A 8 de Abril de 1341, Francesco Petracco, PETRARCA, recebeu no Capitólio de Roma a Coroa de Louros dos poetas.
Talvez o primeiro humanista europeu, natural é que hoje lhe preste uma simples homenagem, já que sou um humanista também.
Petrarca, apesar de ter seguido uma carreira eclesiástica que lhe garantiu subsistência para a vida - o que era normal acontecer na época entre gente culta e bem relacionada - ficou na história, e mesmo entre os seus contemporâneos como um poeta e erudito.
Recebendo a coroa de louros (daí vem a palavra"laureado") das mãos do senador Orso, foi o primeiro erudito a receber tal honraria, ostentanto na cabeça o símbolo de Apolo, deus da poesia.
Entre recebê-la concedida pela Universidade de Paris e uma outra, do Senado de Roma, Petrarca escolheu esta sem hesitar. E, no entanto, a Cidade eterna nada tinha de sedutora em 1341. Abandonada pelo Papado que se instalara em Avignon, Roma era palco de violência, com as grandes famílias romanas como os Colonna, os Frangipani, os Orsini, os Conti, guerreando-se nas ruas por interpostos mercenários enquanto se resguardavam no alto das suas fortalezas instaladas nos monumentos da Roma Antiga.
Vivendo,nessa altura, nas proximidades de Avignon, Petrarca tentou ainda convencer o Papa Benedito XII a voltar para Roma e a restabelecer o esplendor da cidade.
Não o tendo conseguido, escolheu então fazer-se laurear no Capitólio.
e no dia 8 de Abril de 1341, perante uma numerosa assistência reunida na Grande Sala do Palácio do Senado, na colina do Capitólio, profere um discurso em latim, antes de receber a Coroa que vai depôr sobre o túmulo do apóstolo Pedro antes de voltar para a corte pontificicial em Avignon.
Petrarca nasceu a 20 de julho de 1304 em Arezzo, para onde seu pai - um notário de Florença - havia sido exilado por motivos políticos.
Ainda em criança, segue com a família para Avignon, onde o Papa acabara de se instalar, e fez a escolaridade em Carpentras, estudando mais tarde Direito em Montpellier e Bolonha.
Após a morte do pai, a amizade com a poderosa família romana Colonna orienta-o para a carreira eclesiástica, um modo de garantir uma vida que lhe permitisse viajar e consagrar-se à sua verdadeira paixão pelos estudos.
E o seu destino joga-se numa 6ª Feira-Santa, a 6 de Abril de 1327, quando, na Igreja de Sainte-Claire d'Avignon, Francesco vê uma jovem, Laure de Noves, esposa do Marquês Hugo de Sade.
Laure será a sua grande paixão platónica, tendo inspirado toda a sua poesia ao longo da vida.
"Benedetto sia 'l giorno, e 'l mese, e l'anno,
e la stagione, e 'l tempo, e l'ora, e 'l punto,
e 'l bel paese, e 'l loco ov'io fui giunto
da'duo begli occhi, che legato m'hanno;..."
...
Tornando-se amigo de Dante e de Boccaccio, mergulhou no estudo de textos antigos com vista a conciliar o cristianismo com a herança da Antiguidade.
Na sua poesia, Petrarca valorizava a língua vulgar, isto é, não erudita, sendo um adepto do dolce stil nuovo que caracterizava a poesia amorosa da época.
Deixou-nos uma obra de 366 poemas, a grande maioria sonetos, recolhidos ao longo da vida e coligidos já no fim dos seus dias - "Il Canzoniere" ( ("Rerum Vulgarium Fragmenta") .
"I Trionfi", foi outra grande obra em italiano. Trata-se de um breve poema alegórico, iniciado já na maturidade (por volta de 1356), continuado até à velhice, sem jamais ter atingido a sua forma definitiva. Petrarca descreve a visão em seis quadros, utilizando o terceto dantesco.
No primeiro Triunfo, (Triunfo do Amor, ou "Triumphus Cupidinis"), o poeta adormecido vê aparecer o Amor em carro triunfal, seguido pelas suas vítimas. Seguem-se o Triunfo da Castidade ("Triumphus Pudicitiae"), no qual Laura triunfa do Amor, cercada por todas as heroínas da castidade, embora a jovem seja vencida pela Morte ("Triumphus Mortis"), antes que a glória ("Triumphus Famae"), o tempo ("Triumphus Temporis") e a eternidade ("Triumphus Aeternitatis") triunfem, a seu turno, levando atrás a corte dos seus heróicos servidores.
Atendendo ao género medieval das "visões", a obra agrega vários temas e assuntos, que favorecerão a sua difusão, tanto na forma impressa como manuscrita. Além disso, a obra, pela dimensão alegórica, associa-se à Divina Comédia, de Dante, e à Amorosa Visione, de Boccaccio, somando-se à sua erudição de humanista. Além disso, a preocupação com a nobreza da língua latina faz com que a obra assuma a dimensão da história universal.
Outros poemas em italiano foram recolhidos posteriormente com o título de Extravaganti.
Escreveu em latim toda a sua outra produção literária, como "Le familiari", colectâneas epistolares, obras históricas e outras de erudição e compilação, ou de carácter filosófico e espiritual.
Os seus últimos tempos de vida são atravessados por dramas íntimos, como o falecimento da sua inacessível Laure, vítima da Grande Peste em 1348,e a de Giovanni, um filho que teve de uma amante.
Em pleno trabalho, Petrarca morre em 19 de Julho de 1374 no seu local de retiro campestre nos arredores de Pádua.
Primeiro humanista europeu, o poeta Petrarca surge como um precursor da Renascença.
Ele próprio um apaixonado pela cultura clássica, mostrou-se por vezes até um pouco injusto pela cultura da sua época, qualificando-a de «medium tempus», de onde nos veio a expressão "Idade Média" a que os ingleses aplicaram a depreciativa expressão "Dark Age" (período das trevas).
Fontes: Herodote; liberliber.italia/biblioteca;Pensieri/Parole-Italia; e outras - Texto de Jorge G - Publicação nº 333 - JPG