Eu bem não queria voltar à política. Mas eles não se calam...
Ontem deitei-me cedo e, como sempre acontece, acordei quando a noite ainda reina, uma noite em que a Catalina está envolta num espesso manto de nuvens e o Lorenzo, ou muito me engano ou nem sequer virá a sair à rua.
Sentei-me, e dei comigo de olhos postos no "Público" de 6ªfeira: "Lei do tabaco: Fumo admitido em locais com menos de 100m2. O PS prepara-se para abrir as portas a uma solução que permita aos pequenos estabelecimentos escolherem se querem ser livres de fumo ou assumidamente espaços para fumadores, enquanto os maiores poderão ter áreas onde se pode fumar".
A "solução" terá mesmo já sido ontem levada ao seio do grupo de trabalho para-lamentar, propondo uma via "que não fira a regra geral do governo de proibição nos espaços Horeca (hotéis, restaurantes e cafetarias, incluindo bares e discotecas)".
Estão, portanto, os PSs preocupados em "tornar a lei exequível e não fundamentalista".
O que é engraçado é que, com pequenas variantes, todos os outros partidos estão de acordo. O CDS-PP (leia-se, Paulo Portas) vai até mais longe, defendendo a livre opção dos proprietários, à semelhança do que ocorre já em Espanha.
Agora pergunto eu: não teria sido mais lógico e poupado muito do tempo precioso dos senhores deputados que o governo, antes de legislar sobre a lei do tabaco, tivesse ouvido os diversos grupos parlamentares? É que até as coimas deverão ser alteradas, passando-se dos 50 a 1000 euros para os 10 a 150, previstos na lei para o consumo de drogas leves, o que também é defendido pelos PPs.
Temos, assim, que o conservador partido do Portas é, nesta matéria, o mais flexível. Curioso!
O pesado imposto sobre o tabaco que é arrecadado pelo Estado está a levar à flexibilização da lei, mandando às malvas a saúde dos portugueses que hipocritamente tem sido a justificação das proibições.
Quer dizer: Não fumes, que podes morrer mais cedo e matar os que te rodeiam, mas se quiseres fumar...fuma, que até te damos "brown cafés" para te intoxicares à vontade. FUMA MAS DEIXA CÁ O TEU!
A partir de uma ilustração do séc. XIX - Le Tartuffe, Acto III , Cena 3
Não está em causa, para mim, a revisão da lei. Desde sempre defendi que deve ser deixada aos proprietários e aos utentes a liberdade de permitir e aceder aos espaços referidos. Apenas entendo que deve ser afixado à entrada e de forma bem visível o anúncio de "pode-se fumar" ou "espaço para não-fumadores". E também, em nome da verdade e da transparência, que o senhor primeiro-ministro tanto gosta de apregoar, sejam apostos avisos nos maços de tabaco semelhantes ao que aqui acima sugiro .
O que não entendo é a lei que vigora e o porquê dela ter entrado sem pedir licença nem parecer e agora faça marcha-atrás. Será que o consumo diminuiu e o governo está a sentir a falta do contributo dos fumadores para a redução da dívida pública ? (Certamente por mera coincidência e para auxiliar os portugueses a que deixem de fumar, A Tabaqueira lançou há pouco uma nova marca a 2.60 euros. Irresistível!)
Fico agora à espera de propostas para alteração aos limites de velocidade, algo do género: Em determinadas auto-estradas a velocidade máxima é ilimitada ou, entre o Km xis e o Km ípsilon, acelere a fundo! Só haverá que aumentar os carburantes, as portagens, os seguros automóveis,... para comprar mais umas ambulâncias e, claro, prestar melhor auxílio às vítimas dos acidentes!...
E tudo a bem da saúde e da segurança da Nação!
Eu sinto-me tartuficado, e vós, que dizeis ?
AH! E como está um dia de chuva e vento, se vos apetecer ouvir uma musiquinha, cliquem aqui para ouvir o canadiano Jeremy Fisher em "Cigarette".
Publicação nº 400 de "O Sino da Aldeia" - J.G