Deus te salve, Rosa (popular Trás-os-Montes/J.Afonso/A.C.Oliveira
Deus te salve, Rosa
linda Sarafina
Tão linda pastora
que fazes aí?
Que fazes aí,
de noite c'o gado?
Mas que quer, Senhor,
nasci pr'a este fado.
De noite c'o gado,
corre grande p'rigo
Quere a menina
venir-se comigo?
Não, não quero, não,
tão alto criado
de meias de seda
sapato delgado.
Sapatos e meias
tudo romperei
por amor da menina
a vida darei.
Vá-se ó magano
Não me cause mais ódio
Que há-dem vir meus amos
Trazer-me o almoço.
Se há-dem vir seus amos
Isso é o que eu gosto
Quero que eles saibam
Que eu falo com gosto.
Adriano Correia de Oliveira
Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira nasceu no Porto, a 9 de Abril de 1942.
Aos 17 anos matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, mas nunca chegou a acabar o curso.
Adriano nasceu e viveu num meio familiar tradicionalista e católico. Com poucos meses de idade foi residir para Avintes, na Quinta de Porcas, onde viveu também os seus últimos dias. Ali fez a instrução primária e, depois, no Porto, o curso dos liceus, no Colégio Almeida Garrett e no Liceu Alexandre Herculano.
Em Avintes iniciou-se no teatro amador e colaborou na fundação da União Académica de Avintes. Iniciou-se também na prática do voleibol - beneficiando dos seus dotes atléticos e da sua altura - e mais tarde, já em Coimbra, foi campeão nacional desta modalidade.Nesta cidade Universitária desenvolveu grande actividade nos organismos estudantis da Academia: cantou e foi solista no Orfeon Académico, fez parte do Grupo Universitário de Danças Regionais e integrou o CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra) onde representou várias peças.
Chegado a Coimbra, Adriano Correia de Oliveira cedo se evidenciou na Academia, quer através da sua intervenção cultural e política, quer através da prática desportiva.
A sua primeira ambição musical, com 17 anos de idade e ainda "caloiro", foi a de tocar viola eléctrica no Conjunto Ligeiro da Tuna Académica, do qual faziam parte José Niza, Daniel Proença de Carvalho, Rui Ressurreição, Joaquim Caixeiro e outros. Como José Niza já "ocupava" o lugar de guitarrista, Adriano abandonou a ideia e dedicou-se ao canto, iniciando-se naturalmente pelo Fado de Coimbra, tendo gravado o seu primeiro disco - "Noites de Coimbra" - em 1960.
Nessa altura vivia-se ainda em Coimbra uma das fases mais ricas da canção feita pelos estudantes, dominada pelas vozes de Luis Goes, Fernando Machado Soares, José Afonso e pelas guitarras de António Brojo António Portugal, Jorge Tuna, Jorge Godinho e Eduardo e Ernesto Melo.
Adriano - embora não tendo sido contemporâneo, nos estudos, dos cantores referidos - conviveu com eles, sobretudo com José Afonso e Machado Soares, os quais, embora já fora de Coimbra, continuaram a manter uma ligação muito estreita com a vida académica e a influenciar os cantores estudantes dos anos 60, dos quais Adriano foi companheiro: Barros Madeira, Lacerda e Megre, Sousa Pereira, Vitor Nunes, José Mesquita, José Miguel Baptista, António Bernardino e outros.
A obra completa de Adriano foi editada pela Movieplay Portuguesa e contem os 90 títulos originais que o cantor deixou gravados, todos eles para a Editora Arnaldo Trindade, Lda - Discos Orfeu.
Em 1963, com a gravação de "Trova do vento que passa", Adriano iniciou uma nova fase da sua intervenção musical e política, que veio - tal como José Afonso-, a imprimir à música popular portuguesa uma dimensão ímpar e nova.
Gravou variadíssimos álbuns, cantando poemas dos mais variados autores portugueses e melodias que encantaram e prevaleceram como baluartes da canção de intervenção. No seu repertório aparecem diversas trovas, (esse tipo de música que na Idade Média os aventureiros da cultura, percorrendo a Europa, levavam de terra em terra. Melodias vindas, muitas vezes, não se sabia de onde, mas que era uma forma de mostrar a outras pessoas as tradições, a cultura, as lendas, os costumes, os romances, o estilo de vida, que, desta forma, eram apresentados nas localidades a que chegavam e, posteriormente, também daqui transportados para outras terras).
Gravações feitas no antigo regime são um testemunho do seu profundo amor à causa da Liberdade, para a qual sempre deu o seu melhor, no sentido de levar mensagens e um pouco de conforto aos companheiros exilados, presos ou que tinham de sufocar as ideias democráticas.
Ao lado de José Afonso, Luís Cília, Manuel Freire, Luísa Bastos, José Jorge Letria, Francisco Fanhais, José Mário Branco - e outros tantos -, foi um baluarte na defesa da Liberdade e na implementação da chamada "canção de intervenção".
Muito cedo nos deixou, quando estava no auge da sua carreira. Viveu um pouco da música e do seu posto de trabalho na Embaixada de Angola no Porto. Estava ainda a terminar o curso de Direito. A morte, porém, levou-o a 16 de Maio de 1982, com apenas 40 anos, devido a uma doença súbita.
Citando Manuel Alegre, " a voz do Adriano era uma voz alegre e triste. Solidária e solitária, havia nela ternura e mágua, esperança e desesperança, amparo e desamparo, festa e luta. E também saudade e fraternidade. Nenhuma outra voz portuguesa, com excepção da de Amália Rodrigues e José Afonso, está tão carregada desse não sei quê antigo que trazemos no sangue, como o apelo do mar e o amor da terra, como toada e o som do nosso próprio ser, do seu ritmo secreto, da sua música primordial. Voz de Fado e de destino, herança talvez do mouro e do celta que nos habitam, a voz de Adriano tinha também o masculino apelo do rebate e do combate. Era uma voz que precisava de poesia e de que a poesia precisava".
Fontes: Internet
Publicação nº 201 - jorgg