O Sol de ontem manteve a curva descendente que o vem caracterizando desde o 3º número, para mim o mais equilibrado.
Na descontrolada corrida às vendas, para justificação aos investidores ou para satisfação pessoal do seu director, ou por qualquer outro motivo, o jornal “bomba” que iria abanar a imprensa escrita e fazer ajoelhar o Expresso tem vindo a aproximar-se de um misto do Correio da Manhã e do Independente da Inês Serra Santos.
Títulos apelativos sem correspondência nas páginas interiores, vendendo-se o gato por lebre, uma paginação desordenada, imagens de capa da pior qualidade, uma contra-capa com toda a aparência de ser fechada à pressa, várias páginas interiores preenchidas por inteiro com publicidade e mesmo as poucas notícias com alguma originalidade são tratadas pela rama, com uma pobreza de análise do seu conteúdo que levam o jornal a assemelhar-se a uma qualquer publicação que se lê na viagem de metro ou de autocarro.
Da revista “Tabu” ( que raio de nome!), que continua a linha iniciada logo na 2ª ou 3ª edição, isto é, a linha descendente, só posso dizer que, acabados Guedes e Mouras para entrevistar, se voltou para figurinhas mais polémicas e rasteiras. Esta semana, quem quiser saber das “viduchas” de Pinto da Costa e das suas ex-namoradinhas ou ex-esposas, dos pequenos mexericos do mundo do presidente do F.C.Porto e dos bares de alterne, tem lá para se deleitar várias páginas (18!, ou seja, cerca de 20% do total) intervaladas por 4 ou 5 preenchidas com publicidade .
Pouco se salva nesta 1ª edição, talvez só mesmo a reportagem sobre o reencontro de Cesariny com Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco, profusamente ilustrada com obras dos artistas e o recordar de episódios interessantes do seu passado. Mas mesmo aqui, o mérito vai para quem conta e não para quem pergunta ou suscita outros motivos de conversa sempre decorrentes de uma boa entrevista.
E como se tudo isto fosse pouco, acresce que o Sol continua a dar guarida a gente do quilate da esgrouviada autora de contos de cordel Margarida Rebelo Pinto, uma best-seller em Portugal desde que se lembrou de escrevinhar para as massas mais iletradas do país, usando como argumentos das suas historietas os mesmos das fotonovelas que tanto se vendiam a quem mal sabia ler. A chacun, son public...
No número de ontem, a histriónica criatura pôs-se a dar conselhos sobre os pecados, o amor, o prazer ( uma ideia recorrente em MRP ), tudo com frases estereotipadas, batidas e rebatidas, que se podem ouvir nas filas de espera dos autocarros ou nas urgências dos hospitais.
E ofereceu-nos, destacadamente e com duas palavras a cheio, esta pérola que considero “A Frase da Semana” e desejo partilhar convosco:
“O prazer é como uma caixa de bombons belgas: temos sempre de lá voltar.”
Les pralines belges de Margarida
Mais palavras… para quê? - Jorge G
Publicação nº 148 - jorgg