Negativas a Português duplicaram em relação a 2005
Pedro Sousa Tavares in DN
Quarenta e seis por cento dos alunos que fizeram exames de Português do 9.º ano tiveram negativa. Um resultado que ofusca a ligeira melhoria registada nas provas de Matemática, em que a percentagem de negativas caiu de 70% para 64%. Em 2005, as negativas a Português ficaram-se pelos 23%, o que equivale a dizer que, apesar de este ano a maioria dos alunos (54%) ainda registar um desempenho satisfatório à disciplina, a percentagem que não o consegue duplica nesta prova.
Numa primeira reacção à agência Lusa, o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, destacou o desempenho a Matemática: "Apraz-me registar a melhoria na Matemática, uma vez que as negativas baixaram em seis pontos. Esperamos que este seja o primeiro sinal de uma subida progressiva", disse o governante, que em relação ao Português considerou que os resultados "pioraram um pouco", mas que se encontravam "dentro do intervalo esperado".
Mais tarde, contactado pelo DN, o adjunto do Ministério da Educação (ME), Ramos André, ressalvou que essas declarações foram feitas "num determinado contexto" e garantiu que o Governo não ficou satisfeito com estes números: "O senhor secretário de Estado considera que os resultados continuam a ser muito insuficientes." Quanto ao facto de as notas de Português estarem "dentro do esperado", Ramos André explicou que os serviços do ministério já "vinham alertando" para esta possibilidade, até porque as notas do ano passado a esta disciplina estavam "acima" das médias habituais. "É cedo para se dizer se estas flutuações, tanto a Matemática como a Português, se traduzem numa verdadeira tendência", resumiu. "Só no próximo ano será possível verificar isso com clareza."
Edviges Antunes Ferreira, da Associação de Professores de Português, também defende que estes resultados "significativamente mais fracos" ainda terão que ser devidamente "analisados". No entanto, reconhece que a quebra não é surpreendente: "Quando vimos a prova, tememos logo que isto acontecesse. De resto, na altura fizemos um comentário sobre esta situação." Segundo esta professora, apesar de estar "dentro do programa" para a disciplina, o exame de Português deste ano foi "muito mais difícil" do que o realizado em 2005: "No ano passado, havia um primeiro grupo de escolha múltipla. Este ano, havia um poema para analisar, o que pode ter criado dificuldades de interpretação adicionais", explicou.
Já a Associação de Professores de Matemática (APM) reagiu com satisfação moderada aos resultados: "Esta melhoria é positiva, mas é apenas um caminho", disse à Lusa Cláudia Fialho, da APM. "Satisfação total só com 100% de positivas. Vamos continuar a trabalhar para ver se a aprendizagem dos alunos de facto melhora."
Os alunos - pelo menos a avaliar por uma ronda por escolas lisboetas feita ontem pelo DN - foram os que menos se preocuparam com estas flutuações. Apesar da percentagem elevada de negativas, foram raras as situações em que os 30% de peso das provas chegaram para afectar decisivamente a nota final a estas disciplinas e muito menos para pôr em causa a passagem de ano. De resto, houve quem confessasse ter abordado as provas com... descontracção: "Para passar, podia ter 2 no exame de Português e 1 no exame de Matemática, por isso nem me dei ao trabalho", disse ao DN Tiago Pires, 16 anos. "Não vou estudar só para ter melhor nota, não é?"
No total, 92 144 alunos fizeram os exames de Português e 92 217 as provas de Matemática.
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O MEU COMENTÁRIO
Dos resultados dos exames nacionais do 9º ano nas Disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática, bem como das diversas reacções aos mesmos, resultou para mim o que de seguida se poderá ler.
- Tendo o número de alunos "chumbados" a Português duplicado, para o secretário de Estado da Educação tais resultados "...pioraram um pouco" mas encontram-se "...dentro do intervalo esperado".
Isto é dizer que 46% de classificações negativas em Português eram perfeitamente esperadas pelos senhores governantes. Ora, num simples raciocínio, chegar-se-á facilmente à conclusão que os 23% do ano passado foram um resultado óptimo para os mesmos governantes. Assim sendo, poder-se-á igualmente concluir que o dobro das negativas agora verificado só pode ter a ver com a política brilhante e acertada seguida pelo Ministério da Tutela. Claro fica que o intervalo previsto para este ano se situaria entre os 23% e os, digamos, 50% de resultados negativos. Não houve, pois, qualquer desvio relativamente às projecções governamentais.
O governo, pela voz de um seu secretário de Estado, vem dizer-nos deste modo que a sua política educacional está certa e recomenda-se. Compre quem quiser!
- Depois, outro senhor referido no DN como "adjunto do ME", afirma que as declarações do secretário de Estado haviam sido proferidas " ...num determinado contexto" e que o mesmo secretário, afinal, estava descontente com os resultados.
Malvados jornalistas que retiram textos dos contextos sem antes avisarem que o que foi dito não foi o que queria ser dito e, portanto, sem fazerem uma ressalva que poderia ser assim:
AVISO AOS LEITORES - O que vamos publicar não foi revisto à luz do contexto. Assim, se algum distinto membro do governo achar que não disse o que aqui dizemos que disse, é favor negar e invocar a falta de rigor do jornalista que não pediu ao entrevistado para ter cuidado com o que dizia, nem para ver bem se aquelas palavras seriam avisadas, se não lhe prejudicariam a carreira tão promissora... e outos cuidados mínimos de protecção fraterna ao entrevistado governante. Mais se avisa que, se por qualquer motivo o senhor governante não pretender ter a maçada de invocar a falha do jornalista, poderá sempre enviar recado por um senhor adjunto.
- Quanto à reacção da Associação dos Professores de Português, esta conclui que os resultados foram "significativamente mais fracos", o que só abona a seu favor em matéria de Aritmética. De resto, as considerações da sua representante falam por si e enviam tudo para análise.
- A outra Associação de Professores, teve o senso mínimo de reagir moderadamente à ligeira quebra do número de resultados negativos, alertando para a necessidade de se continuar a trabalhar na causa da Matemática.
- Por fim, mas nada dispicienda e antes bastante significativa, vem publicada a reacção despreocupada e descontraída de um aluno entre vários que terão emitido opiniões em tudo semelhantes.
Belo retrato da Educação que temos em Portugal, onde há 25 anos atrás se saía da Escola Primária a saber ler e escrever com poucos erros, a saber que Camões não foi um rei de Portugal e que o Mondego é um rio que passa em Coimbra.
E nem digo aqui o que um aluno sabia quando terminava o 5º ano dos Liceus, o que hoje equivale ao 9º ano!
Alegremente, pelos vistos, continuam os responsáveis pela Educação do Povo português a achar que o que têm legislado está correctíssimo e de acordo com as necessidades dos cidadãos.
Eles lá terão as suas razões ! Um povo ignorante é, sem dúvida, mais dócil e colaborante!
O Governo desse povo é que será tudo menos um governo democrático e o Estado nunca se poderá designar como "Estado Democrático".
Mas, afinal, o que saberão disto estes novos gestores da miséria?
JorgeP.G. 13-07-2006