Há um ano escrevi estas palavras em "Os Bigodes do Gato"
A liberdade é a primeira sensação que um ser vivo experimenta ao nascer
No Calendário Gregoriano, 25 de Abril é o último dia em que o Domingo de Páscoa pode acontecer.
A 25 de Abril, há 32(amanhã 33) anos, o país ressuscitou numa segunda Páscoa celebrada e cantada como nunca.
Já desesperavam todos, crentes e não crentes, que o Portugal digno dos seus avós pudesse uma vez mais dar novos mundos ao mundo. O país mergulhara há muito num atoleiro de mentiras, de traições, de progressivo empequenecimento. O povo espreitava o mundo, pelas poucas frestas que se abriam nas janelas cerradas do Poder. Ouviam-se a medo as cantigas do Zeca ou do Adriano, escondia-se à pressa o “República” e olhava-se em volta, não fosse alguma figura sombria vigiar esse simples acto.
Portugal nunca estivera tão só, tão desolada e irrecuperavelmente afastado do mundo. O povo ia perdendo a capacidade de lutar, de se aperceber sequer que tinha de continuar a lutar. Era uma gente triste e acostumada à canga. As guerras em África, justificadas em “conversas em família”, como lhes chamava Marcelo Caetano, ninguém as entendia. Morriam os filhos antes dos pais, faziam-se órfãos e viúvas, ganhavam-se cicatrizes para o resto da vida.
Que tudo se fazia em nome e por amor à Pátria, mentia Caetano.
Do mundo, a que os portugueses chamavam “lá fora”, conheciam alguns Tuy, Badajoz e Ayamonte, terras fronteiriças, de onde se traziam bonecas e caramelos à socapa dos guardas da raia. O atraso cultural ia cumprindo o seu papel castrador. Trabalhava-se e davam-se graças ao Senhor por tal benesse, ainda que a paga da jorna fossem 10 réis de mel coado.
E dizia-se ao Povo que vivíamos orgulhosamente sós. A cultura do medo e da mentira prosseguira depois da morte de Salazar, e Portugal… definhava!
Claro que havia os resistentes que escapavam à malha apertada do regime. Sempre resistiram os estudantes, apesar dos “bufos” implantados no seu seio. Nunca se calaram as vozes de alguns escritores e intelectuais, como eram apelidados os que conseguiam emergir do país de analfabetos em que nos tornáramos. Mas estes, os da resistência activa, quantos eram?
Arrastava-se assim um povo quando, numa manhã, as rádios deram A Notícia.
No último dia possível a Páscoa anunciou-se ao povo. Portugal dera um exemplo ao mundo. Um país acabara de ressuscitar. E o povo de novo saiu à rua a cantar a Liberdade!
OBRIGADO A TODOS OS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O 25 DE ABRIL !
PELA SUA CORAGEM E AMOR AO PRÓXIMO É QUE HOJE SOMOS LIVRES!
Texto escrito por Jorge G. em 25 de Abril de 2006
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Sophia de Mello Breyner Andresen
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
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Publicação nº 350 - JPG, o sineiro