segunda-feira, 30 de julho de 2007
Crónica com acentos - a posteriori
Nos jornais franceses do dia 24 /07, estas eram as imagens de capa, enquanto o El Pais publicava a reportagem sobre o pessoal médico búlgaro apenas nas págs. 2 e 3.
Olá ! Cá estamos de novo, o Tamagochi e eu.
Esta crónica foi escrita em 26 de Julho. Por diversas razões que agora não vêm ao caso, só hoje, e já em Lisboa, me é possível transmiti-la. O Tamagochi corre ligeiro, também a ele as férias forçadas souberam bem. Punha-se assim um problema, metê-la no cesto dos papéis ou publicá-la com estes dias de atraso? Optei pela 2ª via, porque não gosto nada de desperdiçar "material". Cá vai, então.
Preferindo uma maior pacatez em lugar de sairmos de novo para outro lugar, passámos de repente de uma Paris fria e molhada, bem molhada neste Domingo, para a fornalha lisboeta. De 20 para 40 graus, em duas horas e pouco abalam...
Pois bem, vamos à crónica, entretanto algo modificada:
Paris anda entretida com os preparativos para a abalada dos parisienses e com os saldos que até 4 de Agosto se vão manter. Claro está que há saldos a 1000 euros por carteira ou 200 por camisa, mas isso já a gente sabe. Também há outros, os dos pobrezinhos, ou seja, os do pessoal normal que vive do seu trabalho, sejam franceses, americanos, japoneses, ou até, imagine-se, uma meia dúzia de lusitanos que avistámos a bordo das camionetas da Abreu ou de outra qualquer agência. E o movimento nos grandes Magazins, mas também nas inúmeras ruas de comércio, faz-se em grande e à custa das filas do Louvre, da Notre Dame, do Musée d'Orsay, do Sacré Coeur, até do próprio mostrengo de ferro que é a Tour Eiffel, pese a grandiosidade da sua engenharia e a beleza da sua iluminação à noite, cintilando a cada hora por dez minutos mágicos e totalmente visível se contemplada, como gosto, desde o Trocadero nas imediações do Palais de Chaillot. Diria que, em Julho, os saldos venceram a cultura.
Mas o Agosto aí vem, e com ele, esperam os parisienses ter finalmente o seu verão. E que diferente é Paris em Agosto! A cidade, tal como qualquer outra grande metrópole europeia é deixada aos turistas. Muitas pequenas lojas encerram, os antiquários ao longo de alguns cais do Sena também fecham portas, os saldos escasseiam, o calor aperta, os turistas vão mais aos numerosos museus e monumentos. O trânsito infernal de Julho dá lugar a uma maior fluidez e não se demora 5 minutos para se conseguir entrar no Quai François Miterrand, para quem atravessa de autocarro ou de carro, claro, a zona do Louvre.
Nestes últimos dias, tivemos como factos mais salientes o Tour de France, a cuja chegada a Paris tive a felicidade de assistir ontem, e o resgate das enfermeiras búlgaras e médico de origem palestiniana das garras do Coronel Kadhafi.
O Tour pareceu este ano um "morto-vivo", arrastando-se de suspeição em suspeição e levando alguns importantes patrocinadores a anunciar desde já o fim dos seus investimentos numa modalidade que tem envergonhado o seu nome e o do próprio ciclismo. Os campeões, hoje, são feitos a qualquer preço. E isso paga-se, é claro! Sendo sem dúvida uma manifestação desportiva de enorme impacto internacional, têm-se revelado no Tour de France deste ano casos de doping e de permanentes suspeitas, o que levou já a que a organização e o próprio Sarkozy tenham anunciado medidas radicais para o próximo ano tendentes a reganhar o prestígio da prova. Ver-se-á.
Num outro plano, o diplomático, a intervenção de Cécilia Sarkozy no processo dos ex-condenados por Kadhafi, suscitou naturalmente as mais diversas reacções: a dos que viram nela uma mulher que quer intervir activamente no seu papel de 1ª Dama e a dos que consideram que ultrapassou largamente as suas competências. Na verdade, a política de espectáculo de Sarkozy está a desagradar aos socialistas e mesmo a certos parceiros da U.E. que vêem o Presidente francês aparecer como figura de proa num processo em que ingleses, alemães e a própria presidência europeia haviam falhado. Sarkozy foi hábil e negociou com o auxílio do Qatar, sobretudo, que se terá responsabilizado pelo pagamento das indemnizações às famílias das crianças infectadas, num episódio que há 8 anos Kadhafi mantinha, em lume brando, como moeda de troca. A Líbia vê agora abertas ajudas que lhe estavam vetadas e os acordos bilaterais Líbia-França terão que ser pagos, em grossa fatia, pelos parceiros europeus. E enquanto Sarkozy surge todos os dias como grande vedeta, ora ao lado de Kadhafi, ora em viagem e posando junto do presidente senegalês Abdoulaye Wade, e sempre com ar triunfante e sorriso plástico estampado, o Primeiro-Ministro François Fillon apresta-se para reunir os seus ministros num seminário sobre o orçamento, antes de partir de férias para Itália, e recusando entrar numa "corrida à popularidade". Uma segunda vaga de reformas espera, assim, que os franceses regressem de férias lá mais para finais de Agosto.
Uma nota ainda, só para contar que vi cerca de 50 títulos de jornais estrangeiros em vários locais de grande venda e nem um só português. Para um parceiro europeu é no mínimo surpreendente que tal se verifique, de resto tal qual como aconteceia quando não havia "esta Europa"...
De Portugal, só li duas pequenas notícias e foi no El Pais: a venda do passe do jogador Simão para o Atlético Madrid e a prisão do facínora El Solitario na Figueira da Foz. Nada mais! Na região da Grande Paris, que não é propriamente Paris, viverão cerca de 1 milhão de portugueses. Acredito que nesses subúrbios adjacentes se possa comprar "A Bola", mas em Paris-centro só em quiosques específicos e com exemplares previamente encomendados se conseguirá obter qualquer jornal português. Dá que pensar!
Publicação nº 443 - J.G.
Sino tocado em
julho 30, 2007 -
82 comentários
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