Auto-retrato com paleta (1939) Um dos maiores nomes da arte portuguesa do século XX, Abel Manta é pouco mais que um desconhecido para as novas gerações. Discreto, bondoso, embora sempre irónico na sua maneira de falar dos homens e das situações e avesso a realizar exposições individuais, preferiu sempre uma vida , simples, tranquila, sem grandes espaventos, e também assim foi a sua obra conhecida.
No entanto, e durante muitos anos, foi uma figura característica e familiar do Chiado. Era natural, encontrá-lo n'A Brasileira ou na Livraria Sá da Costa, todos os dias à tarde. Junto de velhas e novas amizades. Com mais de 90 anos, se já não frequentava aqueles locais dava, com sua mulher Clementina, uma pequena volta pelo bairro, morando na Rua Nova do Loureiro. Das janelas de casa, do cimo do Bairro Alto, a cidade oferece-se na sua peculiar paisagem, que tantas vezes passou para a tela.
Pintor de Lisboa, preferentemente no Largo de Camões, que ao longo da sua carreira reinventou através de fantásticas variações de luz , mas sempre com expressão serena, terna, intimista, sincera, no fundo traços da sua própria personalidade.
O Monumento e a Praça de Luís de Camões.
1932, Óleo sobre tela, 656 x 540 mm
Abel Manta transportou para a tela as impressões que o mundo à sua roda lhe produzia. Cenas humildes da vida quotidiana, dos amigos e familiares.
Partida de Damas (1927)
BIOGRAFIA SUMÁRIA
Nascido em Gouveia, a 12 de Outubro de 1888, Abel Manta veio para Lisboa auxiliado pela condessa de Vinhó e Almedina. Na capital entre 1904-1916, frequentou a Escola de Belas Artes, concluindo o curso de Pintura e tendo sido discípulo de Carlos Reis.
Em 1919 partiu para Paris onde chegou a expor no Salon de la Societé Nationale e noutras galerias. Permaneceu aí vários anos. Realizou algumas viagens de estudo pela Europa, principalmente pela Itália.
Em 1926 voltou a Portugal e ingressou no Ensino Técnico como professor de desenho na Escola de Artes Decorativas António Arroio. Participou no primeiro Salão de Arte Moderna em Lisboa (1935), ao lado de Eduardo Vianna, Mário Eloy, Carlos Botelho, António Soares, Jorge Barradas e Francisco Smith, entre outros renovadores do ambiente artístico português. Concorreu à XXV Bienal de Veneza e à III Bienal de S. Paulo, e participou em todas as importantes exposições colectivas do País, entre as quais as I e II exposições de Artes Plásticas da Fundação Gulbenkian, onde lhe foi conferido o Prémio de Pintura.
Em 1958, aposentado por limite de idade das suas funções pedagógicas, passou a dedicar-se exclusivamente à pintura e ao desenho.
Personalidade de um raro pudor no mundo das artes, sempre autêntico e frontal num mundo voltado para o sensacionalismo e para a pompa, Abel Manta reflecte na sua obra essa dicotomia resolvida numa superior unidade estética, isto é, a densidade expressiva veiculada numa economia de recursos operativos.
Fonte: Nelson Di Maggio, in Jornal de Letras, Artes e Ideias; Nº 12, 1981