Marco Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), cônsul de Roma, era um advogado, político, filósofo, orador e escritor romano. Para muitos, o maior mestre de civismo conhecido no Ocidente. Dedicava-se a promover o amor à pátria, a decência e o servir a Roma. Entre os seus brilhantes discursos destacam-se “As Catilinárias”, quatro discursos contra Catilina, um político romano derrotado nas eleições ao cargo de cônsul nas eleições de Julh...o de 64 a.C. assim como nas de 63, ano em que Cícero foi eleito cônsul.
Cícero fora informado de que Catilina tinha tudo preparado para um golpe contra a República. Sem perder tempo e com determinação, reuniu no dia seguinte os senadores no Templo de Júpiter, em Roma, e quando Catilina apareceu interpelou-o directamente: “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?” (...) e continuou: “Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos haverá de precipitar a tua audácia sem freio?”.
Mais adiante nesse mesmo discurso, Cícero pronunciou a frase que ficou famosa como a expressão mais honesta e contundente da indignação perante a corrupção, a deslealdade, a falta de carácter, a ameaça a uma nação que queria viver com decência e dignidade. Cícero clamou em alta voz: O tempora, o mores! Em português: “Que tempos os nossos! E que costumes!”.
Hoje, em Portugal, quem é Cícero? Quem é Catilina?
O que está a ocorrer na cena política nacional encontra nos velhos reformados e pensionistas, nos jovens obrigados à emigração, nos desempregados, nos pobres e na classe média à beira da extinção a voz de Cícero: “Oh tempos, oh costumes!”. Sim, como Cícero procuramos entender onde estão o respeito, a honestidade, a decência, a probidade, o patriotismo das pessoas que ocupam cargos políticos. Falta-nos um novo Cícero no palco político; audaz, honrado, competente, culto, humanista e patriota. Não se vislumbra na hesitante, repetitiva e pífia oposição ninguém com tais atributos. Antes se assiste a uma mera retórica de cordel, à vacuidade de ideias, a tolejos anódinos que em nada contribuem para a esperança em dias melhores.
E quem é o Catilina dos nossos dias? Não hesito em apontar o dedo aos governantes e aos políticos funcionários dos partidos, e também aos sectores da sociedade que estão saqueando a nação. Eles fazem da trama e do embuste o meio para roubar e locupletar-se com golpes e fraudes nos mais variados campos da vida pública.
Por isso, a exclamação indignada de Cícero é tão actual: “O tempora, o mores!” “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos haverá de precipitar a tua audácia sem freio?”
- por Jorge MPG Sineiro, Dez. 2013 - Por decisão pessoal, não escrevo segundo o novo acordo ortográfico.