FORTE DE S. JULIÃO DA BARRA
Na foz do Tejo, o Forte de S. Julião da Barra face ao mar é um magnífico exemplar da arquitectura militar.Os Portugueses ergueram nas costas de África, do Índico e do Brasil as primeiras, mais poderosas e modernas fortalezas com baluartes, palavra que significava muros baixos, escondendo canhões, adaptadas ao combate com fogo de artilharia.A intensificação de comércio marítimo ultramarino exigiu também o reforço da defesa do litoral português, ameaçado pela pirataria que, se até ao séc. XVI tinha origem no norte de África, passara a ser praticada também por europeus.
Em 1549 D. João III criou o cargo de "Mestre das Obras de Fortificação do Reino, lugares d'Além e Índias" que confiou a Miguel Arruda, célebre arquitecto das fortificações em Mazagão e Ilha de Moçambique, entre outras.
Foi possivelmente neste cargo que aquele arquitecto dirigiu a obra da fortaleza de S. Julião iniciada nos últimos anos daquele reinado e que se desenvolveria nos seguintes. Esta fortaleza iria ser a mais poderosa do sistema de defesa do litoral de Lisboa: defenderia a barra do Tejo cruzando fogo com a Torre do Bugio (começada a construir pouco depois), sendo a fortificação de Cascais a guarda avançada e a Torre de Belém com a Torre Velha da Caparia a defesa última do porto de Lisboa.
S. Julião da Barra já estava operacional quando em 1580 Filipe II se preparava para tomar posse da Corôa de Portugal. No entanto, por si só não pôde impedir o desembarque dos exércitos do duque de Alba que a cercaram do lado de terra e rendeu-se ao fim de seis dias.
Foi durante a dinastia filipina que S. Julião terá começado a ser utilizado como prisão de Estado: por aí passaram célebres e anónimos inimigos de todas as situações políticas desde os partidários da independência em 1580 até à 1ª República.Quando se desencadeou o movimento da Restauração a fortaleza foi cercada pela segunda vez e novamente por terra, desta vez pelos portugueses. Aí estava prisioneiro D. Fernando de Mascarenhas, 1º Conde da Torre que pressionou o governador espanhol a negociar a rendição, acção patriótica que o Conde prosseguiu como protagonista de relevo na Guerra da Restauração.
Por decisão de D. João IV, no ano de 1650, recomeçavam mais uma vez as obras para aumentar o poder defensivo do lado de terra, o seu "calcanhar de Aquiles". Obras estas que se inseriam mais uma vez num plano de reforço da fortificação do litoral de Lisboa.
No inicio do séc. XIX, ao tempo de ocupação francesa, instalaram-se em S. Julião forças militares de Napoleão, enquanto a esquadra inglesa bloqueava a foz do Tejo. Após a Convenção de Sintra foi a vez de ser hasteada a bandeira inglesa na torre desta fortaleza, a mais importante da terceira linha do sistema de defesa das Linhas de Torres de Almada à foz do Tejo. Os ingleses construíram nesta linha sul redutos provisórios que, pela primeira vez, protegiam do lado de terra a fortaleza que lhes asseguraria o reembarque das tropas em caso de derrota.
Naquele século, muito conturbado por ocupações estrangeiras e guerras civis, as masmorras de S. Julião encheram-se de presos políticos: ficou célebre a prisão do oficial Gomes Freire de Andrade envolvido numa conspiração contra a presença inglesa, e que acabou por ser enforcado nas proximidades do Forte.
A última acção militar que envolve a fortaleza dá-se também no quadro das guerras civis: em 1831 uma armada francesa em apoio dos liberais força pela primeira vez a tiro a passagem entre S. Julião e o Bugio e vem ancorar no Tejo.
A antiga e bela cisterna, abobadada e sustentada por grossas colunas,serve hoje de sala principal articulada com uma residência construída para receber hóspedes de relevo. Já no passado remoto foi a fortaleza visitada por Filipe III e D. João IV, no séc.XIX por Junot e no passado recente são de registar as presenças do general Eisenhower e do Marechal Montgomery. Actualmente o Ministério da Defesa Nacional mantém esta tradição obsequiando os seus convidados mais ilustres em S. Julião.