14 DE JUNHO - Professores em luta
Por um Ensino Digno e por uma Profissão Dignificada
Mais uma vez, e depois de um artigo de Vítor Serpa a que me referi em http://sinodealdeia.blogspot.com (os bigodes do gato), o Diário Desportivo "A Bola" revelou a coragem de ser tribuna de defesa da razão dos professores, vítimas da incompetência dos governantes.
Jorge Olímpio Bento escreveu estas admiráveis linhas:
" Está em curso uma campanha sórdida para abater a escola pública, denegrir e desacreditar os professores. Para tanto os especialistas do populismo e da demagogia servem-se de tiradas e anúncios de medidas que exploram o mal-estar, o descontentamento, a frustação e a boa-fé das pessoas.
Aos interessados aconselho a leitura de La démocratie contre elle-même, de Marcel Gauchet. O livro analisa a destruição que a democracia inflige a si mesma, ao aviltar as instituições emque assenta. Entre elas estão a escola e a educação públicas; uma e outra vêm sendo arruinadas paulatinamente, quer através de medidas de pendor neoliberal (mesmo que que servidas em linguagem de pretenso cariz socialista), quer através da difusão de pseudo-teorias da educação. Estas doutrinas do 'eduquês', oriundas de correntes influentes nas Ciências da Educação, espalharam conceitos ilusórios e altamente perniciosos, puseram em causa a missão primordial da escola que é a da transmissão de conhecimentos e competências, afundaram os valores da disciplina, do respeito, do rigor, da premiação do trabalho, do esforço e mérito e do sancionamento dos atropelos às regras, obrigações e deveres. Mais, geraram modelos de formação de professores generalistas e incultos, frágeis e superficiais, sem domínio e até com ignorância das matérias a leccionar. Por favor, leiam o livro! Está lá tudo escarrapachado tintim por tintim.
Ora figuras dessa gente têm ocupado e continuam a ocupar cadeiras do poder. Como a obra de destruição não está ainda concluída, querem agora acabá-la. A peça mais recente, que encaixa às mil maravilhas no quadro de degradação da escola e da educação, é o novo estatuto da carreira docente. Não bastava já que a sociedade seja anti-educativa; nem ignorar que é à família que compete inculcar princípios, valores e normas de conduta aos mais jovens e que, sem este pressuposto, a escola não pode levar a bom termo a tarefa de ensinar aquilo que é mister aprender; era preciso aniquilar a autoridade dos professores, pô-los de rastos, reduzi-los a zero.
Claro que isto tem a ver com o desporto. Escola e desporto revêem-se e inspiram-se nos mesmos fins, têm a mesma missão, são solidárias entre si. Apelo, pois, aos professores e suas organizações para que defendam a escola, deixem de ser joguetes, exijam uma formação que credite cultura profissional e reclamem condições de dignidade para o exercício superior da sua função."
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A estas palavras nada, por agora, tenho a acrescentar. As ideias mestras nelas contidas têm vindo a ser defendidas e propagadas, quer em conversas privadas, quer publicamente em páginas da web que os meus mais fiéis e atentos leitores poderão testemunhar.
Por agora ainda se vai podendo escrever livremente. Restos de um Abril de esperança que alguns homens não souberam conduzir a uma bela realidade.
Que Deus lhes perdoe porque eu, não!
Jorge G. 14-06-06