O PLÁGIO CONSTITUI CRIME punível com pena de prisão até 3 anos pelo artº197 da lei 16/2008,de 01 de Abril, a mesma que, no seu artº1, ponto 1, refere que estabelece medidas e procedimentos necessários para assegurar o respeito dos direitos de propriedade intelectual.
O artª180, no seu ponto 3, diz: "Presume-se artista,intérprete ou executante,aquele cujo nome tiver sido indicado como tal nas cópias
autorizadas da prestação e no respectivo invólucro ou aquele que for anunciado como tal em qualquer forma de utilização lícita, representação ou comunicação ao público."
This work is licensed under a Creative Commons License.
sábado, 23 de junho de 2007
CARMINA BURANA - uma cantata cénica em latim medieval
CARMINA BURANA (canções de Beuren) de CARL ORFF
Tem a estrutura musical de uma ópera, mas prescinde da movimentação em cena por parte dos cantores e não conta uma história nem possui um enredo. É apenas uma declamação cantada de poemas, embora haja, em sua representação, cenários e vestuário condizentes.
Carmina Burana (canções de Beuren), primeiro elemento de uma trilogia composta por Carl Orff, obteve um dos maiores êxitos internacionais da música contemporânea, sendo considerada uma das obras corais e instrumentais mais importantes do século XX.
As canções de Beuren nasceram da descoberta de um rolo de pergaminho, no Convento Beneditino de Benediktbeuren, um Mosteiro da Ordem de São Bento, na Baviera, em 1837. Foram extraídos dessa coleção de poemas e canções profanas medievais, provavelmente escritos entre os séculos XII e XIII.
Eram poemas dos monges e eruditos errantes — os goliardos As Carmina Burana de Carl Orff fazem críticas mordazes às autoridades seculares e eclesiásticas, à hipocrisia e ao poder económico da época. Compõem-se de melodias simples, de apelo popular bem ao gosto do pensamento alemão daqueles dias de ascensão do III Reich.
Carmina Burana foi apresentada pela primeira vez na Alemanha em 1937, com a intenção de aproximar o teatro musical do grande público livrando-o da complexidade que os autores do fim do Romantismo, especialmente Wagner, haviam implantado em toda a Europa.
A música é deliberadamente anti-romântica, sem a menor influência wagneriana, nem sequer tem pontos de contato com o neoclassicismo de Stravinsky nem com dodecafonismo de Arnold Schönberg.
A primeira apresentação desta cantata deu-se na Ópera de Frankfurt em Junho de 1937 causando, um grande impacto sobre o público e recebendo uma aclamação mundial que demonstrou que a cantata não havia perdido nada do seu efeito hipnótico. O símbolo da Antiguidade, a Roda da Fortuna, eternamente girando, trazendo alternadamente a boa e a má sorte, emoldura a obra de Orff.
É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança. É a roda volúvel que ora é benfazeja ora malfazeja, como cantada no texto...
"O Fortuna Imperatrix Mundi"
1. 1. O Fortuna, - Oh, Fortuna, velut luna - És como a lua statu variabilis, - Mutável, semper crescis - sempre cresces aut decrescis; - ou minguas; vita detestabilis - vida detestável nunc obdurat - ora frustra et tunc curat - ora satisfaz ludo mentis aciem, - com zombaria os desejos da mente, egestatem, - a pobreza potestatem - e o poder dissolvit ut glaciem. - dissolve como se fossem gelo. 2. 2. Sors immanis - Sorte monstruosa et inanis, - e vã, rota tu volubilis, - tu, roda a girar, status malus, - és má. vana salus - Vã é a felicidade semper dissolubilis, - sempre solúvel, obumbrata - nebulosa et velata - e velada Michi(mihi) quoque niteris, - atacas-me também; nunc per ludum - agora por teu capricho dorsum nudum - costas nuas fero tui sceleris. - Entrego à tua perversidade. 3. 3. Sors salutis Sorte, - senhora da saúde et virtutis - e da virtude, Michi(mihi) nunc contraria, - estás agora contra mim; est affectus - dás et defectus - e tiras semper in angaria; - sempre escravizando; hac in hora - nesta hora sine mora - sem demora corde pulsum tangite, - tocai as cordas vibrantes, quod per sortem - pois que a sorte sternit fortem; - esmaga o forte; mecum omnes plangite! - Chorai todos comigo!
