quarta-feira, 2 de maio de 2007
Adriano, O Trovador
Quando se fala de "cantores de intervenção" ou de "canto livre", ou então de "baladas", vem logo à tona o nome inesquecível do que terá sido para quase todos o maior, o melhor intérprete de entre eles, José Afonso. Todavia outros houve que, com a sua arte e persistente coragem, muito contribuíram para uma regeneração da Canção no Portugal do início dos anos 60 e usaram a música e a voz, ou como uma arma ou para a divulgação dos nossos melhores poetas junto do povo inculto que éramos, ou ainda na recolha e no cantar de velhas cantigas populares. A. C. Oliveira foi, sem dúvida, o 2º maior de todos. Votado a um esquecimento inexplicável, de Adriano pouca gente com menos de 40 anos será capaz de conhecer mais do que o nome e muito vagamente recordará alguma das suas canções. Trovador de corpo grande enfiado numas calças e camisola, cantando ao vento e às gentes por esse país fora, aqui o recordo, aquele de quem Manuel Alegre em plena Assembleia da República disse aquando da sua morte: "Foi o mais corajoso de todos." Deixo-vos aqui, não uma "canção de intervenção", mas outra de um género em que Adriano será porventura menos conhecido: a música tradicional portuguesa.
Deus te salve, Rosa linda Sarafina Tão linda pastora que fazes aí? Que fazes aí, de noite c'o gado? Mas que quer, Senhor, nasci pr'a este fado. De noite c'o gado, corre grande p'rigo Quere a menina venir-se comigo? Não, não quero, não, tão alto criado de meias de seda sapato delgado. Sapatos e meias tudo romperei por amor da menina a vida darei. Vá-se ó magano Não me cause mais ódio Que há-dem vir meus amos Trazer-me o almoço. Se há-dem vir seus amos Isso é o que eu gosto Quero que eles saibam Que eu falo com gosto.
Adriano Correia de Oliveira
Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira nasceu no Porto, a 9 de Abril de 1942. Aos 17 anos matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, mas nunca chegou a acabar o curso. Adriano nasceu e viveu num meio familiar tradicionalista e católico. Com poucos meses de idade foi residir para Avintes, na Quinta de Porcas, onde viveu também os seus últimos dias. Ali fez a instrução primária e, depois, no Porto, o curso dos liceus, no Colégio Almeida Garrett e no Liceu Alexandre Herculano. Em Avintes iniciou-se no teatro amador e colaborou na fundação da União Académica de Avintes. Iniciou-se também na prática do voleibol - beneficiando dos seus dotes atléticos e da sua altura - e mais tarde, já em Coimbra, foi campeão nacional desta modalidade.Nesta cidade Universitária desenvolveu grande actividade nos organismos estudantis da Academia: cantou e foi solista no Orfeon Académico, fez parte do Grupo Universitário de Danças Regionais e integrou o CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra) onde representou várias peças. Chegado a Coimbra, Adriano Correia de Oliveira cedo se evidenciou na Academia, quer através da sua intervenção cultural e política, quer através da prática desportiva. A sua primeira ambição musical, com 17 anos de idade e ainda "caloiro", foi a de tocar viola eléctrica no Conjunto Ligeiro da Tuna Académica, do qual faziam parte José Niza, Daniel Proença de Carvalho, Rui Ressurreição, Joaquim Caixeiro e outros. Como José Niza já "ocupava" o lugar de guitarrista, Adriano abandonou a ideia e dedicou-se ao canto, iniciando-se naturalmente pelo Fado de Coimbra, tendo gravado o seu primeiro disco - "Noites de Coimbra" - em 1960. Nessa altura vivia-se ainda em Coimbra uma das fases mais ricas da canção feita pelos estudantes, dominada pelas vozes de Luis Goes, Fernando Machado Soares, José Afonso e pelas guitarras de António Brojo António Portugal, Jorge Tuna, Jorge Godinho e Eduardo e Ernesto Melo. Adriano - embora não tendo sido contemporâneo, nos estudos, dos cantores referidos - conviveu com eles, sobretudo com José Afonso e Machado Soares, os quais, embora já fora de Coimbra, continuaram a manter uma ligação muito estreita com a vida académica e a influenciar os cantores estudantes dos anos 60, dos quais Adriano foi companheiro:Barros Madeira, Lacerda e Megre, Sousa Pereira, Vitor Nunes, José Mesquita, José Miguel Baptista, António Bernardino e outros.
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Publicação nº 357 - Jorge Sineiro
Sino tocado em
maio 02, 2007 -
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