinochet regressou ao Chile 503 dias após a detenção na capital inglesa.
Morreu riquíssimo, em 10 de Dezembro de 2006, sem nunca ter verdadeiramente expiado os seus crimes.
Publicação nº 611 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G.
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setembro 04, 2008 -
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terça-feira, 2 de setembro de 2008
O DILÚVIO
The Flood, de William Turner(1805) - Tate Gallery, Londres Em 1872, perante a Sociedade de Arqueologia Bíblica de Londres, George Smith, um gravador que se tornara especialista em assiriologia do British Museum, decifrou o texto que figura numa placa de argila originária da Caldeia, na Mesopotâmia. Essa placa, aproximadamente do séc. XIII a.C. está escrita em caracteres cuneiformes, a mais antiga escrita conhecida, e conta nada mais nada menos do que o dilúvio! Anterior, pois, à Bíblia!
O relato do dilúvio na placa XI As semelhanças do texto da placa de argila com o texto bíblico são impressionantes, contando que um homem que encontrara a vida eterna, Utanapishtim, foi informado pelo deus da Sabedoria que a Assembleia dos deuses decidira destruir a humanidade. Então, o deus da Sabedoria aconselhou-o: "Destrói a tua casa e com ela constrói um barco! Renuncia às tuas riquezas para salvares a vida! Desprende-te de teus bens para que te conserves são e salvo! Mas embarca contigo espécies de todos os animais(...) Durante seis dias e sete noites, borrascas, chuvas torrenciais, furacões e um dilúvio continuaram a devastar a terra"
A tradução de George Smith, validada por um grande orientalista, demonstrará assim que o mito do dilúvio é anterior à Bíblia, ela mesma escrita por etapas no final do 1º milénio a.C.
Gilgamesh, um herói da Mesopotâmia.
A placa do dilúvio é a 11ª de um conjunto de doze em escrita cuneiforme que contam a epopeia mítica de um rei em busca da imortalidade - Gilgamesh. Este rei teria vivido por volta de 2600 a.C. na cidade de Ourouk(ou Uruk), queixando-se os súbditos da sua brutalidade, à qual as divindades haviam oposto Enkidu, um ser selvagem, meio animal meio homem. Ambos se combateram até se tornarem companheiros e amigos. Enkidu foi, então, punido pelos deuses que lhe deram uma morte inglória e Gilgamesh tentou o impossível para o fazer reviver antes de se resignar a reconquistar Uruk.
Foi nessa época que se terá dado o dilúvio narrado por Utanapishtim ao próprio Gilgamesh.Texto: Jorge P.G. Fotos: da NetNota: O texto integral da placa XI, em inglês, pode ser lido em: Table XI Fontes: - Zilbermann, J.F. - The epic of Gilgamesh, Table XI, The Story of the Flood - Epic of Gilgamesh re-told, P.Lauren, em: Epic of Gilgamesh
Publicação nº 610 - O Sino da Aldeia - Jorge P.G.
Sino tocado em
setembro 02, 2008 -
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