Eça, aos 25 anos. Um dandy!
Terminou a votação para o escritor português preferido pelos leitores amigos d'O Sino da Aldeia. Naturalmente que, num universo minúsculo como este, não se vão tirar outras conclusões que não sejam a muito razoável aceitação dos amigos d'O Sino pelo passatempo e outras conjecturas meramente pessoais.
Foi para mim perfeitamente esperada a preferência dada a Eça de Queiroz, primeiro porque é um grande romancista e muito divulgado, até através de adaptações televisivas de obras suas, e depois porque Eça conquista facilmente qualquer leitor pois conseguiu ser inigualável na captação do espírito do português de qualquer classe social. E também porque a ironia e a mordacidade, o poder cáustico do escritor para com pessoas e instituições, lhe conferem o estatuto de arauto do pensamento dos que não têm voz, mantendo ainda uma actualidade sem par.
Outra ilação pessoal dos resultados finais, diz-me que os poetas nunca são lidos e amados por tanta gente como os prosadores, o que terá a ver com a maior complexidade de leitura da poesia, da grande poesia, e do bem menor investimento que nela fazem as editoras mais poderosas.
Se Antero de Quental, para mim um enorme poeta, sonetista fantástico, não obteve mais votos, tal não me surpreendeu porque, sendo dos maiores, não é, e desde há muitos anos, dos mais divulgados.
Já Camões, que eu acreditava poder disputar com Eça, Pessoa e Saramago o 1º lugar, me deixou espantado, se bem que o seu progressivo apagamento dos programas de Português de há uns anos para cá, possa de algum modo explicar este número de votos.
Quanto aos demais, naturalmente que o seu valor e prestígio, aliados à profusa divulgação de um Nobel Prize, se faria sentir em Saramago. Tivesse esta amostra sido realizada um ou dois anos antes de vencer o Prémio e estou certo que não passaria de um lugar lá mais para o meio da tabela.
Pessoa, qual Pessoa?, ficou no pódio. Qualquer um deles ficará sempre entre os maiores. Qualquer deles é e será universal. Mas é preciso lê-los!
Fiquei muito feliz com os votos obtidos por Miguel Torga, poeta extraordinário e que chega a toda a gente, não significando que seja menor a sua vasta e brilhante obra.
A. Lobo Antunes continua a ser uma espécie de escritor maldito e de leitura nada imediata, rebuscada mesmo, densa e tumultuosa, pelo que achei até surpreendentes os votos recolhidos.
Camilo, definitivamente, estará a cair no esquecimento de muitos portugueses, o que lamento.
Dos restantes grandes escritores, nada aconteceu que não fosse previsível. Até Bocage, por certo dos mais conhecidos nomes de todos, é penalizado naturalmente pela colagem que a ele se tem feito de escritor menor, como se fosse pouco mais do que um contador de anedotas de café. Nada mais injusto e mais falso!
Gostei imenso que tantas pessoas tenham colaborado. Foi bom e lembraram-se aqui alguns nomes que estavam algo esquecidos. Foi a contribuição possível d'O Sino da Aldeia para divulgar escritores portugueses e estimular o prazer pela leitura.
Segue-se já uma outra sondagem. Esta, em perfeito tom de brincadeira mas sem pretender brincar com sentimentos de fé nesta época do Natal. É uma sondagem, digamos, anti-stress, numa altura em que bem necessitamos de rir um pouco dos que de alguma forma nos possam oprimir as gargantas. Espero e desejo da vossa parte um interesse semelhante para esta brincadeira dos "Presentes para o Chefe". Um abraço a todos. - Jorge G
Classificação Final para a posteridade
1º - Eça de Queiroz - 19 votos
2º - José Saramago - 13 votos
3º - Fernando Pessoa - 12 votos
4º - Miguel Torga - 9 votos
5ºs - Aquilino Ribeiro - 5 votos
A. Lobo Antunes - 5 votos
Luís de Camões - 5 votos
8º - Nenhum destes - 4 votos
9º - Camilo C. Branco - 3 votos
10º - Pre. Ant.º Vieira - 2 votos
11ºs - Antero de Quental - 1 voto
Bocage - 1 voto
Teixeira de Pascoaes - 1 voto
Vergílio Ferreira - 1 voto
15º - José Régio - 0 votos
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47 votantes
81 votos
Muito Obrigado.
Publicação nº 191 - jorgg