O Procurador-Geral de Marseille, na conferência de Imprensa desta manhã, foi célere a advogar a culpa do co-piloto no acidente do Airbus A320 da Germanwings nos Alpes. Segundo o senhor, houve acção voluntária do co-piloto, sozinho no cockpit por motivos ainda desconhecidos e que “recusou responder aos avisos da torre de controlo para a perda de altitude do aparelho” e “não respondeu aos apelos do piloto para reentrar na cabina”.
Há nesta tese vários pontos que não entendo:
1. Através da primeira caixa negra encontrada dizem quefoi possível identificar conversas entre piloto e co-piloto antes da saída do primeiro. Ora, nos contactos de voz registados haverá por certo um diálogo que permite concluir que foi realmente o piloto, e não o co-piloto, a sair do cockpit. Não será, então, possível identificar o motivo da deslocação do piloto para o exterior? Saiu sem dizer nada ao outro? Estranho.
2. Segundo o procurador, em resposta a pergunta de um jornalista, os aviões possuem um sistema de encerramento automático da porta da cabina de comando, sendo necessário para que se abra do exterior um código… mas não só; apesar de inserido o código, é necessário que do interior seja accionado um botão de abertura. Aqui, surge-me a pergunta: a ser assim, em caso de uma síncope do elemento deixado só no interior, como é de aceitar um tal sistema? Incompreensível e estranho.
3. Quando foi dito pelos investigadores que o apuramento dos factos poderia levar meses, que sabe o Procurador para afirmar que, segundo os dados que lhe foram fornecidos (não referiu por quem), se tratou de uma acto voluntário do co-piloto e, portanto, criminoso, ficando ilibadas de responsabilidades as companhias de seguros? Estranho.
Foi pedido pela Lufthansa, a companhia aérea à qual pertence a Germanwings, que não se acreditasse em especulações quando o New York Times avançou na noite de quarta-feira com a notícia de que “um dos pilotos deixou o cockpit antes do desastre e não conseguiu voltar à cabine antes de o avião se despenhar”.
Agora, veio o senhor procurador assumir que tudo indica que se tratou de uma acção voluntária do co-piloto. Terá ele o direito de especular ou já sabe com toda a certeza o que realmente aconteceu?
Estranha é, quanto a mim, esta pressa do procurador em rematar a investigação em dois dias e esta convicção da culpabilidade do co-piloto alemão.
- um texto de opinião de Jorge P. Guedes,2 6-03-15 (não escrevo segundo o A.O. em vigor)
Etiquetas: acidente aéreo, Aerobus A320, Queda de avião nos Alpes, segurança aérea