Volto ao caso político do momento: as eleições para a Câmara de Lisboa.
O assunto, dirão alguns, pouco interessa ao resto do país, ainda assim bem maior que a capital.
Mas será bem assim?
Não, e por várias razões, já que a campanha é onerosa e vai ser paga por todos pois ninguém acreditará que as verbas sairão dos cofres dos partidos; a presidência da Câmara da capital é um posto político de inegável peso em qualquer país; o primeiro-ministro parece estar a apostar fortemente na eleição de um homem de confiança do partido.
Nos últimos dias temos assistido a um desatino completo do maior partido da oposição.
Ferreira do Amaral terá sido convidado e ficou uma semana aguardando que o convite oficial chegasse; depois surgiu Fernando Seara que, num programa sobre futebol, na TV, disse ao jornalista que não seria candidato; agora é Paula Teixeira da Cruz de quem se fala mas sem grande convicção; até um tal Manuel Lencastre é hoje referido como nome que circula entre os PSDs.
De tudo isto resulta que , como os treinadores de futebol, qualquer que venha a ser o candidato apoiado pelo PSD, ele aparecerá sempre aos olhos dos eleitores como uma segunda, terceira, quarta, sabe-se lá que ordem ocuparia na mente de Marques Mendes.
Por outro lado, Sócrates, a confirmar-se António Costa, puxou à partida do rei de ouros, já que o ás, e todos os ases dos outros naipes, está nas mãos do actual líder do PS.
Com esta jogada, Sócrates colocou o PSD em transe, elevando de tal modo a parada que não restará muito à oposição que não seja escolher um que possa perder por números honrosos.
E nem importou ao primeiro-ministro perder para o governo aquele que tem funcionado como escudo e que é considerado por todos como o nº2.
O controlo de Lisboa será, então, prioritário para o “canibal” líder do PS.
Mas como terá reagido António Costa, sempre no caso da sua indigitação vier a confirmar-se nas próximas horas?
É que, sempre é descer de posto, convenhamos!
António Costa tem construído uma carreira política com paciência oriental. Foi autarca, subiu a governante e já era para muitos um delfim. Tem passado a imagem de que é homem que fala pouco e que pensa bem antes de falar.
Ver-se-á assim, agora, obrigado a um serviço ao líder. A que preço? O futuro o dirá.
Helena Roseta, ex-PSD, ex-PS, é brava e insubmissa. Por isso mesmo, estará fora da corrida. Exactamente por gostar de pensar pela sua cabeça, Roseta não tem parado em nenhum partido. Sem máquina de alimentação, nada poderá fazer.
Dos outros não reza a história, já que não se vislumbram acordos partidários para apresentação de um candidato conjunto.
Em resumo: abalado o seu prestígio, Sócrates procura agora recuperar uma certa aura de credibilidade através do sacrifício do seu delfim, aproveitando igualmente para avisar este que ainda se sente muito bem no poder. E, já agora, recuperar Lisboa aos infiéis!
Esperemos a resposta dos munícipes. Dar mais poder ao aplicado estudante de engenharia ou fazer-lhe saber que não somos todos tolos, eis a questão!
Publicação nº 371 - Jorge G. Sineiro