Ontem percorri alguns jornais franceses, desde o renovado Le Figaro de direita, passando pelo conservador Le Monde e chegando ao Libération de esquerda.
Todos são concordantes com as previsões de uma 2ª volta entre M.Sarkozy da Union pour un Mouvement Populaire (UMP), o partido no poder, e a Mme. Royal do Parti Socialiste (PS).
Depois, surgem o centrista M.François Bayrou da Union pour la Démocracie Française (UDF) e M.Le Pen da Front National (FN).
Depois, mais oito compõem o leque de escolhas de cerca de 44,5 milhões de franceses para eleger um autêntico “rei, ou rainha, sem coroa" tais são os amplos poderes de que dispõe o Presidente.
O L'Humanité, informando que 79 por cento dos franceses ainda não decidiram por quem votar para presidente, conclui: “ … a esquerda deve aproveitar esta indecisão para se impôr. O problema é saber como fazer...”
Vendo alguns vídeos de comícios dos 3 principais candidatos, cheguei à conclusão de que o mais bem apetrechado em matéria de imagem é, curiosamente, o menos favorito dos três – François Bayrou, um político mais experimentado, que já foi ministro da educação (1993-97) e deputado europeu (1999-2002). Notei-lhe um ar tranquilo e uma imagem bem trabalhada, sabendo bem que tem subido nas sondagens e procurando aproveitar os descontentes com as campanhas e/ou os conteúdos programáticos dos outros dois favoritos.
A Mme. Royal utilizou os últimos momentos da campanha para, em gestos teatrais mas muito mal encenados, apelar à união da esquerda socialista e …pouco mais, confirmando o que já pensava, ter feito uma campanha fracota, desinteressante e variando muito pouco de argumentos.
Sarkozy é um candidato que, partindo em vantagem, sabe bem que está longe de ganhar e o seu discurso tem interessado muito pouco aos potenciais eleitores. Contudo, ganhou estrategicamente terreno a Le Pen ao atacar forte em Marseille no último dia, cidade onde Le Pen havia chegado à frente nas anteriores eleições.
Sendo claramente um homem de aspecto pouco grave e sério, vê-se que a sua experiência política , assumiu já o ministério de várias pastas, o levou a preparar-se bem para o embate, deixando qualquer encenação pouco ao acaso.
De Jean Marie le Pen, nem vi qualquer momento de campanha, nem me interessou. Sabe toda a gente qual é o seu discurso e quais os seus propósitos.
Porém, o Libération, de esquerda, traz um título violento: “Papon está morto, Le Pen está vivo”. O jornal refere-se à morte do francês Maurice Papon que, durante a segunda guerra mundial, colaborou com os nazis no envio de judeus para os campos de concentração.
Le Pen é o candidato à presidência pela Frente Nacional, partido de extrema-direita.
O Libération faz o elo entre os dois homens, lembrando que Le Pen, admirador de Papon, foi para o segundo turno das presidenciais em 2002, juntamente com Jacques Chirac. O candidato extremista apresenta resultados favoráveis nas sondagens actuais e a sua base eleitorial parece estar em crescendo.
Perante o elevadíssimo número de indecisos, não me admirarei que alguma surpresa possa ocorrer e que Bayrou, principalmente, possa vir a estar na 2ª volta. Tem uma profunda convicção de que o seu destino será tornar-se um dia Presidente da França.
Mas aqui levanta-se-me nova questão: a ser assim, tal acontecerá à custa de quem, da esquerda ou da direita?
E uma pergunta baila na minha cabeça: qual o papel que as mulheres poderão desempenhar nestas eleições?
Amanhã, por volta desta hora começarão a dissipar-se as dúvidas. E em 6 de Maio teremos “o combate final”.
Artigo de opinião de JPG – O sineiro (21 de Abril de 2007)