Os Goliardos
Durante o século XII dá-se o seu surgimento que perpassa, com grandes dificuldades, por parte do século XIII, período em que a Igreja inicia uma rigorosa perseguição às suas libertinagens, capturando e condenando muitos dos seus membros, frequentemente sem qualquer julgamento.
Desaparecendo no século XIII, as ideias dos goliardos não foram totalmente esquecidas nos conventos e nos mosteiros. Muitos historiadores delineiam o século XV como o marco final da revolução e anarquia instalada pelos andarilhos na Europa.
As cerca de duzentas poesias que chegaram até nós, devem-se ao fato de que alguns de seus admiradores recolheram e guardaram secretamente todos os pergaminhos que eram encontrados da obra goliarda.
Os grupos de goliardos, clérigos expulsos da Igreja, eram formados de homens eruditos, sábios com uma enorme formação artística proveniente de estudos realizados nos conventos dirigidos, principalmente, para a literatura e a música.
Acredita-se que estes eruditos entediados pela intensa vivência dentro dos muros dos conventos e mosteiros, no auge da Idade Média, e, também revoltados com a rigorosa educação que lhes era ministrada, neste mundo fechado e delimitado, abandonam-nos e passam a perambular como peregrinos pelo vasto território da Europa.
Nesta vida de peregrinos, viajando de cidade para cidade, pagos pelos comerciantes, lançam mão dos conhecimentos eruditos adquiridos outrora e criam canções tendo como tema o amor, o vinho e o jogo.
Por um generoso copo de vinho, andarilhos como eram, compunham uma canção ou um poema que eram confeccionados, levando em consideração o local e o solicitante.
Na Idade Média, o povo admirava a arte, a cultura e a música e qualquer menestrel, compositor ou músico era altamente respeitado e conceituado por todo um povo que vivia das alegrias propiciadas pelas suas obras. Neste ambiente de menestréis, músicos e compositores do século XII é que encontraremos a figura misteriosa e controversa dos goliardos.
Dependendo das pessoas que os recebiam, eram considerados por uns como charlatões, falsos estudantes; por outros, libidinosos ou mesmo brincalhões, ora odiados ora venerados. Críticos inclementes da sociedade dos clérigos, os clerici, dos senhores feudais e dos rudes camponeses, são "as bocas do inferno da Igreja".
As suas canções, escritas em latim, eram sátiras, pilhérias, gracejos, galhofas, zombarias, seja qual for a semântica utilizada, com um único endereço, os clerici, seus íntimos conhecidos, e a vida monástica, considerada pelos goliardos como uma classe distinta da sociedade, visto que faziam parte do seu mundo de outrora. Os clerici eram, como eles, beberrões.
Peregrinos e andarilhos como eram, os Goliardos não tinham um poiso pré-determinado.
As tabernas tornaram-se o seu lugar de refúgio. De taberna em taberna, divulgavam seus textos poéticos ou musicais, escritos em pergaminhos, em troca de um prato de comida, dos prazeres sexuais, principalmente, de um copo de vinho. Segundo o poema "IN TABERNA", quando lá estavam evitavam falar em assuntos desagradáveis como a morte. O jogo confortava-os; todos bebiam: a senhora, o senhor, o cabo, o marginal e até o monsenhor:
In Taberna
In taberna quando sumus, Quando na taberna estamos
Non curamus, quid sit humus, falar da morte evitamos;
Sed ad ludum properamus, Jogar, isto nos conforta,
Cui semper insudamus. O dado é que importa .........................................
Bibit hera,bibit herus Bebe a dona, bebe o senhor,
bibit miles,bibit clerus, bebem o cabo e o monsenhor,
bibit ille,bibit illa, bebe o dono, bebe a dama,
bibit servus cum ancilla, bebe o servo, bebe a ama,
bibit velox, bibit piger. Bebe o apressado e o tardo.