Uma rainha da Belle Époque
Margaretha Geertruida Zelle nasceu em 1876, filha de um comerciante de chapéus de Leeuwarden, a capital da província da Frísia, na Holanda.
Aspecto de Prinsentuin, em Leeuwarden, 1874, e a cidade de hoje pintada por Cor Jacobi
M'greet, assim chamada familiarmente, cresceu bem educada e com boas maneiras. A sua tez escura, pouco habitual entre os holandeses, fazia com que frequentemente a tomassem por euroasiática.
O pai, antes de reconhecer alguns revezes da fortuna, mimava-a muito. estudando na escola de Leiden, acabaria por ser expulsa devido ao seu envolvimento com o director (que, por sua vez, perdeu o lugar).
Acabou por casar com um capitão da Marinha, chamado MacLeod, 19 anos mais velho, um lobo-do-mar que cedo se revelou violento e amante do rum.
Vivem então nas Índias Holandeses e têm 2 filhos. O mais novo, Norman, morre vítima de intoxicação, à qual a irmã Non consegue sobreviver.
E em 1903 o casal regressa ao país.
Porém, Margaretha havia descoberto e vivido nas colónias uma vida excitante, o que a leva a divorciar-se e rumar a Paris.
Aí, principiou como dançarina "de charme" sob a aparência de uma princesa javanesa chamada Mata Hari ( O olho da aurora), no "Musée des études orientales", mais conhecido por Musée Guimet, que então possuía uma sala de espectáculos privada...
A representação da noite de 13 de Março de 1905, patrocinada pelo rico homem de negócios e mecenas Émile Guimet, perante uma plateia de privilegiados, consistiu num quadro animado representando o deus hindú Shiva de 6 braços recebendo a homenagem de uma plêiade de princesas conduzidas por...Mata Hari vestida com um collant côr-de-rosa e resplandecente de ouro e jade.
A sala exulta e uma espectadora, a escritora Colette, anota na sua crítica: "Ela não sabe dançar, mas sabe despir-se progressivamente e mover o seu corpo esguio, moreno e orgulhoso de si."
O espectáculo prossegue então o seu grande êxito em locais como Madrid, Monte Carlo, Berlim, Haia, Viena e, mesmo, no Cairo.
Mata Hari, Paris, Janeiro de 1910
A jovem artista passa então a conhecer protectores colocados nos mais altos cargos.
Uma nova fase
Após a entrada na Guerra das potências europeias, em Agosto de 1914 Mata Hari, que falava várias línguas e viera de um país neutro, permite-se viajar livremente por toda a Europa ,em Paris, instala-se no Grand Hôtel onde abundam os uniformes engalanados.
Os jovens pilotos de caças gozavam particularmente de um prestígio irresistível e assim, em 1916, a Bela toma-se de amores por um capitão russo ao serviço da França, filho de um almirante, chamado Vadim Maslov. Com 21 anos apenas, o rapaz lembra-lhe porventura o filho que morrera ainda em criança.
O belo russo é abatido e tratado num hospital de campanha.
Para conseguir visitá-lo na enfermaria, Mata Hari tem de pagar esse favor com a promessa de ir espiar o Kronprinz ( o príncipe herdeiro do Império Alemão) que está entre os seus conhecimentos.
A naïve cortesã toma então um barco para a Holanda, de onde seguiria para a Alemanha.
Os serviços secretos britânicos interceptam-na numa escala do navio em Falmouth, mas nada lhe conseguem apontar apesar de um apertado interrogatório.
Então, Mata Hari disfarça a sua intenção de viajar para a Alemanha regressando a Madrid onde não tarda a seduzir o adido militar alemão, o major Kalle.
Este, transmite vários cabogramas para Berlim respeitantes a submarinos com destino a Marrocos e sobre manobras de bastidores para colocar o príncipe herdeiro no trono da Grécia, assinalando nesses relatórios que "o agente H-21 se mostrara muito útil"...
Mas estas mensagens foram interceptadas pelos Aliados...
continua no próximo episódio
Publicação nº 393 - J.G.