A FACE MENOS VISÍVEL DE MAOMÉ
Em Março de 624, Maomé, que pertencia ao clã Hashim, liderara uma tropa de assalto de cerca de 300 homens a uma caravana vinda de Meca, liderada por Abu Sufyan, líder do clã hostil Umayyah.
Maomé em Medina - extraído de uma miniatura persa do séc.XI
A 15 de Março de 624, próximo de um lugar chamado Badr, as duas forças colidiram. Apesar de serem apenas 300 contra 800 em batalha, os muçulmanos tiveram sucesso, matando pelo menos 45 naturais de Meca. Para os primeiros, isto pareceu ser uma prova da profecia de Maomé, e este e os muçulmanos festejaram, tendo-se todos os habitantes de Medina virtualmente convertido e Maomé tornado, de facto, o governador da cidade.
Então, a 21 de Março de 625, Abu Sufyan, em busca de vingança, entrou em Medina comandando um numeroso exército. Na manhã de 23 de Março começou a luta. A batalha não produziu um vencedor ou perdedor óbvios, apesar de os de Meca clamarem a vitória.
No deserto árabe, em redor do monte Ohod, 5Km a norte do oásis de Medina, o profeta Maomé e o seu pequeno exército de fiéis foram atacados por vários milhares de homens (de 3 a 10 mil) vindos de Meca.
Os habitantes de Meca são comandados por Abu Sufyan (Abou Soufyân ibn Harb). No monte Ohod a sua cavalaria coloca em grandes dificuldades os muçulmanos, e Maomé é mesmo ferido nos combates.
Crendo-o morto, Abu Sufyan retira-se para entrar em Meca triunfalmente, sem tentar tomar de asslto o oásis de Medina.
Maomé, por seu lado, aproveita para reafirmar a sua autoridade sobre Medina.
Segundo o islamólogo Maxime Rodinson, este dia 21 de Março no monte Ohod marcou o nascimento do primeiro estado muçulmano no mundo.
Mais tarde, em 11 de Janeiro de 630, Maomé entrou em Meca liderando 10 mil homens. Sem efusão de sangue, dirige-se à Kaaba ( o santuário de todos os árabes), golpeia os ídolos nos olhos (!) e ordena que sejam destruídos antes de regressar a Medina.
E em 10 de Março de 632, pouco antes de morrer, o profeta faz uma peregrinação de três dias à Kaaba, já despojada dos antigos ídolos.
Montado no seu camelo, Maomé completou os circuitos rituais, tocando a Kaaba com o seu bastão. Depois, recomendou aos seus fiéis que deveriam realizar, ao menos uma vez na vida, uma peregrinação semelhante.
Breve notícia das suas origens
Maomé na Gruta das Revelações - gravura turca do séc.XV
Maomé foi um líder religioso e político árabe. O seu nome completo é: Muhammad (Maomé) Bin Abdullah Bin Abdul Mutalib Bin Hachim Bin Abd Manaf Bin Kussay.
Nascido possivelmente a 20 de Abril de 570, pouco depois da morte do pai Abd Allah, Maomé pertenceu àquilo que hoje classificaríamos como uma família de classe média. Inicialmente, ficou a cargo do avô paterno Abd al-Muttalib, um antigo líder do prestigioso clã Hashim (que fazia parte da tribo dos Quraysh). Aparentemente porque o clima de Meca tinha uma reputação de ser pouco saudável, a família entregou-o aos cuidados de uma ama-de-leite chamada Haleemah, de uma tribo nómada, tendo passado algum tempo no deserto.
Com seis anos, Maomé perdeu a mãe, Amina, e com oito anos o avô Abd al-Muttalib. Maomé passou então para os cuidados do seu tio Abu Talib, o novo líder do clã Hashim - o mais poderoso de Meca.
Meca que era, nessa altura, uma cidade-estado no deserto, cujo principal monumento era a Kaaba, supostamente construída por Abraão, o antepassado de Árabes e Judeus (e desde logo dos Cristãos). A maior parte dos habitantes de Meca adoravam ídolos. Apesar de a cidade não possuir recursos naturais, ela funcionava como um centro comercial, visitado por muitos comerciantes estrangeiros.
A morte do profeta ( na foto, o seu túmulo em Medina, numa cerâmica do séc.XVI presente no Museu islâmico do Cairo )
Faleceu aos 62 anos, em Junho de 632 em Medina, na sequência de febres dolorosas, deu origem a uma grande crise entre os seus seguidores. Na verdade, esta disputa acabou por originar a divisão do Islão entre as seitas Sunitas e Xiitas. Os Xiitas acreditam que o profeta designou Ali Ibn Abu Talib como seu sucessor, num sermão público na sua última haj, num lugar chamado Ghadir Khom, enquanto que os sunitas discordam.
Tendo conseguido a unificação da península árabe, Maomé não deixou nenhum filho suspeptível de lhe suceder à frente dos crentes, já que das nove mulheres legítimas apenas nasceram filhas, uma das quais, Fátima, casaria com Ali, o quarto dos califas.
O HOMEM
Deixou a imagem de homem enérgico mas também compenetrado da sua missão divina, que o anjo Gabriel lhe havia revelado nas suas aparições.
Ele próprio negou ser poeta visionário e julgou-se incapaz de inventar por si próprio algo de comparável ao Corão. Reconheceu-se falível e em nada diferente dos outros homens. Foi um guerreiro a quem matar não repugnava. Amou as mulheres e não o escondeu. Consagrou largo tempo à oração e desdenhou as riquezas deste mundo.
Maomé teria sido analfabeto. O próprio Corão assim o diz (Surah 7.157-8) e a generalidade dos teólogos confirma-o, mas também há quem o refute.
Fonte: "Mahomet et les débuts de l'Islam" - Alban Dignat
Tradução, adaptação e texto - Jorge G.
Imagens - recolhidas na fonte
Publicação nº 555 - J.G.