Ora vejamos se me consigo fazer explicar.
Não conheço pessoalmente nem Manuela Moura Guedes nem Marinho Pinto, os quais saúdo com o boneco de hoje.
O que deles sei é-me dado pela imagem pública que apresentam. Ela, há muitos anos, ele há muito poucos. Curiosamente, os dois gostam de ser directos, frontais, sendo capazes de se envolverem numa boa polémica.
Manuela foi, por pouco tempo, deputada eleita nas listas do CDS. Conhecerá razoavelmente, como ex-deputada mas também como jornalista de peso na TVI, os bastidores do poder e as negociatas de corredor da Assembleia.
Gosta de entrevistas fortes, marcadas por um diálogo vivo com o entrevistado, à boa maneira americana do "jornalismo de intervenção".
Contra isso, nada tenho, até porque sempre defendi que o jornalista a sério tem que colocar as questões que o povo colocaria no seu lugar, se soubesse e/ou pudesse.
A questão põe-se, então, mais na forma e no estilo de Moura Guedes do que nas perguntas que faz.
No último programa do Jornal de Sexta na TVI, Manuela excedeu-se claramente, transformando uma entrevista de estúdio numa troca azeda de argumentos de café. Os seu olhares agressivos para o Bastonário, a provocação de inferir das suas palavras que ele, então, seria igualmente "um bufo", a continuada procura ao longo dos mais de 9 minutos de "espectáculo" de o atacar, sim, mais do que o ouvir, acabaram por irritar Marinho Pinto levando-o a perder a tramontana e a exibir, a propósito da entrevistadora, um paleio de aljube nada próprio de um Bastonário da Ordem. ( CLIQUE SE QUISER VER O VÍDEO DE PARTE DA ENTREVISTA )
Evidentemente que a entrevista serviu os propósitos de ambos, mas não contribuiu minimanente para o esclarecimento dos espectadores. Agradou, por certo, aos mesmos que ficam embasbacados a ver uma pessoa que desmaia na rua, ou a assistir a um acidente de automóvel ou a uma emocionante cena de pancadaria.
Com estas actuações as audiências do "Jornal da Manuela" terão tendência a aumentar e Marinho Pinto, com mais uma representação do género, verá sem dúvida nenhuma aumentado o seu apoio entre os milhares e milhares de advogados pobres e de gente do povo que adora ver alguém a "falar grosso" aos poderes instalados, mesmo que nada entenda do que se está a tratar.
Marinho Pinto tirou o curso e foi professor do ensino secundário, como tantos outros que conheci.
Dele sei que foi subindo a pulso, sem protecção de patronos ricos e bem instalados.
Concorreu a Bastonário e venceu. Foi eleito pelos seus pares. E porquê? Porque são mais os advogados pobres, os remediados e os desempregados ou a recibos verdes do que os donos dos escritórios que precisam do Estado e dos grandes grupos económicos para os servirem e deles se servirem e aumentarem o poder dos seus lobbies.
Sobre Marinho Pinto, ouvi de José Miguel Júdice , um dos "tubarões", e em plena televisão
( CLIQUE SE QUISER VER O VÍDEO ), o que nunca pensei que fosse ouvir: chamou-lhe Mussolini, Chávez, demagogo, populista gordo, com boa tribuna e capaz de dizer o que a Comunicação Social gosta de ouvir. Afirmou ainda, e pediu que registassem mesmo o que ia dizer, que Marinho Pinto iria ser o candidato da esquerda às próximas presidenciais.
Júdice, que já era muito rico antes de ser advogado, mas que hoje o é muito mais, desempenhou até há poucos anos o cargo de Bastonário da Ordem.
Qual a diferença entre as verborreias de um e de outro?
Nota final: Não sei se Marinho Pinto é um ponta-de-lança de Sócrates, ou não. Nem me interessa, porque a mim não iria nunca fazer alterar o que penso sobre o Primeiro-Ministro actual. Mas que põe o dedo na ferida de muitos advogados "da alta" habituados ao gozo de actuar em roda-livre e de fazerem na Assembleia as leis que mais lhes interessam, lá isso é indesmentível. E incomoda os Júdices de Portugal, de que maneira!
Em Manuela e Marinho mudaria eu o estilo, a forma, mas aproveitaria sempre para me concentrar no conteúdo das suas apresentações.
- Jorge P.G.
Publicação nº 734 de "O SINO DA ALDEIA"