quarta-feira, 20 de junho de 2007
As freiras, o poeta e o dinheiro.
Assinada por JESÚS RUIZ MANTILLA e com data de 18/06/07 o El País publicou uma reportagem de que aqui dou conta, adaptada e traduzida.O poeta delicado, criador de "Platero", Juan Ramón Jiménez, Prémio Nobel em 1956, proverbialmente monógamo e dispensando amor eterno a sua mulher, Zenobia Camprubí, que o acompanhou desde 1913, teve um passado turbulento de conquistas até aqui desconhecidas. Um dos poucos poetas que hoje provocam unanimidade entre os seus descendentes artísticos pela sua mestria, teve uma juventude bem agitada no que a aventuras amorosas diz respeito. A sua obra "Libros de amor", num volume de poesia sensual, erótica e explícita das suas paixões que é hoje apresentado na Residência de Estudantes e que não chegou a publicar em vida para não ofender a sua mulher, que acabara de conhecer quando o havia terminado, aparece agora na Editora Linteo com um trabalho cuidado de José Antonio Expósito Hernández.Neste livro, "com 25 poemas inéditos", assegura Expósito, dos 3.600 que este perito tem catalogados, Juan Ramón desvenda todas as suas paixões carnais e idílicas com jovens camponesas da sua aldeia, com casadas, entre as quais a mulher de um médico que o tratara em sua casa e à qual, tendo ele 19 anos e ela 29, se refere escrevendo: "Lo mentido era escudo forjado por los dos / a los actos más bajos; ella ansiaba... saciarse / por si la vida no le daba el goce... honrado... / Yo iba sólo por un afán de novedades...". e ainda com noviças do Sanatório das "Hermanas de Santo Rosário, em Madrid, o que provocou protestos dos seus actuais responsáveis. O poeta teria mantido relacionamentos com três freiras do sanatório dirigido pelas Irmãs do Santo Rosário quando esteve internado no local para tratamento da saúde, entre 1901 e 1903.O autor referia-se mesmo aos dois anos que lá passou, em Madrid, como “os dois anos mais felizes” da sua vida.Terá tido relações com três noviças: Amalia Murillo, a Hermana Filomena e, sobretudo, com Pilar Ruberte (indicada na foto). A elas são dedicados vários poemas e nos seus diários íntimos podem ler-se palavras que não deixam margem para dúvidas."Hermana Pilar, ¿tienes aún tan negros tus ojos? ¿Y tu boca tan fresca y tan roja? Y tus pechos... ¿cómo tienes los pechos? Ay, ¿te acuerdas cuando entrabas en las altas horas en mi cuarto, cuando me llamabas como una madre, cuando me reñías como a un niño?". Noutro poema, à mesma noviça, pode ler-se : “Irmã! Desfolhávamos nossos corpos ardentes, em uma profusão sem fim e sem sentido. Era outono e o sol - lembras? – adoçava tristemente a morada com um esplendor doce”.Para Expósito, tanto este livro como "Ellos", também editado pela Linteo, mostram o poeta longe da sua imagem esquiva e em permanente exílio interior e provam que há grande parte da sua obra que não se baseia em ficção mas sim em experiências reais.Entretanto, no passado dia 12, no Teatro Central de Sevilha, José María Roca , apresentara a estreia de uma peça inspirada na biografia da esposa do poeta - Zenobia. Zenobia Camprubí, que nasceu na Catalunha em 1887, foi uma das primeiras feministas espanholas, tradutora e professora universitária. Casou-se com Juan Ramón Jiménez em 1916 e desde então converteu-o no seu projecto de vida, apesar de para o fim as neuroses e os problemas de saúde do antigo Prémio Nobel a terem levado a pensar em abandoná-lo. Comentário meu - Perante estes dados, pergunto, o que será mais polémico?- Os amores calados até hoje, embora a senhora já tenha falecido em 1956...- ou a coincidência da saída do livro onde se relatam os idílios amorosos do poeta com a subida à cena de uma peça sobre a "enganada" esposa?Será que, para ganhar dinheiro, já nem os mortos e seus descendentes se respeitam ? ou estarei "a ver mal a coisa"? Publicação nº 404 - J.G.
Sino tocado em
junho 20, 2007 -
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